Rarefeito [HashiMada]

Capítulo Único

Sentado no corredor externo, Hashirama lia calmamente o pergaminho escrito pelo Mizukage.

O som da água correndo na fonte e o barulho dos passarinhos eram relaxantes e, ainda que tivesse de trabalhar em seu dia de folga, não se sentia irritado. A calmaria da casa e do jardim com bonsais bem aparados parecia varrer seu estresse para longe, de modo que cumprir suas obrigações burocráticas de Hokage tornara-se apenas mais uma atividade qualquer daquele dia.

Ouviu passos atrás de si, mas não se virou. Mito estava fora, visitando a família em Uzushiogakure, ainda assim, ele sabia exatamente quem estava ali.

A única pessoa que ousaria entrar na casa do Hokage sem ser anunciada. Nem mesmo Tobirama o fazia, pois tinha o mínimo de etiqueta e educação, diferente de seu visitante.

— Ainda não posso acreditar que você é o Hokage.

Olhou por cima do ombro. O homem alto tinha as mãos pousadas na cintura e o olhava de cima de forma arrogante, cabelos negros caindo como uma juba nas costas.

— Madara. — cumprimentou-o singelamente.

— Konoha será conhecida por ter o líder mais paspalho de todo o mundo ninja. — resmungou enquanto cruzava os braços.

— É bem capaz. — foi a resposta que recebeu. Hashirama tinha um sorriso divertido nos lábios. — Mas, por enquanto, está tudo correndo bem. Precisava falar com você sobre—

— Não estou aqui para ajudá-lo com a governança.

O Senju estreitou as sobrancelhas, estudando o homem no aposento. Madara estava muito sério.

— Ah, não? A que devo a honra de sua visita, então? — indagou. Pousou o pergaminho ao lado, concentrando toda sua atenção no Uchiha. Viu-o suspirar longamente, aproximando-se do shoji aberto.

— Queria ter uma conversa.

Hashirama estava achando tudo aquilo muito estranho. Estreitou os olhos, estudando-o com curiosidade, mas Madara não entregava nada com seus olhos escuros. Apenas ficou ali, misterioso e intocável como sempre era, até que falou:

— Como anda a brincadeira de casinha? — um brilho jocoso dançava nas íris negras.

— Está com ciúmes?

Ouviu-o soltar um riso de escárnio, dedos traçando lentamente as finas divisórias de madeira do shoji, sem fitá-lo.

— Nós dois sabemos que Mito prefere mulheres. — falou. — O mais perfeito e conveniente casamento de fachada... Um belo teatro. Até quando pretendem levar isso adiante?

— Para sempre. — sobrancelhas escuras se franziram. Quando estava sério, o Senju tinha um aspecto muito solene. — Pare de falar sobre Mito, você sabe que eu a adoro. É uma mulher incrível.

— Ela é. — Madara concordou, cruzando os braços em frente ao corpo. — O que não impede o casamento de vocês de ser uma farsa patética. Um olhar mais minucioso e qualquer pessoa perceberia.

— Tem sido bastante convincente, se quer saber.

— É realmente sorte de vocês que todos na vila estejam tão cegos. Estão apenas felizes com a união entre as Vilas Ocultas mais poderosas e, não posso negar, vocês formam um belo casal. — por mais que o Uchiha gostasse de Mito, havia sempre um tom de cinismo por trás de toda frase proferida. Hashirama estava ficando farto daquela conversa. — Como andam as coisas na cama, aliás?

A acidez das palavras de Madara seria insuportável para qualquer outra pessoa, mas o Senju havia aprendido a ignorá-la com maestria.

— Pretendemos ter um filho em breve.