CAPÍTULO 2

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Meu vô Marcos havia me enviado uma carta, MEU VÔ MARCOS HAVIA ME ENVIADO UMA CARTA, eu não estava conseguindo digerir aquela informação, parada a uns dois minutos no meio da sala, sem conseguir expressar nenhuma reação, fiquei tentando entender, o que o tinha levado a fazer aquilo.

Poderia ser peso na consciência por ter visto a única neta viva apenas três vezes na vida, sendo uma delas o velório de sua filha, minha mãe? Poderia aquela carta ser um pedido de desculpas ou uma tentativa de aproximação?

Eu duvidava disso, por que tentar se aproximar após tantos anos, quando nunca antes demonstrou uma gota de afeto por mim? Por que fingir ser um bom homem, se quando sua única filha estava presa a uma cama de hospital, ele preferiu ficar tomando água de coco na praia?

Segundo meu pai, meu avô e minha mãe já foram próximos, mas após o falecimento de minha avó materna, seu Marcos saiu em uma viagem pelo mundo, vivendo uma vida de nômade e por isso se afastou da família. Sendo essa história verdadeira ou não, eu não nutria nenhum carinho por ele, por que se importar com quem não dá a mínima pra você?

Percebendo meu espanto diante da situação, meu pai retoma o diálogo:
- Lena, você não precisa abrir a carta ou o pacote se não quiser, você não deve nada a ele e a escolha é sua, mas como isso com certeza é uma surpresa, acho que você poderia pelo menos checar o que é, aqui está - ele abre a gaveta da cômoda e tira de lá um pequeno pacote amarelado, que estende em minha direção - me conte se for algo relacionado a mamãe.

-Claro pai - digo enquanto pego o envelope de suas mãos, o qual encaro como se contivesse todos os segredos do mundo, o que era bem improvável devido ao seu tamanho e formato, que mais se assemelhava ao de um livro.

O pacote era leve, confiro o remetente como se ainda fosse difícil acreditar, mas lá estava o nome do meu avô e do outro lado o meu no destinatário: Rosa Helena Assunção.

Todos sempre me chamavam de Helena, mas meu primeiro nome era na verdade Rosa, assim como o da minha mãe, Rosa Cristina, e o da minha avó, Rosa Maria, e assim por diante com todas as primeiras filhas da minha família materna. De forma com que minha avó, bisavó, tataravó e a mãe dela tinham o mesmo nome.

- Vou me deitar agora, o dia foi longo - digo rompendo o momento de silêncio e então me dirijo em passos lentos até meu quarto - tenha uma boa noite.

Pela primeira vez no ano luto contra todos meus instintos e abandono minha rotina, não tomo um banho quente, não janto uma refeição equilibrada, não reflito sobre os aspectos que posso melhorar, não planejo o dia posterior e não termino os deveres pendentes, apenas me atiro na cama e encaro o teto me questionando, do porquê ainda dar tanta importância para alguém que mal conhecia? O porquê de me abalar com algo tão trivial?

Me questiono até meus olhos se fecharem e minha mente formular sonhos. Vejo um senhor de camisa estampada me encarando de cima para baixo, fazendo eu me sentir um ratinho. Me vejo encolhendo com o peso daquele olhar até me tornar alguém fácil de esmagar.

Sinto medo como se fosse uma criança e então saio correndo para dentro de um armário, onde posso me esconder. Olho pela fresta da porta até ouvir uma voz ríspida dizendo entre dentes:

- Por que Rosa Cristina, porque trouxe mais uma Rosa ao mundo para sofrer? Por que deu continuidade a esse ciclo de dor? Eu não quero ter nada a ver com isso, não vou mais tornar a ver você ou a garota.

Vejo uma silhueta tão familiar cair de joelhos, chorando aos prantos enquanto implorava para o pai não a deixar. Ouço os soluços e gritos da dor da separação. Encolhida no escuro me pergunto se a culpa de tudo aquilo era minha?

As 12 Pétalas da RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora