Capítulo Único

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Minhas mãos seguravam com firmeza a delicada taça de champanhe, já pela metade. Talvez eu não devesse ter começado a beber tão cedo. Talvez eu devesse ter esperado o brinde à meia-noite. Mas o meu desconforto era tamanho que eu não pude resistir à bebida especial e fina que a família Leclerc escolhera para a celebração do ano novo. Aquela era a primeira vez que eu estava convivendo com a família do meu namorado por mais do que a duração de um jantar, embora estivéssemos juntos há mais de dois anos, e isso não era por acaso. Eu tinha plena consciência de que eles não aprovavam o meu relacionamento com Charles, apesar de nunca terem dito isso diretamente, mas eu não era idiota, e nem surda. Eu sabia da insistência deles para que Charles voltasse com uma antiga namorada porque achavam que ela era melhor do que eu, já escutara algumas vezes comentários sussurrados sobre eu ser "só uma garota do interior da California", ainda que, aos 23 anos, eu já tivesse alcançado um dos patamares mais altos da minha carreira de jornalista.

Era fato que Charles e eu não estávamos exatamente vivendo um mar de rosas nos últimos meses. O relacionamento à distância não era mesmo nada fácil, e com a minha promoção no jornal e a ascensão da carreira de Charles na fórmula 1, a pressão profissional ficava cada vez maior para ambos, e o resultado foi não termos dado espaço suficiente para o nosso relacionamento progredir. Do começo do nosso namoro, quando tentávamos nos ver pelo menos duas vezes por mês – o que já era complicadíssimo, com os meus compromissos na Califórnia e as muitas viagens de Charles por causa das corridas – passamos a nos encontrar cada vez menos naquele último ano. Discussões acaloradas por motivos insignificantes tinham se tornado cada vez mais constantes, especialmente quando havia álcool envolvido, e os momentos que passávamos juntos pareciam ter se tornado mais uma obrigação do que por prazer.

Em algum lugar do meu subconsciente eu já sabia disso, mas a percepção do que estava realmente acontecendo me atingira apenas algumas semanas atrás, durante o último evento de um patrocinador no qual acompanhei Charles. Regado a muito glamour, sorrisos falsos e, claro, champanhe, eu agi no piloto automático durante toda a noite, até que Charles me tirou para dançar e, ao deitar a cabeça em seu ombro, me dei conta do quanto eu desejava estar em qualquer outro lugar que não fosse ali. Eu costumava adorar a sensação do meu corpo colado ao dele, sua mão cálida envolvendo a minha com delicadeza, mas que naquele dia era como uma prisão, reforçando a sensação de que eu tinha de estar ali apenas para cumprir um dever. Deslizei os dedos para longe do calor da mão de Charles, deixando o braço cair apático ao lado do corpo, a sensação de torpor do álcool começando a tomar conta e formando um nó na minha garganta. Não segurei mais a mão dele durante aquela noite, sentindo o abismo entre nós se alargar mais alguns metros.

A relação começava a ficar desgastada e, mesmo tendo certeza absoluta de que tanto eu quanto ele queríamos muito fazer dar certo, parecia que tínhamos entrado num beco sem saída e não sabíamos mais o que fazer. Somado a tudo isso, saber da objeção da família de Charles me desmotivava cada vez mais. Dei mais um longo gole no meu champanhe, sentindo as bolhas fazerem cócegas no meu nariz e a sobriedade indo embora, sabendo que era exatamente aquilo que eu precisava para tolerar aquele momento, ainda mais depois do que eu escutara mais cedo naquele dia, e que deixara tudo muito mais difícil de suportar.

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Apesar do frio que fazia nos Alpes Franceses naquela época do ano, a casa da família Leclerc permanecia constantemente aquecida, como eu pude perceber ao colocar os pés descalços sobre o piso de madeira. Era a manhã da véspera de ano novo, e a celebração daquela noite ainda estava longe de começar, mas eu já desejava que acabasse logo. A casa estava muito silenciosa e, ao caminhar pelos corredores, consegui escutar a conversa entre Charles, sua mãe e seu irmão mesmo sem chegar muito perto da porta da sala. Foi ao ouvir o meu nome ser mencionado que congelei no meio do caminho, apurando os ouvidos para escutar o que eles estavam falando. Eu sabia que ouvir a conversa dos outros não era exatamente educado, mas infelizmente tinha esquecido as regras de etiqueta quando embarquei no avião nos Estados Unidos.

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𝑐𝘩𝑎𝑚𝑝𝑎𝑔𝑛𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑏𝑙𝑒𝑚𝑠 || ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄOnde histórias criam vida. Descubra agora