Alice, Pedro & Eu

como as histórias começam

 
   Toda história tem um início, mesmo que alguns queiram escondê-lo. A história de Alice e Pedro provavelmente começou muito antes do Grande Dia, há uns cem anos atrás quando um Campos falou a primeira ofensa a um Monteiro, e eles rolaram no jardim até que algum desavisado tentou separá-los. Naquele dia, o destino de Alice e Pedro já tinha sido lançado. Nada de amizade entre eles dois, nunca. E muito menos abraços e beijos.

     Ah, algo curioso: a pessoa que separou a briga? Meu bisavô. (Ser neutro está no sangue da minha família). Mas ele não foi importante naquela época, porque simplesmente voltou para casa depois de tê-los separados e comeu um frango enquanto contava para sua mulher, que tinha, muito heroicamente, salvado duas pessoas de irem para a cadeia. Os Ferreira vão entrar de verdade na história apenas com meu avô, que começou a trabalhar para um Campos como secretário, e desde então é isso que fazemos. Provavelmente é isso que serei quando sair da escola, seguindo Alice para todo canto com uma prancheta e fazendo as escolhas que ela tem preguiça demais para resolver sozinha. É basicamente isso que já faço, desde que nós tínhamos cinco anos.

     Não que Alice seja horrível ou algo assim, ela só é... Rica. Vejam só, pessoas ricas não precisam se preocupar com metade das coisas que nós, meros mortais, precisamos. Afinal, eles tem nós, meros mortais, para fazer isso por eles.

      E céus, eu não paro de me preocupar. Nunca.

Tudo estava seguindo seu curso normal, Campos e Monteiros se odiando normalmente, até o dia da feira de ciências. Por algum motivo, professora Lilian quis fazer algo diferente, regar a semente da socialização que existia em nós e fazer com que criassemos laços com pessoas diferentes. Se fossemos ver a história pelo meu ponto de vista, aquela mulher séria a vilã. Foi ela que derrubou o primeiro dominó, digamos assim.

     Fala sério, é o ensino médio, eu realmente não queria sair da minha zona de conforto, já odiava a minha presença o suficiente para ter que lidar com uma nova.

   — Não quero ficar com outra pessoa. – Alice reclamou, se virando na cadeira para me observar – Já tínhamos até escolhido o modelo do vulcão.

  — Você pode ficar com ele, eu escolho outra coisa. – falei automaticamente, e por dentro quis me dar um peteleco. _Eu_ tinha pesquisado tudo sobre o vulcão, comprado o material e entulhado tudo na minha casa. Mas, como eu disse, a função dos Ferreiras era tornar a vida dos Campos mais fácil.

     Alice sorriu, inclinando a cabeça como um cisne elegante.

— Ah, Ana, você é demais! – e de repente o problema tinha sido resolvido.

     Só que não tinha, porque Alice e Pedro acabaram juntos.