Cadê o meu suco, Heitor?

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A gente estava voltando a pé para casa do Lud depois de mais um dia tedioso na escola. Era terça-feira e, mesmo a contra gosto da Layla , era o nosso dia de folga dos ensaios.

— Hey, galera, tão a fim de maratonar a trilogia do Senhor dos colares? — James perguntou com um sorriso. Ele tirou três DVDs da mochila e os exibiu. — Eu comprei a versão do diretor, com uma hora e meia a mais de conteúdo.

Lud e Bob concordaram na hora.

— Sobre o que é esse filme? — Perguntei.

— Sério, Heitor? Até eu conheço esse filme de fantasia medieval e olha que nem gosto. — Layla disse, fazendo cara dd tédio. — Um anão faz uma viagem enorme para jogar um colar mágico dentro de um vulcão, para impedir que um lorde das trevas o use para dominar o mundo.

Eu quase ri.

— Deixa eu adivinhar, no final ele nem consegue jogar o colar e outro cara faz isso no seu lugar? — Perguntei.

— Quase isso, ele não consegue jogar, mas ele não é um anão e sim um Hobbit! — James diz, revoltado.

— Tanto faz, dá na mesma. — Layla ri. — É um filme chato. Eu tava querendo ir na nova lanchonete perto de casa, tem um suco natural de Parseck que quero provar. Só para escapar da rotina dos lanches e milk-shake.

Bob levou a mão à barriga e abriu a boca para dizer algo, mas todos o interrompemos com um alto e sonoro "Não, Bob! Não vamos comer hamburguer hoje!".

— Ok... não tá mais aqui quem falou. — Ele resmungou.

Cheguei do lado da Layla e disse.

— Lá na terra eu já fiz bico em uma lanchonete. Sou especialista em fazer sucos, era a única coisa que me deixavam fazer ja que como cozinheiro eu sou um ótimo guitarrista.

Layla sorriu e me encarou.

— Você está me subornando com suco grátis só para que eu vá assistir três filmes chatos? Acha que sou fácil assim?

Pelo olhar duro dela, percebi que estava numa fria.

— Não, claro que não... É que... — Gaguejei.

— Que bom, porque eu totalmente aceito! — Layla riu da minha cara e fomos todos para casa do Lud.

— Ok, galera. Aqui estão seus pedidos. — Eu disse, entregando pratos com pizza que pedimos ao chegar em casa. Deixei também copos com refrigerante para todos se servirem.

Layla olhou em volta e então, com sua cara de líder furiosa, me perguntou.

— E cadê o meu suco, senhor "mestre dos sucos da terra"?

Saí andando na direção da cozinha.

— Calma, deixei o seu por último para dar toda minha atenção a isso. Vai assistindo o filme que eu volto em um minuto.

Levei mais do que um mínuto. Na real, olhei para o relógio e percebi que tinham se passado quase vinte minutos depois da minha saída.

Passos fortes e raivosos soaram no corredor e eu sabia muito bem de quem eram.

— Você foi plantar o Parseck para fazer o suco? — Layla irrompeu na cozinha, cuspindo fogo.

Eu a puxei pela mão e apontei para uma jarra de suco com gelo na mesa da cozinha.

— Seu suco está ali já faz um tempo. — Eu disse, me aproximando dela. Fechei a porta da cozinha sem ela se dar conta.

— E porque você não foi levar lá no quarto do Lud? — Ela me perguntou. Mas pelo modo como estava sem jeito, pude perceber que já tinha sacado.

— Porque agora eles estão lá, distraídos por pelo menos três horas, e nós estamos aqui. Só eu, você e os sucos. — Falei, aproximando minha boca da dela.

Eu não era suicida, nunca iria fazer uma coisa dessas sem ter certeza de que a Layla estava a fim. Esperei um pouco e olhei dentro dos olhos dela.

Olhos rosas e com um brilho único. Um brilho pelo qual eu era apaixonado à meses.

— Você tá esperando o que? — Ela disse e então me puxou na sua direção.

Quando nossos lábios se uniram a meu cérebro derreteu. Aposto que até o Bob seria capaz de raciocinar mais rápido do que eu nesse momento, mas eu não esstava à fim de pensar em nada.

Digo, nada que não fosse a boca da Layla. Nos beijamos por um longo tempo e depois encontramos nosso caminho para o sofá da sala.

A avó do Lud estava fora da cidade e nossos amigos não iam sentir nossa falta por um longo tempo.

— Espera aí. — Layla disse, entre um beijo e outro. — Isso tudo realmente foi um plano elaborado?

Sorri.

— Você não deveria menosprezar a genialidade do mestre dos sucos da terra. — Respondi e voltei a beijá-la.

De repente, aquela terça-feira perdeu o tédio e ficou muito divertida.

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