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Único

De: Kim Namjoon

As vezes eu me pergunto se você preferia não ter me conhecido, ou se eu preferia não ter conhecido você. Acho que pensar assim seria quase como descartar um livro inteiro apenas porque no final as coisas não ocorreram do jeito que você pensava, ou dizer que uma série de TV inteira é ruim só porque alguns personagens acabaram machucados no fim. Depois que você foi embora — há exatas 12 horas — me pergunto se os diretores de filmes de romance não se sentem culpados de dar uma ideia totalmente absurda do que é o amor. Mesmo os filmes de drama, em que o protagonista morre tentando salvar a mocinha, ou naqueles em que no final cada um segue um caminho diferente.

Nenhum desses conseguem descrever o quão avassalador é quando você vê a pessoa mais importante da sua vida virando as costas e indo embora.

Não quero te culpar, óbvio que não, mas é que eu nunca fui egoísta na minha vida e no único momento em que eu quis ser, não pude. Tenho vontade de jogar a maturidade no lixo e te xingar o máximo que eu conseguir, queria fazer uma birra semelhante à que eu fazia nos meus primeiros dia de escola e os meus pais me deixavam sozinho na creche, queria gritar, colocar a culpa em você ou em qualquer outra pessoa, queria fazer chantagem apenas pra te ter de volta. Não quero agir como o adulto que eu sou, não quando não tenho um irresponsável como você pra tomar conta.

Lembra quando nos falamos pela primeira vez? Fazia duas semanas que eu estava te encarando na biblioteca, e você me achou esquisito demais, o que é um deveras irônico já que era você quem estava vestido de preto da cabeça aos pés e com uma gargantilha brilhante no pescoço, seus cabelos batendo no ombro te faziam parecer um delinquente — uma palavra que combina bem com você.

E, claro, em vez de chegar em mim como alguém normal e perguntar porque eu parecia um stalker, você resolveu dizer: "Por acaso eu já pichei seu muro? Ou te roubei? Na última vez que alguém me encarou assim foi só para chamar a polícia." E eu acho que você se achava muito legal dizendo isso, mas eu só te achei estranho. Uma coisa em comum entre o nosso início e o nosso fim é que ambos tiveram uma essência especial que define exatamente você e eu.

Lembro de tanta coisa que antes não fazia questão de reviver. Lembro de quando você implicava comigo por causa das palavras formais demais que eu usava. Lembro quando você ia me buscar na faculdade com aquele sorriso de lado estampado no rosto, fazendo questão de mostrar pra todo mundo que eu era seu — e eu era, ainda sou. Lembro quanto tempo do meu dia eu gastava só olhando para sua boca.

Merda, eu já sinto tanto a sua falta.

Me sinto mal por em vez de querer que você vá viver o seu sonho, eu prefira que você fique aqui fazendo as mesmas loucuras de adolescente de sempre. Estou há cinco passos de largar essa merda de papel e caneta, e em vez disso ir pegar um avião nesse exato momento para te encontrar. Como vou ficar sem você agora?

Queria que você soubesse que só te deixei ir porque eu não aguentaria te ver tocando guitarra na sua garagem sabendo que você poderia ter ido para os palcos e feito o mundo inteiro lembrar do seu nome.

Eu te amo tanto, Yoon.

Vou continuar te amando de longe, e eu espero que quando nos encontrarmos de novo você tenha uma música escrita para mim.

Essa carta nunca foi entregue.