♪ By and By - Caamp ♪
Poderia ter se passado dias, mas a verdade é que era apenas aqueles dias que pareciam um ano inteiro. Dias como esses não eram novidade para Andrea, mas esse em específico doía um pouco mais do que acreditaria ter de doer.
Ela apenas saiu do trabalho, pelo amor de Deus, era um trabalho extremamente tóxico para a personalidade dela. Não deveria doer. Não deveria nem mesmo ser o suficiente para deixá-la em um bar qualquer no meio de Paris.
Sinceramente, era motivo de ligar para os antigos amigos e dizer: hey dude, estou fora! E conseguir voltar a ter um traço de sua vida antiga em sua bravura de abandonar tudo. Mas, por miséria de uma dor desconhecida, não foi bem o que aconteceu.
— Onde estou mesmo? — Andy perguntou pela segunda vez para a bartender, que num suspiro cansado e levemente preocupado, repetiu.
Andrea estava longe. Longe dos eventos da Semana da Moda. Longe do hotel. Longe de Miranda e tudo o que ela representava.
Andrea estava livre.
Mas a possível liberdade sempre foi o que a atormentou, o que a impediu de realmente lutar por essa palavra tão desejada. Andrea só conhecia a capacidade de pertencer, de ser dominada. Nunca houve sequer espaço para ser livre. Em nenhum de seus relacionamentos, em nenhuma das situações.
Andy bebeu o último gole de seu whisky e suspirou pesadamente, caindo com a cabeça nos braços apoiado no balcão. O desejo de despejar todas as frustrações não estavam tão longe assim do estopim, o soluço sôfrego dizia muito sobre o que poderia acontecer nos próximos minutos.
Mas isso seria a cena patética que não condizia em nada com seu ato de coragem mais cedo. Embebedar, chorar e se lamentar tão longe de casa estava se tornando a coisa mais estúpida que fez no dia. Ela quem saiu, por Cher!
— Sabe o que? — Levantou a cabeça de uma vez, olhando com aqueles olhos vermelhos próximos ao caos para a bartender. — Eu quem disse adeus, certo? Então, não há nada para lamentar.
— Querida, dizer adeus pode ser mais doloroso do que escutar. Exige reconhecimento que as coisas não estão boas, exige maturidade, então... — A bartender colocou mais uma dose na frente de Andy. — Não se culpe por doer. Todas as dores são válidas e é por elas que tenho meu trabalho.
Andy riu, aceitando a dose e bebendo de uma só vez.
— A senti por tempo suficiente... — Bufou. — Acredito que tenho uma viagem de volta para fazer.
O mundo girava, de uma forma que há muito ela não sentia. Ela viveu para o trabalho e isso, infelizmente, excluiu todas as sociais que fazia por uma grande quantidade de álcool. E agora, com um pouco mais que o mínimo em sua corrente sanguínea, era demais.
Ela teve sorte de uma viagem tranquila de táxi. Nenhum comentário maldoso, nenhum trajeto esquisito ou mesmo balbúcias felizes de um guia turístico. Só havia todas aquelas luzes, pessoas e sorrisos. Ninguém, absolutamente ninguém, naquela cidade de todo o amor, estava ciente que um coração partido passeava por suas ruas. Ou, fosse exatamente isso, todos estavam da mesma forma e viam em Paris a oportunidade de acreditar novamente.
Acreditar num pedacinho de sonho, felicidade e amor. Um amor recíproco. Um amor como o de Christian por Satine. Um amor que renderia histórias, que tivessem potencial para se tornarem best-sellers. Um amor que, de forma alguma, seria encontrado na porra de uma relação de merda com um empregador muito mais velho.
— PARE! — Andy gritou. — Pare o carro!
E foi isso, o susto, o lapso, a descida. E uma Paris congelante para entender que, merda, merda, merda, Andrea Sachs estava apaixonada por Miranda Priestly.
— Você está brincando comigo? — Murmurou alto o suficiente para a audácia desse coração miserável.
Não foi o trabalho exaustivo. Não foi o ramo que era completamente errado a sua persona. Era Miranda. Unicamente... Miranda.
Andy olhou para os lados, e suspirou exausta mais uma vez, porque ela não tinha a menor ideia de onde estava. E por isso teve que pedir outro táxi e lamentar a impulsividade pela milésima vez naquele dia.
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— Você é um poço cheio de merda... — Resmungou enquanto buscava o cartão do quarto em sua bolsa. — Era claro que tinha que se deixar envolver com a última coisa que poderia acontecer... Por quê? Porque você é Andy de Merda Sachs.
Quando encontrou, escorou a cabeça no elevador e suspirou longamente, tentando encontrar sua força e equilíbrio para continuar a curta jornada.
