Capítulo 1. O Primeiro Contato

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Chovia forte, e, sentada no parapeito da janela eu me perguntava quanto tempo mais eu aguentaria. Sem descanso ele me visitava, toda noite. Me obrigava a reviver milhares de vezes a minha desgraça e o sol parecia querer não aparecer, como se o ajudasse a permanecer ali me atormentando.

A chuva, ao menos ela, me ajudava. Os estrondos dos trovões me mantinham acordada e evitavam que toda a casa caísse no retumbante silêncio que o atraía para mim. Ao mesmo tempo que a luz ofuscante dos relâmpagos constantes iluminavam a parte escura do quarto, evitando assim que ele se aproximasse.

Lembro-me de gostar do silêncio, que me abraçava como se fossemos velhos amigos - eu nunca tive muitos amigos; nunca fui muito comunicativa, pelo contrário, quanto menos eu falava mais confortável eu me sentia. Até que tudo mudou, bom, nem tudo, afinal eu ainda não costumo trocar muitas palavras, mas prefiro, agora, ambientes barulhentos e que me impeçam de fechar os olhos; porque a cada vez que eu o faço, ele vem, impiedoso e devora um pedaço de mim. Temo que na próxima vez que meus olhos se fecharem eu deixe de existir.

A primeira vez que o vi estava no meu quarto, no espaço entre a porta e o guarda-roupas, onde a luz não chegava. Achei que fosse a sombra de um casaco qualquer que eu havia deixado fora do lugar ou a sombra de um galho, que se projetava através da janela, então apenas virei para o outro lado na cama e voltei a dormir. Grande erro, pois minha ação foi interpretada como um convite, para que toda noite ele viesse, velar meu sono.

Sua aproximação fora lenta, quase imperceptível, assim como sua presença naquele canto escuro. Mas eu notava, a cada noite mais perto ele ficava e mais medo sua aproximação me inspirava. Eu tentei afastá-lo, antes de me deitar eu vasculhava meu quarto, no vão do guarda-roupas, dentro do armário, embaixo da cama, lá fora, naquele galho de árvore muito proximo a minha janela. Me certificava de as que portas e janelas estivessem devidamente trancadas, mas isso não o impedia de se aproximar de mim, de entrar no meu quarto, e de ficar me observando, cada vez mais de perto.

Cheguei a pensar que estivesse sonhando - ou alucinando talvez - eu poderia ter batido a cabeça com muita força enquanto dormia, quem sabe. Tentei me convencer de que aquilo não era real, era apenas coisa da minha imaginação muito fértil como minha mãe costumava dizer - me pregando peças, só poderia ser. Afinal fantasmas não existem, eu repetia, criaturas da noite tampouco. E mesmo que alguma coisa do tipo existisse, não estaria ali, num canto do meu quarto, perdendo o seu precioso tempo de assombrar comigo, não é mesmo?

Eu estava enganada, ele continuava vindo, a cada noite mais perto. Mas, por mais próximo que ele estivesse eu não conseguia ver seu rosto - talvez ele apenas não tivesse um - tampouco descobrira quem ou o que ele era de fato. Minhas únicas informações a seu respeito eram que ele aparecia durante a noite, somente quando o silêncio tomava conta do ambiente e nenhuma luz o pudesse revelar. E que de alguma maneira ele se aproximava e eu podia sentir o peso da sua respiração no ar, não que ele precisasse do ar de fato, ele o fazia pois sabia que eu o sentia dessa forma e ele adorava me ver encolhida de medo na minha cama, essa era a diversão dele, e isso me mortificava.

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⏰ Última atualização: Jan 22, 2021 ⏰

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