A culpa é do vinho

33 0 0
                                    

— Caíque você pode desligar esse som só durante 5 minutos pra que eu possa pelo menos tentar me concentrar no meu trabalho?— Perguntei sem ter muita certeza de que ele iria ouvir, suspirei fundo e encarei a tela branca do meu computador. Já tinha duas horas que eu havia sentado nessa cadeira e nenhuma idéia vinha em mente. Ou se vinha provavelmente ia embora por causa do barulho.

—CAÍQUE!— Eu conseguia sentir os fios brancos crescerem no meu coro cabeludo.

O som tinha se encerrado e eu pesei meu corpo na cadeira, enrolei meu cabelo em um coque mal feito e fechei os olhos apreciando por alguns segundos o silêncio. Coloquei meus óculos e antes de clicar em qualquer tecla do computador, Caíque ligou o som e ele parecia incrivelmente cinco vezes mais alto. Levantei e bati os pés indo até o andar de cima onde encontrei ele tocando a guitarra enquanto ao mesmo tempo fumava um cigarro. Ele me olhou e sorriu parando de tocar.

— Baby! Veio elogiar o incrível músico barra namorado, barra cantor, barra compositor que você tem?— Auto estima de homem tinha que ser encapsulada e vendida em farmácia. Cruzei meus braços e forcei um sorriso pra ele.

— Na verdade eu vim pedir pra você parar com esse som todo um pouco, Caíque eu não consigo trabalhar já tem duas horas que eu estou tentando começar.— Ele tirou a guitarra do corpo e apagou o cigarro no cinzeiro que estava em cima de uma caixa de som. Sorriu com aquele sorriso cínico e se aproximou de mim.

—Desculpa Baby, não sabia que meu trabalho legal estava atrapalhando o seu trabalho chato. Prometo tocar mais alto.— Dei um tapa em seu ombro e ele riu.— Po Di, eu também preciso praticar, tenho um show e você sabe o quanto ele é importante...

— O meu trabalho não é importante também?— Agora eu queria ver.

—Te respondo como namorado ou como Caíque sincero?— Idiota!

— Bom eu esperava que o Caíque meu namorado fosse o Caíque sincero também.

— Qual a graça de ficar escrevendo biografia?— Meu sangue começou a ferver e eu sabia que teríamos a mesma conversa que temos todas as semanas.

— Caíque biografia não é pra ter graça, não é stand up comedy. Meu trabalho é registrar histórias, deixar memórias de memórias reais...bom,no seu caso eu menti quase noventa porcento do livro mas a maioria são histórias reais. E são elas que pagam minhas contas, e você sabe o quanto eu amo escrever. Você que fica aí o dia todo fumando e fazendo barulho, parece um selvagem que eu peguei pra adestrar.— Pronto falei, e não tinha como voltar atrás mais, agora era até o fim,ou pelo menos até eu sair certa e de queixo erguido.

— Meu show de selvagem me deu essa casona enorme, pilhas de dinheiro e lindas mulheres...— me fez uma careta sacana e eu abri a boca chocada com a audácia dele.

Eu pensei em responder mas eu senti aquela sensação de novo, já fazia meses que eu havia terminado meu antigo relacionamento e todas as vezes que brigávamos essa sensação me aparecia, e com Caíque ela estava retornando. Até a cara do Caíque que antes me fazia molhar calcinha estava me dando tédio. Ele parece ter percebido meu silêncio, mas também não falou nada, apenas me olhava.

— Eu to pensando nisso também.— Simplesmente soltou e eu senti meu coração perder uma batida em falso.

— Foi legal pelo menos.— Sorri torto lembrando dos nossos momentos, da noite que ele tocou aquela música pra mim no seu show, e beijou outra garota no fim. Da sua declaração inesperada na divulgação da sua biografia, que gostaria de deixar claro aqui que foi um puta sucesso, eu sou foda.

— Foi.— Pegou sua guitarra e botou de novo no pescoço.— Você me fez amadurecer muito, e eu nunca mais vou ter alguém como você.— Sorri boba.— Pelo menos eu espero que não.— Voltou a tocar sua guitarra e eu tampei os ouvidos e bufei saindo dali, deixando ele tocar no seu único grande e verdadeiro amor.

{Depois De Você}Onde histórias criam vida. Descubra agora