— Nunca mais você a verá, Andrea. Nem uma foto, nenhuma edição de Runway. Você vai trabalhar com o caderno de Astronomia e nunca, nunca mais, escutará o nome de Miranda de novo.
E foi com toda a convicção que o scotch proporcionou, que ela saiu cambaleante do elevador. Uma confusão de braços, pernas, colares e cartão de seu quarto. Uma confusão que chamou atenção da única pessoa que ela fugiu desde que jogou o celular na Place de la Concorde.
Miranda jogava os cabelos para trás e ajustava a manga do casaco para colocar o cartão em seu próprio quarto, quando os murmúrios reclamões e o pisotear bêbado chamaram sua atenção.
Andrea parou, obviamente. Não era porque ela prometeu nunca mais olhar para aquela mulher em revistas ou internet que isso se aplicava a vida real. Miranda sempre seria uma visão.
Imaculada, distante, inalcançável. Porque era só isso que provou e, todas as fucking vezes que tentou se aproximar, foi chicoteada para longe. Então, ela era o que era. Uma das melhores visões de Andy. E nada mais.
E era por isso que Andy a odiava.
Céus, ela odiava Miranda com toda força que o mundo podia reunir em seu coração.
Odiava a forma perfeita que se portava, os cabelos prateados que a realçaram como nada mais nesse mundo. Odiava a forma esnobe que a olhava, ou até mesmo o receio do que Andy pudesse ser capaz de fazer naquele espaço de tempo antes de ambas entrarem em seus quartos.
Ela odiava Miranda, porque estava desempregada. Porque foi por Priestly, unicamente por aquela mulher, que ela havia desistido daquele trabalho massante e terrível!
E quando Miranda cansou de esperar qualquer coisa, apenas a ignorou como fez por muito tempo e girou a maçaneta.
— Não! — Andy gritou firme o suficiente para fazer Miranda parar.
— Oh, o que é? Teremos uma cena de embriaguês no meio de um corredor de hotel? Por favor, Andréa, você sabe o quanto isso me emociona.
E quando Miranda ia entrar novamente, Andy correu até a porta do quarto de sua ex-chefe, ex-imaculada-chefe e observou aqueles olhos azuis revirarem mais uma vez.
— Foi por sua causa. Unicamente por sua culpa. — Acusou em seu estopim, apontando o dedo para ela.
Miranda, ainda vestida em toda sua calmaria e voz baixa, espantou aquele pequeno incômodo no ar com um movimento de sua mão. — Sempre é, não sei como pode pensar que isso seria alguma novidade para mim.
— O trabalho... ele... não era intolerável, você sabe? — Ela balbuciou, esfregando sua testa e tentando ter qualquer tipo de discernimento no meio de um caos que ela mesma criou.
Miranda sabia que era por ela, porque não saberia? Todos saíram, não foi? E aquele que ela considerava como um amigo ela acabou apunhalando pelas costas. Oh, garoto, corra. Apenas corra e não caia no papo da piedade, sentindo seu coração inflar na possibilidade de Miranda estar minimamente atingida por todos os acontecimentos.
— O que você espera, Andréa? — Miranda respirou fundo, tirando o casaco de seus ombros e jogando-o sobre o sofá como se ele fosse nada, como se fosse Andréa. — Espera que eu te peça para voltar? Que entenda seu grande ato impulsivo e imaturo? Ou, pior, que eu continue a presenciar essa cena patética na minha frente?
— Não, você não pode fazer isso. Eu quem larguei tudo!! Você não está me enxotando para fora como todos os outros desprezíveis que você detestava.
— Era o que você queria, não era Andréa? Ir embora? Bem, é o que estou te oferecendo sem nenhuma resistência.
— Não, não. — Andy parou, negando com a cabeça veemente, enquanto apoiava suas mãos na cintura e buscava a respiração se regular novamente. — Você não pode simplesmente me deixar ir...
Miranda arqueou uma sobrancelha, num misto de afronta e confusão com o que aquela estúpida garota queria dela. Ela sabia que o desprezo sempre doeria mais do que qualquer ato de raiva explosivo, ainda mais banhado de ressentimento dos verdadeiros motivos que foi abandonada pela segunda vez em Paris.
— É inacreditável! — Andy desistiu, dando uma última olhada para Miranda. — Inacreditável que eu seja tão fudidamente apaixonada por você. Não, sério... isso é... — Ela bateu as mãos ao lado de seu corpo e saiu daquele quarto como se nunca tivesse estado dentro dele em primeiro lugar.
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Short StoryEla apenas saiu do trabalho, pelo amor de Deus. Não deveria doer. Não deveria nem mesmo ser o suficiente para deixá-la em um bar qualquer no meio de Paris. Afinal, a liberdade não era tudo o que Andy Sachs queria?