Capítulo I

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SUNOO

Durante um inverno congelante, quando com tão pouca idade me perdi dos meus pais, vivi uma experiência que agora pouco me lembro, como um sonho distante e antigo.

Havia muita neve, daquela que afunda longamente quando se põe os pés na superfície. A luz do dia era tão branca e a neve brilhava muito forte.

Meu corpo sentia tanto frio e eu tremia. Procurava por minha mãe, mas haviam tantos rostos misturados passando por mim que eu me confundia, congelando.

Eu não saberia dizer qual idade eu tinha na época, mas era o suficiente pra que eu só conseguisse chorar.

***

SUNGHOON

Me impressionava que mesmo com o inverno algumas pessoas ainda se sentissem animadas para festejar. A maioria achava um absurdo, mas eu gostava de saber que aquelas poucas ali em minha volta ainda sentiam vontade de viver.

Girando uma bússola na mão, eu andava distraído. Estava cansado da viagem que estava fazendo, dos afazeres que teria depois de voltar pra casa; era bom ter um instante como aquele... só andando, olhando para as pessoas, como se eu fosse qualquer um deles, vivendo uma vida pequena e não importante.

— Prometeu que não iríamos demorar, Vos... — pigarreou —, senhor...

Olhei para o homem que andava junto a mim.

— Apenas veja, as pessoas estão se divertindo, faça como elas — disse a ele.

Havia estruturas montadas carregando mercadorias à venda por toda parte, fossem tecidos ou pequenos animais como aves. Uma música soava mais ao longe, se misturando ao falatório confuso dos vendedores.

— Senhor, não pode...

— Você sabe que não pode me levar à força de volta ou mando colocarem você na boca de um tigre. — Eu sorri, imaginando a cena.

Ele se aproximou demais de mim e falando baixo, só pra mim:

— Alteza, são palavras de Sua Majestade Imperial, tenho que deixá-lo em segurança antes do anoitecer...

— Ele não está aqui, não percebe? — Me afastei dele.

— Por favor... Aish, eu não devia ter deixado... — ele começou, irritado, se amaldiçoando.

— O que está dizendo?

— Vamos, venha. — Ele segurou meu braço.

— Como se atreve? Não toque em mim! — reclamei, verdadeiramente incomodado.

— Não está se comportando como deve, senhor.

Mantendo minha compostura, desvio meus olhos do guarda e procuro por qualquer aleatoriedade em volta. Eu sabia que ele tinha razão, mas não queria ir embora.

Ele deveria me deixar em paz ao menos um pouco.

— Ela parece sozinha — eu disse de repente.

— Quem parece...? Criança, volte aqui!

Fui em direção ao meu novo passatempo, meio andando e correndo, tentando fugir do meu guarda. Cheguei em uma criatura pequena demais, assustada e chorando.

***

SUNOO

Surgiu um rosto. Um belo jovem que parecia ter sido tingido de inverno. A brancura de sua pele e os olhos intensos e escuros. Ele refletia o próprio gelo. Havia algo de cortante em sua imagem.

Império de Gelo • sungsunOnde histórias criam vida. Descubra agora