Lá está ela: alva como a claridade da lua. Penso que é exatamente como havia sonhado que fosse. Com o rosto imprensado contra o vidro, me dou conta: esperava toda uma vida que ela chegasse. Sem ser premeditado, ao acaso. E fora um bênção tê-la aceitado, sem muitas perguntas, oque já fora suficiente, pois dera o direito à vida.
A enfermeira lhe dá banho e ela nem chora. Ainda tem sebo por toda a pele e seu aspecto é bárbaro, de cria parida na floresta ou em alguma caverna de mãe-ursa. Mesmo assim é linda, e já se pode prever que terá os cabelos loiros, pois a penugem dourada brilha à luz do berçário. Também penso, nessa hora mágica, que seus olhos serão azuis, iguais aos da mãe, aqueles olhos que me conquistaram desde a primeira vez em que mergulhei na sua profundeza de mar aberto. E murmuro, suave, ardendo de vontade de tê-la em meus braços, ela é parte/ pedaço de mim: -Mahara!
Como se estivesse ouvido, ela começa a chorar. E se debate de leve, nos braços da enfermeira que sorri, enquanto acaba de tirar todo o sebo do frágil corpo. Depois começa a pentear a menina... Menina! Me me dou conta, em ondas de alegria que nasceu minha filha!
- Com licença! - Alguem me empurra de leve sugerindo que não sou o único pai do pedaço. Cedo meu lugar no vidro, muito a contragosto. O outro, um rapaz muito jovem, decerto primeiro filho, tem olhos brilhantes. Contempla a meninazinha vestida de amarelo, sorri pra mim:
- Seu bebê?
- Ah, sim, todo meu. - respondo e ambos rimos. Puxo conversa com ele e fico sabendo que é pai do menino logo à nossa frente, um garotão forte no xale amarelo.
- Mania que as mães têm de vestir os bebês de amarelo. - comento.
- Para dar sorte. - replica o outro, enquanto também olha o filho, embevecido. - É o meu primeiro. - diz ele.
- Percebe-se. - rimos novamente.

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Sempre haverá um amanhã.
Historical FictionDaniel e Samanta têm dois filhos. Quando chega Mahara, a filha tão esperada, ele principalmente não se contém de tanta alegria. A menina parece saudável e é linda. Apenas demorou um pouco para chorar ao nascer. Aos poucos, porém, a família percebe q...