hell | minbin

único.

O silêncio instalado fazia seus pés travarem no chão, seus pensamentos incómodos e desgastantes percorria toda sua mente em uma corrida calma e lenta, como se aquilo a qualquer momento o matasse. Abrir aquela porta seria seu pior pesadelo, sua vida nunca seria a mesma, seria somente um vazio perfurante e solitário, mais e mais a cada dia.
 
Se permitiu respirar antes de segurar a maçaneta, sentia todo seu corpo pesado, sua vida dependia daquilo.
 
- Vamos Lee Minho, você consegue. – sussurra a voz melódica atrás de si. Ah, aquela tristeza virou ódio, se misturando com o medo e desespero. A moça com cabelos cor caramelo e o corpo bem moldado no vestido vermelho era sua maior inimiga. Queria tanto reagir a qualquer provocação vindo dela, mas estava sem forças, queria se manter firme por aquele que tanto  amava.
 
Virou a maçaneta de uma vez só.
 
Queria gritar até não ter mais voz e todos os anjos do céu poder ouvir seu pedido de socorro. Queria que chegasse ao inferno e o diabo desse risada da sua cara, iria até o inferno e paraíso para ter ele novamente.
 
- Não, não, não, por favor. – a voz saia pela garganta que ardia todo seu peito, e novamente as  lágrimas caíram de forma contínua, sua visão mesmo embaçada ainda via o que tanto o machucava.
 
Dobrou os joelhos no chão e os arrastou pelo piso frio e vermelho de sangue. Suas mãos foram parar no rosto pálido do corpo a sua frente.
 
Podia escutar a risada de Changbin, tocar seus lábios, sentir seu cheiro, ainda tinha lembranças de suas mãos juntas. Ou quando era inverno e tinha a mania de colocar as mãos juntas no bolso, logo sorrindo bobos. Acordar cedo vendo o rosto amassado do mais novo, o cabelo bagunçado ou o mau humor matinal. Fingir que sua comida está boa e dar parabéns pelo simples ovo quebrado. As lembranças ainda frescas junto a Seo o matava por dentro, como deixava a alegria percorrer por segundos e sorrir.
 
- Meu amor, acorda por favor – Não tinha mais forças nem na voz, física ou mental. Seu sussurro saiu tão baixo que jurou ser apenas um pensamento.
 
O cheiro de cigarro se espalhou pelo quarto, junto ao som de uma risada. Minho não olhou para trás.
 
- Gostou do seu presente, vamos lá, amor. Lhe dei com tanto carinho. – a risada alta ecoava pelo ambiente. O cigarro nos lábios vermelhos de batom fazia jus ao cheiro de morte, ambos horríveis. – Nunca negue alguma coisa a sua mãe, sim? – tragou mais uma vez.
 
Os solavancos de seu corpo com os soluços fazia seu corpo doer. A dor psicológica se alastrou pelo corpo.
 
Prometeu todas as juras de amor, falou palavras bonitas e clichês, olhou bem no fundo dos olhos de seu amor todos os dias e disse que o amava. Fez o impossível e o possível, sorriu para o ver sorrir, chorou para mostrar que também é fraco, foi forte para mostrar que podia contar consigo. Contou as estrelas a noite junto a Changbin, prometeu ser as três Marias de sua vida, Changbin, Minho e os gatos, apenas os três. Agora ele era a estrela mais linda, talvez tenha levado a promessa muito a sério.
 
- Sai daqui.
 
Foi a única coisa dita antes da mulher sair. Não queria ver seu rosto, escutar a voz ou ter algum  contato com ela.
 
A única coisa importante na sua vida se passou despercebido entre linhas melódicas que cantava consigo, os versos escritos no caderno de rascunhos, nas notas do violão que praticavam. Aquela seria a última vez abraçando o corpo pequeno, faria de tudo para o sentir abraçado novamente.
 
Ali, encostado na parede, descobriu a maior tristeza da sua vida, podendo soluçar, gritar e chorar até que seus pulmões não aguentasse ou a água do corpo acabasse. Queria se libertar daquela dor mesmo sendo eterna, não queria dizer adeus, jurou que nunca iria dizer adeus.
 
Ele o amou como se fosse dependente daquilo. O amou até o primeiro dia de sua vida até o último. O amara até o final, mesmo que nunca diga em voz alta um adeus.
 
Não sabia se ele seria aquele que estaria ao lado do diabo rindo de si, ou apenas um anjo chorando ao seu lado.