Bar - Riren

Capítulo Único

Estava sentado na mesma cadeira de sempre próxima ao balcão, a camisa de botões formal em uma tonalidade branca estava ligeiramente aberta e um pouco amassada pelo extenso e cansativo dia de trabalho, os cabelos negros ligeiramente bagunçados pelas diversas vezes que passou a mão neles para afastar a vontade de quebrar os dentes de alguém, principalmente de seu secretário que insistia em falar coisas idiotas o tempo todo.

- De novo por aqui? - Perguntou uma voz animada do outro lado o retirando de seus pensamentos.

O dono daquela voz um pouco doce e brincalhona era um jovem beirando aos 20 anos, pele bronzeada, cabelos castanhos geralmente bem bagunçados que sempre estavam presos em um coque e um dos olhos mais verdes que já tinha visto na vida. O sorriso parecia que nunca saía de seus lábios e mesmo sempre tratado com palavras curtas e um tanto frias nunca se abalava, mantendo-se ali na sua frente tentando conversar.

- Dia difícil novamente? - Insistiu colocando um dos panos que tinha na mão sobre o ombro de forma automática, como se repetisse esse gesto diversas vezes durante a noite de serviço. - Vais querer o mesmo de sempre?

- O que achas? - Perguntou ironicamente a ele ignorando completamente a primeira pergunta. – Forte e sem gelo

Ao menos sabia o nome do rapaz, mas era sempre o mesmo ao atendê-lo e lhe perguntar sobre seu dia ou coisas tão banais que ao menos pensou que alguém fosse ter coragem de perguntar. Afinal cresceu rodeado de pessoas interesseiras que faltavam praticamente beijar seus pés por alguns trocados, e quando resolveu finalmente atender aos pedidos do pai e assumir a empresa da família no mais alto cargo, aquele tipo de pessoa infelizmente havia aumentado em uma quantia absurdamente considerável. Mas aquele garoto era diferente, nunca havia lhe pergunta do diretamente com o que trabalhava ou coisas do tipo que as pessoas sempre o perguntavam.

Mesmo não admitindo em voz alta para ninguém acabava sempre retornando ao mesmo bar, não apenas pela bebida, música ou higiene do local, mas principalmente pela pequena conversa de todas as noites com o jovem.

Vivia o dia todo rodeado por pessoas, mas nenhuma delas preenchia aquela sensação de vazio e inutilidade que sentia como aquele jovem preparador de bebidas e enxerido nas horas vagas conseguia com tamanha facilidade.

- Então para o Senhor Esquentadinho um uísque! - Disse colocando ambas as mãos na cintura fitando os olhos cinzentos do homem com certo divertimento, que mordeu os lábios rapidamente para conter um sorriso ao ouvir aquele apelido. - Eu vi! - Exclamou realmente surpreso e animado por ter tirado aquela reação daquele homem sempre tão sério, frio, distante e principalmente tão indiferente. - Quase te fiz rir!

- Estás sonhando acordado, não fale idiotices. - Disse sério, mas o garoto ao menos se abalava com aquilo, pois realmente tinha visto aquela reação, mínima que fosse com tamanho orgulho. - Traga-me a bebida e cale a merda da boca.

- Deverias pedir férias. - Falou enquanto buscava uma garrafa pela prateleira sem nenhuma dificuldade, era como se realmente soubesse onde tudo estava e realmente sabia, pois apesar de trabalhar apenas durante as noites já se faziam bons tempos que estava a trabalhar naquele estabelecimento.

- Não posso tirar férias, afinal sou o dono daquela merda. - Falou simplesmente e viu o garoto retirar os olhos ligeiramente das prateleiras para o olhar, afinal suspeitava que ele fosse alguém importante, mas nunca teve uma real confirmação, pois o diálogo era sempre quase monossílabo. - E tu não és exemplo de nada, todas as noites que venho aqui também estás trabalhando... Nem ao menos uma folga tu tira. Então, sem julgamentos.

- Eu tenho meus motivos. - Disse simplesmente enquanto colocava o copo de vidro na frente do homem e completava com o líquido escuro.

- Que seriam? - Perguntou realmente surpreso por estar curioso sobre a vida de alguém além da sua própria como estava acostumado durante toda a sua existência.