library.

only.

— Lumus! 

Minho proferiu o feitiço, vendo a pequena bola de luz se formar na ponta de sua varinha, usando-a para iluminar o corredor escuro que dava saída à sala comunal da sonserina. Os sussurros dos quadros pregados à parede, que reclamavam da luminosidade e alegavam estar dormindo. O Lee apenas não dava muita bola, eles já deveriam estar acostumados com suas idas noturnas até a biblioteca.

O sonserino tinha pesadelos frequentes, todos relacionados a ele debaixo d'água, com a respiração lhe faltando os pulmões enquanto se debatia em busca de oxigênio numa cena agonizante, tateando o uniforme pesado que vestia numa tentativa inútil de alcançar sua varinha, até que enfim seu último suspiro sempre era adornado das únicas bolhas que subiam até a superfície e seus olhos se fechavam morbidamente, vendo seu corpo se afundar na vastidão da água.

Ao acordar num ímpeto de desespero, inspirava e expirava freneticamente, entoando barulhos que se prendiam em sua garganta e saíam entrecortados, aflitos e buscando o ar que parecia haver perdido durante o sono. Seu colega de quarto sempre acordava e o ajudava durante as crises, mas não poderia permitir que o Hwang se privasse do seu descanso por sua causa para sempre, por isso ele evitava de dormir, poupando não só a si, como aqueles que eram afetados por seus pesadelos sem fundamento.

Seus lábios sibilaram um ruído ao abrir a porta da biblioteca e se deparar com todos aqueles volumes de 'Estudos Avançados no Preparo de Poções' enfileirados numa prateleira bem na sua frente, prontos para serem devorados por seus olhos numa ávida leitura. Fechou a porta e correu até àquelas preciosidades com a capa trabalhada num couro envelhecido e com as páginas salpicadas numa mistura de poeira e teias de aranha, fazendo o bruxo soltar um espirro baixo ao abrir o livro.

Conseguiu ler algumas páginas antes de soltar um bocejo e o som de passos ecoar pelas paredes, acompanhados de murmúrios que claramente eram proferidos pelos quadros que deveriam estar adormecidos. Minho aguçou todos os seus sentidos e colocou rapidamente o livro de volta na prateleira e caçou a sua varinha dentre o grosso manto com adornos esverdeados que trajava o brasão da sua casa no peitoral direito.

O som do solado do sapato em atrito ao chão no corredor vazia fazia-se cada vez mais presente, e o Lee havia entrado em estado de pânico, tentando achar sua varinha para se camuflar num feitiço desilusório, para que, quando fosse embora, pudesse aparatar até a sala comunal da sonserina o mais rápido possível. Os passos perigosamente audíveis, denunciando a proximidade, fazia seu corpo entrar em estado de combustão. Ele não podia ser pego, ou entraria em sérios problemas com Minerva, o que levaria, inevitavelmente, a Dumbledore.

Ao ver que o objeto repousava sobre a mesa onde estava sentado, já era tarde demais. O trinco da porta ressoou sobre o ambiente silencioso e o sonserino congelou no lugar, antes de se esconder dentre aquela imensidão de livros e o insuportável cheiro de poeira que atiçava seu nariz a um espirro. 

Por favor, não agora! Por favor, por favor!

Ouviu os mesmos passos cada vez mais próximos do pequeno canto empoeirado e com algumas pilhas de livros onde ele estava agachado, evitando contato visual e usando as mãos cobertas pelas luvas para cobrir o nariz que insistia em coçar com o incômodo em seu nariz. 

Por uma fresta de uma das prateleiras, pôde ver a luminosidade da varinha e a longa capa preta com detalhes em um vermelho-escarlate que se balançava ao caminhar, os sapatos gastos e passos hesitantes e cautelosos, Minho não conseguiu ver nada além disso. É claro que tinha de ser um grifinório, ficaria surpreso se não fosse, não haveria bruxo tão intrometido quanto um da casa rival.

— Eu sei que está aí, apareça ou você estará encrencado — A voz ordenou, tentando parecer firme com as palavras, mas sua voz morreu no fim da frase ao engolir em seco. Humpf, estúpido.