Capítulo 1

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Marinette olhava a cidade da varanda de seu quarto, pensando numa forma de se declarar para Adrien sem parecer uma desvairada. Era sempre assim, trocava as palavras, fazia caretas constrangedoras e no final nada saia.

Se teve oportunidades? Teve. Muitas, para falar a verdade, e em todas Marinette estragou tudo. Como quando seu quarto foi filmado e toda a Paris viu as fotos do modelo espalhadas pelo cômodo. Inclusive o próprio Adrien assistiu, para piorar, foi confrontá-la.

Marinette se arrependia de não ter confessado seus sentimentos naquela ocasião. Seria mais fácil, Adrien iniciou o diálogo, era só ela dizer: Sim, eu te amo, caramba!

Mas não.

Ela preferiu negar, mesmo quando Adrien chegou bem pertinho, pedindo satisfação sobre as fotografias.

Um suspiro alto e profundo rasgou a noite, no instante em que Cat Noir pulava entre os prédios procurando esfriar a cabeça. 

Ele meio que pressentiu Marinette deprimida. Desde que a salvou do ilustrador do mal, acabaram se tornando amigos, com ressalvas. Era uma amizade estranha e limitada, porque Cat Noir não podia, em hipótese alguma, revelar sua identidade secreta. Portanto, precisava policiar suas palavras, para não falar demais e acabar entregando algo importante. 

Ladybug o mataria se cometesse esse tipo de erro, então ele fazia de tudo para não deixar nada comprometedor escapar. Apesar de apreciar e muito aquele laço complicado que mantinha com a garota.

Enquanto Adrien, não podia agir igual. Marinette era mais fechada quando se tratava dele, gaguejava em todas às vezes que tentavam conversar. O que dificultava as coisas, ainda assim, ele gostava dela em ambas as formas — como Cat e como Adrien. Mas, quando estava com o traje, conseguia fazê-la sentir-se mais à vontade com ele e isso tinha suas vantagens. Marinette falava, ria e contava segredos para o herói, o que não acontecia quando ele era Adrien. 

Tanto que o garoto esperava com ansiedade e euforia oportunidades de estar perto dela. Ele dizia a si mesmo que gostava da companhia da garota, não era nada demais. Marinette era especial, era fácil gostar dela, porém, ela não era Ladybug. Seu amor platônico e inalcançável, era fácil amá-la. Principalmente quando a heroína agia toda cheia de segurança, salvando Paris com aquela pose de durona. Sendo que, por trás, ele sabia, ela era sensível e altruísta. Gentil e abnegada.

Ah, como Cat Noir a amava. 

Contudo, olhando de longe para Marinette, pensativa sob a luz da lua, seu coração acelerou. Sua convicção estremeceu e Cat Noir perguntou-se até quando amaria Ladybug. Quer dizer, ela não o correspondia, era unilateral o sentimento que permeava o relacionamento deles e isso martelava em sua mente toda vez que estava com sua princesa, Marinette.

Não demorou para estar diante dela.

— Princesas não deveriam contemplar a noite sozinhas. É um pecado. — gracejou, Marinette riu, ele era sempre galante.

— Quem bom que chegou para me fazer companhia então. — devolveu, entrando na brincadeira. — Ladybug não precisa de você? — seu tom entregava um pouco de preocupação ou receio de monopolizar a atenção de Cat Noir.

— Está tudo bem, eu só estava rondando por aí para espairecer. — ajeitou-se ao lado da garota, buscando demonstrar que nenhum akumatizado atacava a cidade. — Nesse momento toda minha atenção é sua. — deu sua famosa piscadela para Marinette, fazendo-a sorrir ainda mais.

Suas bochechas coraram de leve, pois o gesto a deixou um pouco constrangida.

— Não pisque assim pra mim, sei que faz o mesmo com a Ladybug. — escapou por seus lábios, ainda que Marinette não desejasse dizer algo do tipo.

Cat Noir arregalou os olhos, desconcertado. Como se tivesse sido pego fazendo traquinagem. Por fim, se recompondo, sorriu, antes de perguntar:

— Está com ciúmes?

— Claro que não. — desconversou, envergonhada. Logo tratando de desviar o olhar. — Eu sei que você a ama, então pode ser estranho pra mim.

— Sim, eu a amo. — confirmou com um suspiro profundo. — Mas você também é especial para mim, princesa. Aceite isso.

— Eu aceito e acredito. — seus olhares se encontraram. — Amigos também são especiais. — com um sorriso de canto, que indicava mais do que Marinette queria dizer em palavras, ela encerrou o assunto.

Era complicado para Marinette estar próxima de Cat Noir, sem poder assumir que era Ladybug. Talvez se ele soubesse sua identidade, seus sentimentos pela heroína acabariam. Seria o mais provável de acontecer, Cat Noir provavelmente gostava de Ladybug porque não a conhecia de verdade. Não por baixo da máscara, não com suas trapalhadas, erros e inseguranças.

Cat Noir amava Ladybug porque a máscara a enaltecia além do que ela era como Marinette.

Era como maquiagem, que disfarçava as imperfeições, mas não as corrigia definitivamente.

Marinette observava as luzes de Paris com um olhar melancólico, chamando a atenção do gatinho ao seu lado. Ele, percebendo que ela não diria mais nada, decidiu quebrar o silêncio. Marinette era sempre tão alegre, diferente da garota reflexiva e calada daquela noite.

— O que houve, princesa? — Cat Noir desejava que ela se abrisse, afinal, eram amigos. — Você está tão distante.

— Só estou pensando nos meus fracassos. — lamentou mesmo sem querer. Calou-se assim que tais palavras escapuliram por seus lábios.

— Do que se refere exatamente? — ele não quis fazer piadinhas ou trocadilhos, sem saber em que terreno pisava.

Precisava entendê-la antes de dar qualquer conselho que fosse.

Marinette não almejava falar sobre seus sentimentos com o herói, porque seria extremamente constrangedor. Mas, quando se deu conta, lágrimas rolavam por suas bochechas. 

Cat Noir, surpreso e aflito com o estado da garota. Teve a primeira atitude que passou por sua mente. Puxou-a para um abraço apertado, enterrando o rosto dela em seu peito. Numa tentativa desesperada de fazê-la parar de sofrer.  

Era tão doloroso vê-la daquele jeito, ele sentiu-se sufocado, a medida que acariciava os cabelos escuros de Marinette. Nunca pensou que uma garota pudesse despertar um sentimento tão intenso além de Ladybug.

Cat Noir só queria protegê-la e talvez, porque não, quebrar a cara de quem a fez chorar. Bom, não que fosse ruim tê-la em seus braços, ele ponderou por um instante que era a coisa mais incrível e doce do mundo.

Isso se a garota não estivesse se debulhando em lágrimas, deixando-o completamente sem reação.

— Vai ficar tudo bem, princesa. — tentava consolá-la. — Não chora.

Marinette desejou que o universo ouvisse e confirmasse aquelas palavras. Queria do fundo do coração que tudo ficasse bem.

Estranho amorOnde histórias criam vida. Descubra agora