CAPÍTULO 02

457 67 229
                                    

Era madrugada quando meu celular começou a tocar,virei a tela para mim estranhando o fato de ver o contato de minha sogra. Deslizei meu dedo atendendo-a.

- Cíntia? - perguntei, com um fio de voz.

- Olivia, minha querida. O Peter.

Meu mundo parou. Foi como um mar de água fria me atingindo em cheio. Congelando-me. Era madrugada, que boas notícias podem vir desse jeito?

E realmente, não era notícias nada boas.

Não sei como agi, como e de onde tirei forças para levantar-me da cama, vestir roupa e chegar ao hospital que nem sei como havia chegado.

Somente me permiti desabar quando senti o conforto do abraço de Cíntia e Derek, meus sogros. Ali, deixei que todas as lágrimas saíssem. Toda angústia. Desespero. E principalmente, medo.

Medo, muito medo. Eu não sabia como ele estava e muito menos se estava vivo. Ele tinha que estar vivo. É horrível essa sensação, saber que alguém que você tanto ama está sendo aberto em uma mesa gelada de cirurgia entre a vida e morte. Decidindo se vai até a luz no final do túnel ou se fica, lutando para sobreviver.

- Calma, querida - Cíntia me afastou limpando as minhas próprias lágrimas.

- Como ele está? Onde ele está? O que aconteceu? - perguntei, revezando em olhar entre os dois.

- Sente-se - Derek pediu, obrigando-me a sentar em uma daquelas cadeiras nada confortáveis.

Cada um se sentou em um lado, me deixando no meio e ambos pegando minha mão. Eles eram como meus pais, meus segundos pais e os amava imensamente.

- Oli - virei-me para meu sogro - Um carro, desgovernado bateu na moto. O que sabemos é que o motorista teve um convulsão, não foi culpa dele - assenti - Peter teve ferimentos graves, é tudo o que sabemos.

Uma nova onda de preocupação me invadiu. Tanto é, que tive que me encostar totalmente na parede buscando ar para respirar e tomar água que Cíntia trouxe para mim.

- Peter é forte, vai sair dessa - consolou-me - Ele não vai perder a chance de morar com você.

Um sorriso triste surgiu em meus lábios.

- Ele te contou? - ela assentiu.

- Nunca o vi tão feliz, não chore. Ele está em boas mãos. Vai sair dessa - garantiu, fazendo a esperança brotar em meu peito.

Uma, duas, três horas e nada de notícias a não ser "O doutor está fazendo o possível". Somente depois de cinco horas o cirurgião veio até nós e cumprimentando-nos.

- Sou o Dr. Hunt, o neurologista, responsável pela cirurgia de Peter. Fomos informados que com o capacete não estava corretamente fechado, fazendo-o com que ele saísse com a batida.

- Aí meu Deus! - Cíntia sentou se ao meu lado.

- Peter teve um traumatismos Crânianio e duas costelas quebradas. Realizamos a craniectomia e fizemos o realocação das costelas. Apesar de ter tido uma parada cardíaca, conseguimos trazê-lo de volta.

- Então ele está bem? - perguntei, respirando fundo.

- Sim, mas..

- Mas? Tem que ter esse "mas"? O sofrimento não acaba - Derek passou a mão por seus cabelos rasos.

- Foi um cirurgia delicada, onde precisa de um repouso sem esforço algum. Tivemos que coloca-lo no coma induzido para diminuir as atividades cerebrais.

- Ele ira ter sequelas? - perguntei, já que meus sogros já não tinham mais condições.

- Só saberemos depois que ele acordar, pode acontecer de tudo mas o importante é que ele está vivo - assenti - O coma induzido será retirado daqui três semanas mas, ele não acordará de imediato. Quem irá decidir a hora de acordar, vai ser ele.

- E se ele não acordar? - o médico se sentou a minha frente.

- Não quero ser insensível mas, damos três meses para ele acordar depois do fim do sedativo. Se isso não acontecer, consideramos que ele entrou em estado vegetativo e propomos o desligamento das máquinas - concordei, sentindo meu coração se apertar.

- Podemos ver ele? - Minha sogra perguntou, aflita.

- Não podem entrar no quarto mas, um de cada vez pode ir até a janela de acesso e o observa-lo de lá - explicou.

Meu sogros foram primeiro que eu e pela maneira de como voltaram eu sabia que ia ser a coisa mais triste que eu iria presenciar. Estavam abalados e não consigo imaginar a dor que devem estar sentindo em ver o filho naquele estado.

Quando chegou minha vez, minhas pernas foram no automático para a ala onde Peter se encontravam já que eu não conseguia raciocinar nada do que estava fazendo.

A realidade só me atingiu de vez quando eu o vi.

Levei a mão até a boca impedindo do soluço sair. As lágrimas sairam rasgando minha pele, meu coração sentia uma dor tão grande que eu incapaz de descreve-la. E meus olhos não acreditavam que via até então, um homem jovem e aventureiro deitado em uma cama de hospital. Imóvel.

Coloquei a mão trêmula sobre o vidro acreditando que talvez eu o pudesse sentir, que eu pudesse o tocar e falar o quanto eu o amava.

A enfermeira que estava no quarto saiu parando em minha frente, talvez com pena.

- Ele está bem? - perguntei.

A mulher que era negra com os olhos pretos como jabuticaba sorriu colocando a mão sobre meu ombro, oferecendo um sorriso simpático.

- Vai ficar.

Balancei a cabeça enquanto ela se afastava andando pelo corredor. Meus olhos se fixaram em Peter novamente. A única certeza que eu tinha que ele estava vivo era por conta da máquina que apitava na medida que o coração batia. Mas eu não sabia até quando ela apitaria.

- Não me deixa, seja forte. Por nós - supliquei, pedindo aos céus que de alguma forma ele me escutasse.

Até você se lembrar. {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora