5. Quase divertido

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Não demoro muito para encontrar alguns elementos para o "encontro romântico" com Maia, embora a última coisa que vá ser, é romântico. Infelizmente, não existem muitas opções para isso quando estamos em confinamento num quartinho do laboratório, nos escondendo de um atirador.

Bom, fiz o que pude.

Refrigerante quente de latinha e um pacote de salgadinho — provavelmente vencido já que mal dá para ver a data. Só agora percebo que estou faminto, e daria qualquer coisa para uma refeição de verdade.

— Salgadinho e refrigerante? — Maia indaga quando coloco as coisas acima do tapete, onde ela se sentara. Seus olhos debochados, vêm em minha direção. — Esse é o encontro dos sonhos?

— Meu bem, acredite que esse será o melhor encontro da sua vida — digo, dando-lhe uma piscadela e sentando-me ao seu lado no tapete redondo.

— Faltou a música. Seria legal escutar algo — Maia diz, suspirando profundamente, e sussurra tão baixo que mal consigo escutá-la: — Esse silêncio me deixa maluca.

É o único pedido que não posso corresponder.

— Ei! Pegue copos perto da cafeteira, ou canecas, ou o que tiver — peço, enquanto abro os refrigerantes quentes (que devem estar horríveis) e os pacotes de salgadinho.

Pode parecer estranho para alguém da minha idade gostar tanto de salgadinho, mas eu amo. Todos os meus anos como médico me ensinaram que é praticamente impossível se ter uma refeição regrada e balanceada devido aos nossos horários. Comemos quando dá.

É quase irônico, porque vivemos dizendo aos pacientes que eles devem se alimentar bem, sendo que somos os primeiros a não cumprir essa recomendação.

— Ei, Theo! — Maia me chama, e eu murmuro apenas "hum". — Vem aqui, tenho algo pra você, que eu aposto que vai amar. — Ela está com um sorriso engraçado no rosto, que me faz sorrir também.

Me levanto com a curiosidade me dominando, e estudo Maia enquanto caminho até ela, tentando encontrar algum sinal do que é que ela quer me mostrar. O sorriso de Maia fica mais largo à cada passo que dou em sua direção, só que ela se afasta em cada um deles, o que me faz rir com sua provocação. Normalmente não me importo com esse tipo de brincadeira, apenas ignoro — daí vem a minha fama de ser tão sério —, mas essa mulher transmite uma áurea tão contagiante que é simplesmente impossível não ceder a esse momento de distração.

Nada mais importa no momento. Só existe Maia, eu e quatro paredes nos protegendo de tudo que possa existir lá fora; não existem obrigações, preocupações ou qualquer coisa que me impeça de viver um momento de diversão.

É quase divertido estar preso com ela.

— Eu juro que depois disso, esse será o encontro perfeito, porque era tudo que faltava pra isso. — Maia declara, recostando-se na parede, e só agora percebo que ela está escondendo algo detrás de seu corpo.

— Diga — falo, autoritário, parando em sua frente. — Provavelmente, você não sabe disso, mas odeio surpresas. Elas me deixam inquieto e nervoso.

— Eu sei — afirma, sorrindo em minha direção, e franzo a testa, intrigado. Nossos olhos estão conectados um no outro, com sorrisos nos rostos e fingindo que não estamos no meio de uma encrenca das boas, daquelas que te põe em um perigo absurdo; fingimos que somos jovens sem preocupações ou responsabilidades.

Eu gosto de como Maia me faz sentir, como se tudo fosse mais fácil e leve do que realmente é. Essa sensação é gostosa e aconchegante, e a única certeza que eu tenho é que quero muito mais dela.

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