❄️•1.why?

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"Renascer das cinzas
Quebrar as correntes
Não estou preparada para morrer, ainda não
Me tire desse desastre"

ㅡJames Arthur - Train Wreck

Sussurrei a letra de alguma música aleatória mentalmente, totalmente alheia ao meu redor. Estava focada no meu caos interior; sentia meus pulmões implorando por ar mas eu ainda não queria parar de correr.

Porque eu simplesmente não aguentava mais.

Estava mental e fisicamente esgotada. Se eu pudesse pausar a vida por um instante, com certeza o faria. Assim eu teria tempo para analisar a situação, para tomar decisões inteligentes...
Mas isso não era possível e tudo que eu tinha no momento eram problemas.

Entretanto eu não sabia lidar com problemas da magnitude dos meus. Minha reação instintiva era fugir e fingir que eles não existiam mas é claro que isso era uma solução temporária e sem resultado nenhum. Pois eu me sentia leve por alguns minutos mas depois, apenas imaginar que tinha que lidar com aquilo tudo novamente já me destruía dolorosa e lentamente.

Olhei previamente para um lado e outro da rua, desviando por pouco de um carro que surgiu não sei de onde. Ou achei que havia desviado já que no segundo seguinte eu estava no chão. No entanto, não era como nos filmes; eu estava bem viva e acordada para a minha infelicidade.

Franzi o cenho tentando recapitular; o carro não tinha tocado em mim. Eu lembro de ouvir o barulho dos pneus contra o asfalto enquanto o motorista tentava desviar, com sucesso. Lembrava de sair rolando e então parar aqui onde estou. Acho que acabei tropeçando no meu próprio pé, sei lá. Do jeito que consigo ser estabanada isso era perfeitamente possível.
Ou eu provavelmente me joguei no chão por instinto.

Prefiro a segunda opção. É menos vergonhosa.

Me sentei, sentindo um leve tontura enquanto resmungava pela dor chata nas minhas mãos e cotovelos que estavam claramente machucados mas nada para se preocupar. Respirando pesadamente - meu coração estava batendo tão forte e rápido que conseguia ver nitidamente a minha regata preta se movendo - pude reparar muitos carros parando já que eu estava graciosamente jogada no meio do asfalto e alguns curiosos se aproximarem da minha pessoa descabelada e confusa.

A porta do carro preto - mal estacionado devido a situação - abriu e um homem vestindo terno veio até mim com um semblante preocupado e um pouco irritado.

Não era pra menos afinal eu quase o coloquei em maus lençóis.

Tentando desviar a atenção das dores, foquei no moço que se abaixou do meu lado; podia ver um ponto no seu ouvido e a sua postura me fez concluir que ele era um segurança. Ou motorista.

Talvez os dois.

ㅡ Não se mexa, por favor! ㅡ Pediu quando fiz menção de me levantar. Voltei a olhar em seu rosto. ㅡ Onde dói?

ㅡ Na minha alma. ㅡ Respondi sem emoção, encarando a janela fechada do carro que quase tinha me atropelado mas o vidro era escuro o suficiente para eu não ver ninguém. Talvez fosse um juiz ou algum milionário aleatório. ㅡ Mas creio que você não possa me ajudar. ㅡ Retornei o olhar ao homem moreno e forte e ergui uma sobrancelha, esperando uma resposta que sabia que não viria. ㅡ Foi o que pensei.

ㅡ Não pode correr assim, você poderia ter morrido! ㅡ Quis agradecer a sua preocupação mas estava com preguiça então apenas fui sincera:

ㅡ Era essa a intenção! Infelizmente eu tô bem, com licença.

Mas é claro que eu não estava tão bem quanto tentava demonstrar e a careta que fiz assim que me coloquei de pé era a prova disso, porém ninguém viu. Tinha certeza que daqui algumas horas eu teria marcas roxas pelo corpo mas não podia me importar menos então apenas me virei e saí andando apressadamente enquanto ouvia alguns perguntarem se aquela não era Alannah Kyle Wayne.
Automaticamente revirei os olhos.

Até O Último Segundo ➳ M.J.Onde histórias criam vida. Descubra agora