Um encontro. Só de pensar nisso, os pelos da minha nuca já ficavam de pé e uma camada de suor começava a se formar em minha pele.
E naquele momento, essa era uma realidade.
Em poucas horas, teria meu primeiro encontro oficial. Essa situação por si só já era apavorante e eu não conseguia me manter quieto. Andando de um lado para o outro em meu quarto, tirando camisetas do guarda-roupa e verificando as mensagens do meu celular.
O nervosismo que escorria pela minha pele em formato de suor fazia com que eu não conseguisse decidir entre as quatro camisetas estendidas em cima da cama. Eram as mais bonitas que eu tinha, separadas especialmente para aquele dia. Os modelos eram iguais e sem estampas, mudando apenas a cor, e ainda assim era difícil escolher qual delas ficaria melhor em mim. Não que eu fosse muito vaidoso... Na verdade, o contrário.
Sempre fui uma pessoa que prefere ficar nas sombras, sem chamar muita atenção. O que é um tanto difícil, sendo o aluno mais inteligente do primeiro ano da Escola Estadual Professor Caio Albuquerque (modéstia à parte). É a maior escola da cidade, onde frequentemente enfrentamos olimpíadas de matemática, física, testes de química e às vezes de português. Eu prefiro os números, e sempre me saio muito bem nesse quesito. Consequentemente, todos os alunos já ouviram falar de mim: Arthur Magalhães. Entretanto, as garotas sempre se mantiveram longe.
Em meus dezesseis anos de vida, até aquele momento, nunca havia sido capaz de manter uma conversa com mais de seis palavras com uma garota. Consequentemente, o encontro foi totalmente planejado por ela.
Ah, sim, ela... Aquela garota.
Ana Clara era conhecida na cidade por ter uma beleza extraordinária. Os cabelos cacheados, ruivos e longos, olhos esverdeados que lembravam folhas de limoeiro, os lábios avermelhados naturalmente, em conjunto com as sardinhas espalhadas pelo rosto e os ombros delicados, garantiram a ela dois prêmios em um concurso de beleza da cidade e o coração de muitos garotos. Inclusive o meu.
Éramos da mesma escola e às vezes eu a via na praça central da cidade, com suas roupas estilosas e suas amigas, também muito bonitas, porém um tanto mais escandalosas. Quando ela me mandou mensagem, nem acreditei que estava falando comigo. E, como o bom inexperiente que eu era, entrei em pânico e pedi ajuda para os meus dois melhores amigos, Geovani e Marcos. Ambos tinham namoradas e muita experiência quando o assunto era mulher. Eles me instruíram a ser educado e não demonstrar muito que eu estava caidinho por ela, mantendo a "compostura".
"Isso afugenta as garotas", disse Geovani, com aquele tom de voz que ele usava para parecer um mestre ensinando a arte da magia, "Elas não gostam de caras grudentos demais".
Passamos quase uma semana inteira trocando mensagens. Ela sempre me mandava alguns memes fofos e os emojis cor-de-rosa me faziam sorrir. Era como estar conversando com uma princesa. Depois de alguns olhares trocados nos corredores da escola, Clara me chamou para ir até sua casa, com o pretexto de ajudá-la a estudar matemática.
"Ela provavelmente quer te beijar", foi que Marcos disse com um sorriso malicioso nos lábios quando contei a ele. "As garotas nunca te chamam apenas para estudar ou só ver filmes".
Ao tomar essa ideia, fiquei ainda mais ansioso para isso. Só de imaginar a possibilidade de Clara querer alguma coisa comigo, um garoto tão comum e sem graça - aqui vamos deixar de lado o fato de seu ser bom em exatas, okay? -, já fiquei nas nuvens.
- O que significa isso, Arthur Magalhães? - minha avó entrou no quarto gritando, me despertando dessas últimas lembranças.
Ser discreto nunca foi o forte da minha família, muito menos da senhora Angélica Magalhães, uma mulher de cabelos brancos como neve, olhos castanhos escuros e um sotaque bem puxado mineiro.
- Que susto, Dona Angélica. - respondi no mesmo tom.
- Por que essas camisetas tão' jogadas em riba da cama? E por que cê' ainda tá de toalha? - ela me olhou de cima a baixo, com uma reprovação evidente no olhar. - Quando pegar um resfriado, aí eu quero ver!
Suspirei, reprimindo a vontade de revirar os olhos.
- Lembra aquela garota que te falei, vovó? - Senti minhas bochechas queimarem suavemente. Embora minha avó fosse inimiga da timidez, ela também era minha melhor amiga. Eu contava tudo para ela.
- Aquela que jogou uma bola no lugar onde meus bisnetos estão guardados? - dessa vez ela soltou uma gargalhada.
Balancei a cabeça negativamente.
- Não, não essa. Estou falando da Clar...
Minha avó agora estava com os olhos cheios de uma animação que não pude entender.
- Fiquei sabendo que o nome dela é Sabrina, não é? Filha do José Ricardo, aquele cowboy charmoso que gosta de exibir os cavalos na cidade. - ela continuou rindo. - Aquela garota e você dariam um belo parzinho, não acha?
Fiz uma careta de aversão.
- Vovó, não! Aquela garota é um monstro! - exclamei, me virando de costas para ela, fingindo estar ocupado demais com minhas roupas.
- As mais irritadas são as melhores, ora. Tem mais energia correndo pelas veias! - ela gesticulou dramaticamente, entrando em meu campo de visão.
Revirei os olhos, impaciente. Pronto para jogar meus melhores argumentos contra a existência de Sabrina Ávila, me voltei para vovó, que já estava saindo do meu quarto. Dei de ombros e fechei a porta, voltando a atenção para minhas camisetas.
Eu tinha um encontro, não dava para perder tempo pensando naquela garota insuportável.
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Garota Errada | ✓
Short StoryArthur Magalhães, o garoto mais inteligente da escola, está prestes a ter seu primeiro encontro com a garota mais bonita da escola, - se não da cidade-, Ana Clara. Ele tirou a sorte grande e sua felicidade o cega a ponto de não se conter com as pal...