Já se faziam muitos anos desde o último dia que havia o visto. Ele estava ainda mais lindo. Será que é pedir demais que ele não se lembre dos meus exageros de criança? Talvez seja destino tê-lo encontrado assim, ou não. Quer saber? Eu não vou ficar me martirizando com uma porcaria de coincidência quando tenho inúmeras responsabilidades da faculdade para resolver.
Melanie, uma garota de vinte e dois anos de idade, que vive com a mãe depois que se formou no Ensino Médio, e agora cursa Economia em uma das universidades mais renomadas no ramo do país. Muito prazer, essa sou eu.
Em torno de uns dezessete anos atrás conheci um garoto na escola. Éramos todos criança, mas por sermos os mais aplicados da turma, nos tornamos amiguinhos. Ele tinha uma beleza e um carisma que se destacavam. Na verdade, era um bom menino. Enrico era seu nome, e de fato, até isso eu achava lindo nele. Basicamente tudo que fazíamos era junto. Nossa hora do lanche era a mais divertida, nossas aulas de educação física eram as mais legais, nossos desenhos de educação artística eram os mais elaborados, e nossas somas de matemática eram as mais exatas, até que ela chegou. Alana veio com a proposta de acabar com a minha amizade com Enrico. Ela surgiu como quem não queria nada, e por ser nova, era óbvio que o menino tentaria se aproximar, ele fazia isso com todos. Nós a trouxemos para perto, mas se arrependimento matasse, eu estaria bem enterrada a muito tempo. A partir daí eu perdi um amigo. A menina sempre me jogava contra ele, dizendo coisas das quais eu não fazia, e todas as vezes que eu tentava corrigir, ou falava que ela estava inventando, era tida como ciumenta por todos, até mesmo pela professora. Diziam que eu queria Enrico apenas para mim, o que não era verdade, já que sempre fomos amigos de todos.
Depois de tanto tentar provar minha inocência, eu simplesmente fiquei chocada quando num belo dia fui chamada na direção, e ao chegar lá estavam Alana e Enrico dizendo que eu havia feito coisas horríveis com a garota. A diretora chegou até mesmo a perguntar se eu "namorava" o menino, mas eu não sabia onde colocar minha cara. E foi ali que decidi me afastar de vez. Segui o restante do ano com algumas amiguinhas e quando fomos para o Fundamental II, mudamos de escola. Naquele momento eu me vi convicta de que nunca mais veria Enrico.
Era o que eu imaginava, mas o destino em conjunto com o Instagram decidiu me pregar uma peça. Rolando o meu feed inicial, surgiu como sugestão para seguir, o próprio. Lá estava a conta de Enrico, que para minha sorte, ou azar, era aberta. E eu mal sabia o que estava reservado para mim.
Fechei a rede social imediatamente e ainda encerrei o aplicativo, mas não sem antes garantir de que veria novamente. Salvei o link da conta, e deixei armazenada nas notas do meu celular.
Uma correria sem igual começava. Eu estava voltando para minha antiga cidade com minha mãe, que havia acabado de se separar de meu padrasto, e com isso, eu precisaria fazer a transferência de universidade. Minha cabeça estava a mil, minha mãe estava a mil. O término já era algo do qual eu esperava, mas não estava totalmente preparada. Tínhamos acabado de perder meu avô, e por um instante eu quis que tudo parasse, para que eu pudesse acalmar minhas ideias, mas eu sabia o quanto aquilo faria bem para ela, então o melhor a se fazer era embarcar na loucura da vida, e seguir adiante.
Consegui enxergar nitidamente o sorriso de meu pai assim que disse que passaria mais um tempo com ele enquanto estivéssemos procurando uma casa para morarmos. Quando meus pais terminaram, minha mãe decidiu que moraria no litoral, e como criança, eu não queria perder tudo que tinha, então optei por ficar com ele, e permaneci dessa forma até me formar na escola, quando decidi morar em outro estado com minha mãe. Em toda minha vida eu os admirei por tudo, principalmente pela forma de se virarem sozinhos na vida, toda essa independência me inspirava a viver da melhor maneira possível. Eu os amo da maneira mais pura que existe. Nunca foi fácil passar por tudo que passei, e sei que para eles nunca foi fácil cuidar de mim. Tinham dias em que a saudade apertava, e que uma simples ligação não resolveria. Muitas das vezes, após perrengues, desilusões na escola, tudo que eu mais desejava era um abraço e o colo da minha mãe me dizendo que tudo ficaria bem. E na faculdade, quando discutia com alguém do grupo de estudos, ou com um professor, o que eu mais queria era um abraço do meu pai para acalmar meus ânimos. Finalmente, depois de anos, estaríamos todos próximos novamente.
Terminei de arrumar minhas coisas já próximo do horário do jantar, e então corri para ajudar minha mãe na cozinha. Tudo que precisava da faculdade já estava certo, e a própria coordenação tinha se encarregado de acertar com a próxima que eu iria.
Nós iriamos embora em dois dias, e meu coração palpitava a cada momento, imaginando prévias da minha nova vida, com arzinho da antiga.
Quinta-feira chegou, e com ela veio a nossa viagem. Chegamos cedo na rodoviária, e assim que entrei no ônibus entendi que era exatamente ali que deveria estar. Eu tinha certeza de que aprenderia muito com tudo que estava por vir. Meu futuro dependia apenas de mim mesma, e que mal faz encarar tudo isso com um sorriso no rosto?! Eu poderia sim fazer de tudo isso uma nova oportunidade para acrescentar experiências em minha vida. Uma nova Melanie estava chegando para arrasar com tudo. Esse era o meu momento. O momento de crescer, aprender, inovar, era o momento de mostrar quem eu me tornei depois de tudo que passei.
Mal esperava para chegar e dar o pontapé inicial para essa mais nova experiência em todos os sentidos.
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Depois de Anos
General FictionE então tudo que me esperava era uma nova vida, bem, nem tão nova na verdade, mas eu estava disposta a passar por tudo e ver o que estava reservado para mim. Aprendi que nunca se deve rejeitar a oportunidade de viver uma nova aventura, e eu jamais...