NÃO VÁ [ONE-SHOT]

CAPÍTULO ÚNICO

O insistente bipar dos brincos e do anel era o aviso final: tinham apenas um minuto até que a transformação se desfizesse.

Estavam terraço, após mais uma exaustiva batalha noturna. Estavam sozinhos, o que era bom, porque Ladybug sabia que não haveria tempo para fazer nada além de se esconder atrás da porta que levava à saída de emergência.

— Eu preciso ir antes que... — disse, girando nos calcanhares, prestes a correr para longe do campo de visão do parceiro de batalha. Mas este segurou sua mão, impedindo-a de dar um passo sequer.

— Ladybug... — o nome soou como uma súplica, a voz não mais alta que um sussurro. A esperança tímida na voz dele a quebrou. A esperança de quem sabia que não tinha a menor chance, mas cuja consciência jamais permitiria desistir. — Por favor, não vá...

Ladybug não tinha muito tempo para reagir. Ainda assim, dezenas de pensamentos passaram por sua mente em um milésimo de segundo. Ela se lembrou do primeiro dia. De como Chat Noir havia acreditado nela mesmo após a multiplicação do akuma. De como ele sempre confiava em seus planos insanos, sem jamais questionar. Mesmo quando ela disse a ele para entregar os miraculous. Se lembrou de todas as vezes que ele havia se sacrificado para protege-la, confiando que ela seria capaz de salva-lo.

Em todos aqueles anos, Chat Noir sempre havia confiado nela. E Ladybug sabia que era hora de retribuir o favor. Ela precisava confiar nele.

Ela fechou os olhos com força, voltando-se para Chat Noir. Ele usou a mão para puxa-la para mais perto, cobrindo toda a distância entre eles e iniciando um beijo. Inicialmente, apenas um leve roçar de lábios, mas então eles foram consumidos pela necessidade de demonstrar tudo aquilo que não poderia ser colocado em palavras. Uma onda de eletricidade atravessou o corpo de Marinette, e ela não sabia se era resultado do beijo ou por causa da transformação. A única certeza que tinha era que não havia como voltar atrás em sua decisão.

O garoto se afastou, apenas o suficiente para encara-la. As mãos dele permaneciam delicadamente em seus braços. Ela ouviu uma exclamação sufocada, mas permaneceu de olhos fechados.

— Não era o que esperava, não é? — falou, abaixando a cabeça e se encolhendo instintivamente. Como Ladybug, ela se sentia poderosa. Forte, inteligente, capaz. Mas como Marinette... Era o completo oposto. E agora Chat Noir sabia quem ela era.

Sentia-se exposta.

— Não... é ainda melhor.

Aquela voz...

Num segundo de coragem insana, Marinette abriu os olhos. E então se deparou com Adrien Agreste a encarando com uma expressão maravilhada. Seu coração falhou uma batida.

— Estou honrado em saber que lutamos lado a lado todos esses anos, m'lady. — disse Adrien, com uma reverência.

Marinette ainda se sentia desconsertada. Era surreal, depois de todos aqueles anos, finalmente saber quem era Chat Noir.

Não havia volta, ela sabia. Isso mudava tudo.

— A honra é toda minha, Chaton. — respondeu, espelhando a reverência.

Mudanças poderiam ser boas, afinal.