Enquanto somos pinscheres

314 32 77
                                    


3 meses depois


São as melhores batatas fritas de Boston, George e eu fomos em tipo, quase todo os restaurantes daqui e não encontramos melhores — Nina tagarelava no outro lado da linha para mim enquanto eu entrava no apartamento, fazendo um grande esforço para manter o celular entre meu ombro e minha bochecha e segurar firme as sacolas em minhas mãos.

Claro, vai ser ótimo — Falei a ela que mesmo com meu tom seco, continuou a falação. Eu realmente lutava todo os dias para aceitar o jeito de Nina, mas ela havia me ligado há mais de 1 hora para dizer apenas uma coisa e já tinha dado volta no assunto 20 vezes. Tive que fazer compras com ela papeando sem parar comigo no celular.

E também tem um fliperama vintage muito legal. Quer dizer, dá pra fazer tipo umas mil coisas lá. Eu mal posso esperar. Você está ansiosa? Com que roupa você vai? Agora está calor, mas você sabe, Boston é totalmente inconstante, acho que vou levar um casaquinho e...

Nina! — Dei um gritinho se não ela não iria me ouvir. Parece que deu certo afinal, pois pela primeira vez em 1h e 10 minutos, a ligação ficou em silêncio — Eu estou muito ansiosa também mas preciso guardar a compra e começar a me arrumar. Nos vemos daqui a pouco, tá bem?

Tudo bem, tudo bem — Ainda que explicitamente cortada, ela ainda continha animação em sua voz — Vou ligar para o George agora, te mando mensagem quando estiver saindo, ok?

Ok.

Se anime, America.

Pode deixar.

E vá bem gata.

Tchau Nina — Levei meu dedo ao botão de desligar, sem deixar de ouvir um último chiado que dizia "Você precisa desencalhar".

Rolei meus olhos deixando o celular em cima da mesa, mas ri ainda sim.

Depois de praticamente 3 meses dando bolo em Nina para sair, hoje eu não tinha como escapar. Ouvi-a falar sobre esse tal de "Domos" quase todos os dias na hora do almoço. Um restaurante-clube, localizado no segundo centro de Boston e, aparentemente frequentado em massa por jovens-adultos.

Eu sabia que precisava sair, esfriar a cabeça, pensar em outras coisas. Mas parecia que minha vida estava dividida entre A.C/ D.C = Antes Casamento e Depois Casamento.

As primeiras semanas foram longas e reflexivas demais. Olhava as fotos que Marlee postava da cerimônia e da lua de mel, e um sentimento bom mas solitário me invadia. Às vezes, antes de dormir, eu até chegava a pensar "Será que isso aconteceu mesmo?"

Maxon estava em meus pensamentos, como alguém que vai e volta do nada. Volta no meio do trabalho, fazendo uma caminhada, cozinhando, conversando com outra pessoa... eu não tinha controle. E foi justamente por conta disso, que preferi me isolar num primeiro momento para deixar que o sentimento se esvaísse aos poucos.

Depois de um mês, eu ainda estava em "dilema", entretanto, calma. Dei lugar para a saudade, e não ao incômodo. Eu consegui fazer aos poucos do casamento, uma lembrança boa, um pouco soturna, mas boa ainda sim.

Após guardar minhas compras no armário da cozinha, fui para o quarto em busca de deixar minha roupa pronta. Não sei se era apenas "coisas de Nina", mas ela me dissera que era um lugarzinho descolado. Então para não aparentar uma adolescente punk gótica e nem uma vózinha, optei por um vestido justo preto que ia até minha panturrilha e uma sandália fechada da mesma cor, ela tinha um mini saltinho. Separei também uma jaqueta jeans para colocar por cima porque como Nina disse: Boston é uma caixinha de surpresas. Ou melhor, de temperaturas a 4º celsius inesperadas.

Sr. Maxon SchreaveOnde histórias criam vida. Descubra agora