𝟏𝟐 𝐝𝐞 𝐣𝐮𝐥𝐡𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟎𝟑𝟑

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A estação de televisão não é um lugar muito utilizado nos dias de hoje, afinal se conseguia assistir tudo através da internet, então era usada apenas com transmissões oficiais e nos últimos anos estava diretamente ligada ao governo. A fachada era clara e a parede do andar de cima era visível para toda a avenida, por sorte, não precisariam invadir para fazer o que tem de ser feito. Não eram muitos os carros que passavam por ali de madrugada, então não foi um problema ter que ser discreto ao subir o muro que dá no espaço à frente da parede.

— Em quanto tempo acha que consegue terminar? — Hongseok perguntou, subindo a sacola cheia de tintas para o amigo que as pega sem muita cerimônia porque estava pesado demais.

— Uma hora talvez, mas depende.

— Então vou esperar um pouco para começar, toma seu tempo amigo, quando acabar me encontra aqui. — Shinwon assente com um sorriso no rosto, adorava o jeito descontraído de Hongseok. — Fica de olho na avenida, caso algo dê errado eu vou acender um sinalizador.

— Onde conseguiu?

— Sobrou do dia do protesto. E por sorte, eu tenho dois, vou pedir que faça o mesmo caso tudo saia do controle. — Ele o entregou o bastão por fim, balançando o dele como um lembrete. — Toma cuidado que esse é luminoso, se você se queimar sua irmã me mata.

Shinwon não conseguiu rir daquela brincadeira e com um último gesto, mandou o amigo embora.

Os dois passaram boa parte da noite no submundo, discutindo se aceitariam o pedido de Hwitaek ou não, e no fim, não chegaram a um consenso, estavam presos na linha tênue que era não ter nada a perder, mas não querer pagar para ver. Contudo, sabiam da importância de chamar atenção naquela noite e decidiram que iriam arriscar para ver o que iria acontecer e então, terminaram em frente a avenida pouco movimentada.

Não ter nada a perder era algo muito abrangente para Go Shinwon. Desde que cortaram o programa de arte na universidade ele tem andado sem rumo, seus planos e sonhos foram pisoteados por cortes de verbas que o fizeram tem que começar a se virar, nesse caso não tinha nada a perder, nenhum emprego ou grande responsabilidade na vida, mas havia o único motivo que o impedia de não ligar para as consequências: Yejin.

Sua irmã mais velha estaria sozinha e ele tinha muito medo do que poderia acontecer com ela se fosse levado para o centro de reabilitação, o que ela diria, ou se o perdoaria por mentir sobre o que fazia. Ele sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos, decidiu em questão de segundos que pararia de se pensar e estalando os dedos colocou o fone de ouvido e pegou a primeira lata de tinta.

Não precisava pensar muito para pintar, apenas se deixava guiar pelo que sentia no momento e já havia feitos tantos desenhos para os revolucionários que já havia decorado as características de Effie Kanope, desde os olhos grandes aos lábios grossos e até como os cachos moldam o rosto. Também não precisou pensar demais em como faria o desenho, estava doido para fazer outro desenho colorido no estilo pop art e Hongseok o deu passe livre quando entregou a bolsa lotada de tinta spray.

No ritmo da música que tocava alto nos fones ele seguiu, sujando os dedos azul, vermelho e amarelo e nem ao menos notando o engarrafamento que acontecia às suas costas, não ouvia nenhuma buzina ou reclamação, nenhum telefonema ou as rodas derrapando no asfalto, estava preso em seu próprio mundinho e amava essa sensação.

Foi o grande motivo que o fez escolher o que queria fazer da vida, mas quando conheceu Hongseok as coisas mudaram um pouco.

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