Capítulo Único

31 4 2
                                    

Acordou-se, ao meio da madrugada, soando frio enquanto seu coração batia descompassado e sua respiração estava ofegante. As orbes azuis estavam arregaladas, enquanto sua mente trabalhava para descobrir o que tais sonhos significavam.

Tô sonhando com o diabo, já faz 15 dias

A voz lhe ressonava ainda aos ouvidos, ditando repetidamente as ordens que lhe dera, enquanto sua cabeça girava o fazendo tombar novamente sob os lençóis.

Ele dizia: Faça isso, repete a mesma melodia

A maldita música ainda ecoava em sua mente, juntamente as ditas regras. Saltou da cama, buscando por seu violão, enquanto tentava recordar-se da cena que acabara de presenciar.

Distorce o tom, abaixa o som reproduz como no sonho

Fizera exatamente como lhe fora dito, antes de fechar os olhos e perceber estar em outro lugar, com a tal figura a sua frente. Que agora, lhe tomava o gravador e quebrava o dito objeto.

Conte só 30 minutos apaga e se faz de sonso

Os olhos de tal ser continham pequenas lágrimas, lhe fazendo compadecer-se do mesmo, enquanto observava as orbes verdes sofridas.

Satã tá triste, tá chorando

Caminhou, a passos incertos, buscando por aproximar-se do homem, que encontrava-se imóvel ao meio do gramado.

Bem no meio do quintal

Levou a mão, um tanto indeciso, a face alheia a fim de enxugar-lhe as lágrimas. Enquanto retirava de sua face alguns fios ruivos, que cobriam-lhe a vista.

Poxa Lúcifer não chora

Repetiu ao mesmo um antigo ditado que sua família costumava recitar:

Somos a lesma e a vida é o sal

Viu as íris verdes focarem-se em si, enquanto este lhe sorria doído antes de olhar em volta e dizer:

Que lindo foi aquele jardim

A face tornou-se triste novamente, enquanto o homem suspirava de maneira pensativa e ditava:

Que tudo lá já se perdeu

Um sorriso mínimo adornou os lábios finos, enquanto um brilho divertido surgia no olhar sofrido, e este lhe ironizava:

Maldito fruto da serpente

As orbes azuis observaram atentas, a mão alheia afastando seu toque mínimo antes de inspirar profundamente, virando-se de costas para si e sorrindo nasal antes de dizer:

Por isso lá se corrompeu

O silêncio se fez presente, antes de, vozes em coral, rescitarem a melodia que lhe fora apresentada, enquanto o céu aparentava escurecer com a aproximação de diversas aves.

Pássaros ficaram negros

Penas negras sobrevoavam o redor, enquanto o coral aumentava o tom da melodia e gritos podiam ser escutados.

Abutres dominam essas terras

O odor pútrido lhe fez cobrir as narinas com a manga de sua blusa, enquanto o ar parecia pesar ao seu redor.

Carne morta, bicho morto

Notou então, estar presenciando a morte, não só de seres humanos e animais, mas também, da dita vida. Enquanto a voz suave lhe dizia ao ouvido:

Tudo morre nessa Era

O céu tornou-se rubro, da cor dos fios daquele que fora o responsável por tal destruição, enquanto este permanecia a seu lado, observando com eximia atenção.

A Lua sangra e o Sol também

A vermelhidão pareceu escorrer por sob a terra, enquanto engolia tudo tudo a seu redor.

Vermelho sangue é a cor do Mar

O odor que adivinha da mesma, lhe causava náuseas, enquanto as íris verdes brilharam em satisfação ao presenciar tal ruína. O hálito quente em seu ouvido, lhe causou arrepios enquanto a voz lhe dizia de maneira calma:

Não se preocupe isso faz parte

Focou as orbes azuis, na face leviana do outro, que sorria minimamente enquanto observava seu espanto, antes de sussurrar-lhe, próximo a sua face:

Um dia você sangrará

O vendo forte lhe fez buscar apoio no corpo alheio, enquanto a crescente bola de fofo aproximava-se de ambos. O fogo, devorando tudo que havia a seu redor, sem deixar rastros.

Quando o Sol cair tudo queimará

A terra agora, era uma fenda, seca e fria. Tão sem vida quanto seu companheiro, que agora observava o grande abismo a frente.

E não restará mais nada pra contar

Outras presenças se fizeram presentes, divididas pelo grande abismo enquanto os braços de sua companhia eram abertos e este gritava a outra multidão:

Teu serafim caiu no poço desse abismo

A luz intensa o fez fechar os olhos, com força, enquanto sentia estar sendo empurrado para longe, ouvindo demasiadas vozes ao seu redor afastando-se.

Estrela da manhã acolhe os esquecidos

Ao abrir novamente as íris azuis, estavam de volta ao jardim de início. Enquanto as orbes verdes fitavam-no com atenção, e outras vocês diziam junto a sua:

O mundo acabará, e arrebatará, pessoas vão voar

O coral aproximou-se, cercando-o enquanto prosseguia a melodia, e seu corpo era puxado para perto daquele que seria o responsável por tudo aquilo, sem nunca cessar a declaração:

Mas nós vamos ficar, vamos cantarolar, a chama queimará

O círculo tornou-se mais justo, o fazendo ficar cara a cara com o sorriso lascívo que lhe era exibido, antes de compreender ao que se tratava tal sonho, enquanto ouvia os sussurros ainda presentes:

A trombeta tocará

As íris azuis focaram-se na expressão de vitória exibida pelo outro, antes de ditar, junto as demais vozes, aquilo ao qual havia compreendido ao início de tal loucura, com um certo sorriso ladino na face:

Satã nos guiará

Sad SatanOnde histórias criam vida. Descubra agora