Cap. 15 - Dissolução

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"-Eu estou determinado a agir dessa maneira, o que, em relação à minha opinião, constituirá minha liberdade sem depender de você ou de alguém tão completamente desconectado de mim". (Elizabeth Bennet - Orgulho e Preconceito - Jane Austen)

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Meredith PoV

Dizem que quando estamos tristes, a paisagem ao nosso redor também se modifica para acompanhar nosso eu interior. Lembro de ver algo semelhante nas telas de Van Gogh ou em qualquer tela do Expressionismo e sempre achei um pouco de exagero essa afirmação.

Porém, eu que sempre gostei tanto da chuva, agora eu achava que o céu estava chorando.

A chuva caía torrencialmente enquanto eu e Andrew nos encarávamos. Estávamos estáticos como se qualquer movimento fosse perigoso demais naquele momento, mas por diferentes motivos. Ele olhava para mim, um sorriso que teimava aparecer no canto da boca, enquanto eu devolvia um olhar que tentava se firmar entre assustado e perplexo.

- Meredith, eu estava indo me encontrar com você...mas a chuva resolveu cair e...bem...acabamos tendo a mesma ideia sobre onde nos esconder. Que homem sortudo eu sou.

Eu continuava o encarando com a boca aberta, sem a coragem necessária para dizer algo ainda. Um misto de sensações tomavam conta de mim...aquele homem parado na minha frente me despertava os mais diversos tipos de sentimentos. Ele era tão bonito, seus traços eram terrivelmente sedutores, seu perfil completamente simétrico, uma obra de arte digna de contemplação. Parte de mim gostaria de atirar-se em seus braços, onde eu sabia que encontraria carinho, proteção, desejo, paixão. Porém, a outra parte desejava incontrolavelmente despejar uma infinidade de acusações e argumentos, pois ele havia me ferido, ferido minha dignidade, minha família, meu orgulho, minha alma. 

- Eu não poderia viajar sem antes me despedir de você de forma correta. Meu coração está inquieto, Meredith. A grande verdade é que...eu nem sei se consigo ficar longe de você por dois dias...eu....

Andrew suspirou antes de continuar falando. Eu o ouvia, o ouvia longe, ouvia suas frases que pareciam desconexas, ao mesmo tempo que meu peito queimava, quase uma dor física.

Puxando o ar como quem tem dificuldades de respirar devido a emoção, Andrew continuou:

- Eu lutei em vão e não posso mais suportar. Estes últimos meses têm sido um tormento. Só Deus sabe o quanto lutei para não me entregar tanto...eu lutei contra o meu bom senso, contra as expectativas que criaram sobre mim, mas estou disposto a colocar todos os padrões de exigência de lado e pedir que continue colocando fim à minha agonia.*

Em fio de voz e me recuperando de uma letargia que me atingira, eu disse finalmente:

- Eu não compreendo o que quer dizer, Andrew... 

Andrew se aproximou mais de mim ainda, ficando a poucos passos de distância. Olhando profundamente nos meus olhos, disse sem titubear:

- Eu a amo*.

Minha boca abriu-se mais ainda enquanto ouvíamos somente o barulho da chuva.

- Ardentemente* - Andrew completou enquanto continuava me olhando de forma intensa.

Eu continuava olhando para ele. Ele havia acabado de dizer o que eu acho que ele disse?

- Por favor, Meredith...continue me dando a honra de permanecer ao meu lado. Tenho tanto a lhe dizer, lhe mostrar...se viajar comigo, poderemos...

QUANDO FALA O CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora