amor perdido.

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– eu tinha rasas lembranças de que tinha vivido algo antes... tipo, antes do que eu sei que sou agora – Jungkook recita suas explicações com Taehyung prestando atenção em cada letra dita pelo moreno, sem poder acreditar – eu tinha sonhos estranhos, onde sempre havia dois garotos quase iguais, e só depois pude entender que um deles era Vante... e o outro era você.

– então... você não se esqueceu de mim...

– não, só não sabia exatamente como te dizer tudo isso sem parecer um completo maluco – ambos sorriem – e também... achei que você tivesse seguido sua vida e se esquecido de mim, até porque nunca tínhamos trocado uma só palavra no quadro... não podíamos sequer nos mexer direito lá.

– sim...

– eu voltei várias vezes para tentar te tirar de lá... Mas em todas elas você estava estático... achei que tivesse...

Taehyung conseguia se lembrar tão perfeitamente da feição de Jungkook todos os dias ali, tocando o quadro com suas mãos humanas afim de chamá-lo, e ele gostaria de poder chorar nesses momentos, mas sequer lágrimas desciam por suas bochechas. Vante não queria que ele fosse embora, pois era a representação de si mesmo... se ele se fosse, Vante também iria, eternamente.

– eu não estava, mas me senti como se já estivesse morto... até que um dia voltei à consciência, e consegui sair. Consegui ter uma casa, e acredito que hoje tenha sido o dia em que a alma de Vante foi-se de uma vez de mim.

– comigo foi a mesma coisa – em seus lábios havia um sorriso nostálgico para Taehyung, o que conseguia retirar de si ainda mais vergonha e bochechas vermelhas como desenhos de morango – eu pude recomeçar a minha vida... acho que agora sou outra pessoa... e você também.

– é o que espero – o seu sorriso não era de fato tão verdadeiro, pois podia se lembrar muito bem da última lembrança que teve de Vante, aquela onde fugia da casa pegando fogo. Foi o que o fez ter parado naquele festival, foi o que o fez sentir estar quase entregando sua alma aos monstros que não pertenciam à si e sim à Alexandre... Ele se sentia aliviado por não ter mais que sentir nenhum arrepio assombroso graças à uma outra pessoa, mas ainda haviam alguns receios – é estranho porque... eu passei tantos anos trancado, que não sei o que fazer estando "livre" agora.

– você... poderia começar aceitando o meu pedido pra dançar comigo.

– o-o quê? – Jungkook lhe direciona aquele mesmo sorriso profano e não piedoso para si. Era incrível como poderia lhe levar ao fogo ardente e em segundos trazê-lo de volta à sua órbita suave e descontraída como brisas de final da tarde.

– tava pensando em te cantar quando te vi pela primeira vez, mas achei que fosse parecer um garoto babaca... – ele se aproxima ainda sentado no banquinho, Taehyung não sabia se queria se mexer ou apenas esperar um pouco mais – você tá diferente... está possuindo sua verdadeira forma agora.

Taehyung não percebeu tão antes quanto Jungkook, mas as suas orbes passaram a ter apenas uma cor, o castanho claro, como o início do outono.

– eu gostava de olhar pra você no quadro – Jeon prosseguiu, fazendo mais um sorriso sem jeito crescer no rosto cheinho e vermelho de Tae – mas... eu não aguentava mais estar preso. Tudo bem que no fim todo mundo é meio acorrentado nas suas próprias perturbações mentais... Mas eu queria sair, eu precisava sair... sentia que ia enlouquecer se não tentasse o quanto antes.

O menor assente, pois a transparência de Jeon era tão palpável, tão compreensível, quem garantia que ele não surtaria se sua mente não tivesse se distraído com aqueles garotos que o acolheram?

– acho que todos nós precisamos de um festival na vida.

– eu precisava muito disso – Taehyung sorri, pois nunca havia sentido as costas tão leves quanto agora. – mas ainda não entendi algo... você me reconheceu desde o início ou...

os demônios de vante; taekook.Onde histórias criam vida. Descubra agora