Borderline

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"E assim podemos concluir que as experiências vividas na primeira infância têm um papel fundamental na formação do “self”, sendo estas diretamente influenciadas pelo contexto sócio-econômico e cultural em que o infante se insere, moldando, portanto, sua identidade imutável, ao passo que esta por sua vez também interfere na criação da identidade mutável. Por hoje é só, turma, nos vemos na semana que vem."
Chloe estranhamente não estava prestando atenção aquela aula, o que espantaria qualquer um que conhecesse a jovem de dezessete anos. Psicologia sempre foi o curso dos sonhos, e trabalhar com crianças era a sua meta de vida, por isso as aulas de comportamento infantil do sr. Finnigam eram as preferidas da garota – mesmo estas sendo absurdamente chatas. Se despediu brevemente de Alex e Marie, seus amigos mais próximos desde o inicio deste primeiro período na universidade. Caminhou até a saída incomodada com os olhares dos alunos que passavam à sua frente. Tinha a impressão de que estes sabiam de toda a verdade sobre sua vida. Não é como se ela estivesse cometendo um crime ou algo assim, o problema é que o falso moralismo dos outros os cegava para assuntos mais importantes ao seu redor. Por que é que ao invés de prestar atenção aos alunos que realmente passavam dificuldades por ali eles insistiam em cuidar de sua vida? Decidiu parar de se preocupar com esses assuntos, porque hoje era um dia especial. Iria se encontrar com ele de novo, depois de quase um mês mantendo contato apenas por internet e telefone. A cada vez que a expectativa do encontro surgia em sua mente, os joelhos tremiam, as mãos suavam, e o coração disparava. Algo bem no seu íntimo fazia piada com essas reações exageradas, e parecia querer alertar sobre algum tipo de perigo ao mesmo tempo.
"Impossível." ela mesma se respondia em pensamento "Deixe de ser estúpida, Chloe. Você NÃO está apaixonada por ele. É só atração física. Tesão. Sexo. Química. Somente isso."
Despertou da batalha interna quando alguém esbarrou forte em seu ombro no metrô. Estava parada feito uma idiota na frente da segunda catraca, impedindo a passagem das pessoas que lhe lançavam olhares mortíferos ao se dirigirem para as outras catracas livres. Rapidamente pegou o cartão de estudante no bolso frontal da mochila e andou depressa, entrando no trem que acabava de chegar à estação. Pôs os fones de ouvido e deu play no modo aleatório. Os primeiros acordes de “Seventeen” inundaram seus ouvidos, fazendo seu estômago congelar. Odiava o humor ácido que o destino usava consigo às vezes. Encarou a tela do celular pensando em pular para a próxima faixa, mas não conseguiu. Logo estava batendo levemente o pé no ritmo da música, enquanto cantarolava baixinho “I’m only seventeen. I’ll show you love like you’ve never seen…”. Seria capaz de jurar que ele havia escrito a bendita música para ela, se esta não tivesse sido gravada anos antes de a garota nascer. Alguns minutos se passaram e lá estava ela entrando na lanchonete combinada. Ainda da porta, reconheceu os cabelos e a jaqueta. Teve vontade de pular no seu pescoço e começar os amassos ali mesmo, mas controlou o impulso. Enfiou as mãos no bolso do enorme casaco de moletom bordado com o nome da faculdade, respirando fundo ao se aproximar dele.
"Hey!"
"Chloe! Oi! Achei que você ainda fosse demorar um pouco."
"É, a aula acabou alguns minutos mais cedo. Como você está?"
"Bem. Um pouco cansado por causa da viagem. Me desculpe por não ter ido te buscar na faculdade."
"Não tem problema. Eu até prefiro assim. É mais discreto." a garçonete veio anotar os pedidos, olhando muito para o moreno. Talvez estivesse o reconhecendo, mas envergonhada demais para perguntar. Era sempre assim.
"Então o senhor quer um sanduiche de rosbife com batatas e coca-cola. E a sua filha?" sorriu simpática, tentando ser engraçada, ao encarar a menina sentada em frente ao homem, que mantinha a seriedade.
"Não sou filha dele."
"Ela não é minha filha." disseram ao mesmo tempo. A mulher ficou mais vermelha que um tomate, murchando instantaneamente o sorriso.
"Me desculpe! E-Eu pensei... Er... O que a senhora vai pedir?"
"Quero um sanduíche de frango com queijo e um refrigerante de limão."
"Certo… Hm, okay." Chloe quis estrangular o homem a sua frente quando notou a expressão divertida em seu rosto. 
"Qual a graça, Charles?" perguntou carrancuda ao que a mulher se afastou.
"Oh, Deus, você me chamou de Charles... Isso não é bom."
"O que não é bom é você ter uma crise de riso toda vez que acham que sou sua filha!"
"Não precisa exagerar, Chloe. Só acho curioso quando as pessoas deduzem isso apenas por causa da idade. Você nem é parecida comigo."
"Isso me irrita. E você sabe muito bem, Charlie."
"Ah, que bom! O Charlie voltou!" gargalhada aliviada dele a fez se esquecer um pouco a raiva. Será que sempre gargalhara tão encantadoramente assim? Talvez a saudade estivesse fazendo ela admirar mais esses pequenos gestos.

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⏰ Última atualização: Feb 07, 2015 ⏰

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