Capítulo Três

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Nath, que já tinha visto muitas coisas nesse mundo enquanto caminhava por aí ao longo dos anos, e sendo uma criança, começou a gargalhar ao ouvir os delírios do menino que, obviamente, ficou extremamente irritado com as risadas. Levou algum tempo, precisamente o caminho inteiro de volta para casa, para que Nath parasse de rir e zombar de Dylan e começasse a realmente ouvi-lo.

- Tá, vamos supor que eu acredite nessa história de que você é algum tipo de super herói - Zombou o fantasma enquanto eles entravam no quarto - Como foi que chegou a essa brilhante conclusão?

- Em primeiro lugar, queria poder te dar um soco - Resmungou o menino arrependido da forma como se expressou - Em segundo lugar, não disse que sou um super herói e nem mesmo escolhi as palavras da forma mais adequada. Talvez não seja tão simples quanto mover coisas com a mente, mas é praticamente um fato, para mim, que eu transformei um pensamento em realidade.

- Mas como você pode ter certeza disso?

- Olha, eu não tenho certeza de nada, tá bom? Mas eu fiquei aquele tempo todo refletindo e pensando no que aconteceu e é extremamente improvável que algum fenômeno natural tenha desmontado aquela bicicleta daquele jeito. Não pode ser uma simples coincidência que ela tenha se partido em pedaços bem no momento em que pensei que aquela maldita bicicleta tinha que parar...

- Eiii - Interrompeu o fantasma - E por que é que você estava pensando uma coisa dessas? Eu estava me divertindo muito, sabia? - Terminou Nath, realmente bem enfurecido.

- Nath, veja bem, não é comum uma bicicleta sair andando por aí sem ninguém no controle e ... você tem o péssimo hábito de não prestar atenção no que eu falo.

Nesse mesmo momento, o fantasma se entretia com uma folha seca de formato engraçado, que atravessou por ele depois de cair de um galho de uma árvore que ficava perto da janela. Dylan moveu a mão e fez a folha cair no chão, dizendo:

- Também não é nada comum uma folha flutuar sem nunca cair no chão.

Nath franziu o cenho de tal forma que seus olhos cor de mel tingiram-se de um vermelho sangue.

- O que eu quero dizer... - prosseguiu o mais velho - é que pessoas que não estão familiarizadas com isso vão estranhar, vão filmar e disseminar o assunto até chegar nas mãos erradas.

- O que quer dizer?

- Pessoas ruins podem vir atrás de mim pelo simples fato de coisas estranhas estarem acontecendo em minha presença - Disse.

- Bom, então você está fazendo isso do jeito errado...

- Hã?...

- Não pode chamar atenção, mas continua conversando comigo quando estamos lá fora.

Dylan estreitou os olhos e um aperto no peito o sufocou "E se tivessem câmeras naquele parque?", pensou.

- Eu não tinha pensado nisso, você tem razão. Eu ainda não estou acostumado com sua presença e com tudo que isso implica.

- Não me diga, gênio - Zombou o garotinho, descontando mais um pouco da raiva pelo ocorrido da bicicleta.

- Que horror, às vezes eu acho que estou num pesadelo - Lamentou o mais velho - Enfim, vamos ter que entrar num acordo, certo? Vamos ter que definir regras e limites para quando estivermos em público.

- Tá, como você é chato - Disse Nath revirando os olhos.

- Você não é a melhor das companhias também, pirralho - retrucou Dylan - Agora, vamos dormir, amanhã tenho aula.

- Ué, mas porque você não foi para a escola hoje?

- Ah, hoje foi feriado, por isso passei o dia no parque, mas amanhã volto para aquele inferno.


No dia seguinte, um som agudo deu início às aulas logo depois do horário de almoço, os alunos se encaminharam para as suas salas e todas as portas se fecharam. Os corredores ficaram vazios e silenciosos, mais uma escola de ensino médio comum. Nath sentia-se entediado (como é possível sentir alguma coisa mesmo sem vida?), então ele correu pelos corredores. Veio em sua mente uma lembrança antiga, um soluço que o sufocava sempre que tinha vontade de chorar, mas como não tinha um corpo para isso, não chorava. Não sentia nada. Nem um aperto no coração, nem borboletas no estômago ou um refluxo repentino de ansiedade. Não havia lágrimas em seus olhos ou um tremor em seus lábios. Ele corria sem direção, sem um objetivo, quando ouviu um fungo reprimido em algum canto do prédio.

Nath atravessou a parede e viu, do lado de dentro de uma sala vazia, um menino encostado em uma estante de livros, escondido.

O fantasma olhou, perplexo, o desconhecido chorar em silêncio, enquanto repetia para si: "Eu não aguento, eu não aguento mais"

O mais novo tentou acariciar os cabelos negros do menino que cobriam metade de seu rosto. De repente uma ideia lhe ocorreu, e um sorriso malicioso se curvou em seu rosto. 

O Arauto do ColapsoOnde histórias criam vida. Descubra agora