ISAAC ASIMOV
FUNDAÇÃO
Trilogia
FUNDAÇÃO FUNDAÇÃO E IMPÉRIO SEGUNDA FUNDAÇÃO
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PREFÁCIO
Uma obra de ficção implica geralmente em um pouco mais que saber escrever bem. O conhecimento científico é desejável, mas, acima de tudo, o que importa é imaginação. Isaac Asimov talvez seja o maior polígrafo de nossa época, pelo menos e como registra a 115.a Edição da Enciclopédia Galáctica, e seus trabalhos se estendem desde obras de vulgarização cientifica, como O Corpo Humano e O Cérebro Humano em que um estilo leve e vivo estabelece um estudo completo do animal "Homo Sapiens", até os altos vôos de imaginação em que todo um novo Cosmos é construído, na trilogia que é atualmente um clássico: Fundação. Os críticos literários normalmente afetam um total desconhecimento das obras de ficção cientifica, pretendendo com isso afetar uma ausência de conteúdo artístico neste gênero de literatura. Talvez tenham cometido aí mais um engano. Entre outras coisas, qualquer manifestação através de qualquer classe de signos comporta uma apreensão e decodificação por parte de quem os recebe. Aí, é evidente, no processo de decodificação é que reside a maior ou menor dose de eficiência do autor, isto ê, se digo "laranja", duas possíveis interpretações, pelo menos, podem ser dadas: o fruto ou a cor. E claro que o sistema de codificação pode variar, mas sempre é importante e mesmo indispensável a presença daquele que se vê frente ao símbolo. Neste caso, temos aqui um universo que se sente subitamente desnudado pelos psicohistoriadores, que são homens que aplicam a probabilidade a história. Vários problemas ligados ao conhecimento podem ser colocados aí: em que medida um fenômeno histórico pode ser alterado por esta ou aquela ação, que significância pode ter, por exemplo, o choque de um meteorito em termos da história de um povo? Alguns dirão que nenhuma influência poderá ter uma circunstância tão fortuita, a menos que chegue a destruir o arsenal, ou mesmo a sede do governo de um país. Mas que dizer da pedra negra da Mercaba, a que acorrem milhões de peregrinos todo ano? O universo que aparentemente se mostra tão concreto e tão familiar ao homem começa a perder a sua consistência, e isso já é sobejamente indicado pelas obras de Charles Fort. Este último em seu O Livro dos Danados indica acontecimentos naturais ocorridos que se assemelham a impossíveis. Asimov limita-se a assinalar possibilidades, não para um mundo distante e diferente do nosso, apenas para um mundo que é o nosso e que não se torna distante de si mesmo com a expansão que sofre. Os seres humanos continuam tendo suas veleidades e mesquinharias, tudo parece muito normal e concreto. É claro, nem tudo é real e concreto nesse processo; a probabilidade sempre lida com uma indução, ou melhor, serve de fundamento para esta. Assim, no mundo superordenado de Hari Seldon e dos psicohistoriadores, sempre o velho problema da indução se colocava: que variável não seria prevista, que problema poderia surgir que viesse a turvar as previsões de Seldon e sua equipe? Entre as várias opções possíveis, Asimov faz a feliz escolha de um mutante, que tem características bastante definidas e que por ser exceção mexe também com uma exceção no ser humano: as emoções. É interessante observar que o lado emocional do homem parece ter sido completamente esquecido, nenhum desenvolvimento parece ter revolucionado nossas sensações e talvez precisamente disso advenha nossa força e nossa vulnerabilidade. Até que ponto também a barbárie pode significar regressão, na medida em que o termo "barbárie" é definido em relação a uma determinada forma cultural? Assim, a vida bárbara dos polinésios fica muitos furos acima da nossa em termos de paz e relacionamento. A tecnologia, esse terrível mito endeusado e colocado acima e fora da esfera de seu criador, isto é, o homem, gera uma sociedade constituída por multiplicidade de indivíduos, isto é, uma sociedade atomizada, em que cada átomo desconhece a existência de outros desde que a interação destes não lhe seja necessária. Asimov sempre se preocupa com o problema da relação entre máquina e homem. Em sua obra já famosa, Eu, Robô, apresenta as leis da robótica que visam preservar o criador da criatura, em outras palavras, impedir que o Homem se transforme num novo Frankenstein. Como toda lei está sujeita a falhas, trata cuidadosamente, em muitas de suas obras posteriores, de explorar cuidadosamente as possíveis deficiências que esses irmãos eletromecânicos do Homem possam ter e que venham a provocar riscos á sua segurança. Em O Grande Sol de Mercúrio temos a ação de um robô avariado quase destruindo a um ser humano, em Os Robôs nova análise profunda do tema-, em O Despertar dos Deuses a sua preocupação com o futuro da humanidade diz mais uma vez presente, procura cuidadosamente estabelecer as possibilidades do homem, mas é sem dúvida na trilogia da Fundação que essa investigação atinge o auge. Um novo universo de pesquisa é estabelecido e cada decorrência natural dos fatos sociais pertinentes é envolvido na pesquisa. Os seres humanos depois de um longo período de tempo haviam concluído, por uma alienação progressiva de sua própria condição, que era impossível a existência de qualquer outra forma de vida. Todos, menos Hari Seldon, último grande cientista do Primeiro Império e que levara a ciência da psicohistória ao seu completo desenvolvimento. A psicohistória pode ser considerada a partir de Seldon como a Sociologia quintessenciada, a ciência do comportamento humano reduzida a equações matemáticas. Enquanto indivíduo, o homem permanece imprevisível, mas as massas podem ser tratadas estatisticamente, de um modo muito parecido á forma com que hoje é encarado o problema da verdade científica. Segundo Seldon, quanto maior a multidão, maior a precisão obtida nos cálculos e a massa humana existente em sua época girava em torno dos quintilhões. Seldon previu a decadência do Império e, ainda, que a Galáxia iria atravessar um período de trinta mil anos de miséria antes que se estabelecesse novamente um governo unificado. Tentou remediar a situação através de duas colônias de cientistas a que chamou "Fundações". A Primeira Fundação foi instalada num dos extremos da Galáxia sob grande publicidade e a Segunda foi instalada no outro extremo sob o mais completo silêncio. A Primeira Fundação seguiu os Planos de Seldon, então morto há muito tempo, e através de sua ciência superior conquistou os planetas bárbaros que a cercavam, enfrentou os Condestáveis e derrotou-os, enfrentou o que restava do Império e venceu. Finalmente, encontrou algo que Seldon não pudera prever, o Mulo. O Mulo era um mutante que dispunha do poder de controlar as emoções humanas e moldar os cérebros a seu bel-prazer-, seus inimigos mais furiosos transformavam-se em seus asseclas mais convictos. Os exércitos não queriam, não podiam lutar com ele. Mas a Segunda Fundação continuava em algum lugar, a seguir algum plano de Seldon.
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Science FictionPREFÁCIO Uma obra de ficção implica geralmente em um pouco mais que saber escrever bem. O conhecimento científico é desejável, mas, acima de tudo, o que importa é imaginação. Isaac Asimov talvez seja o maior polígrafo de nossa época, pelo menos e c...