Londres, 1835

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A primeira coisa que Gerard viu quando pousou naquela terra desconhecida foi - sem sombra de dúvidas - uma batida de ratos correndo na direção oposta a deles, ratos cinzas com rabos pretos e longos.

Estavam nos braços um do outro - ele e Frank - num abraço desajeitado.

Way fitou Iero diretamente nos olhos e falou qualquer coisa que veio à sua mente naquele instante. "Quando era adolescente tive dois ratos de estimação. Não era comum, mas então as pessoas passaram a fazer isso, e virou uma trend. O branco se chamava Basco, a cinza se chamava Doll."

Frank franziu o cenho, mas também contribuiu com algo. "Eu... eu tinha uma cabra. Ela não tinha um nome."

Gerard virou a cabeça, estavam em um beco. Viu construções obsoletas ao redor deles. Um cavalo puxando uma carroça. Crianças descalças nas ruas, com suas roupas em fiapos e mãos sujas.

"Trabalhadores de fábrica." Frank ergueu um dedo em demonstração, quando percebeu que Way observava com curiosidade. "Pequenos o suficiente para se enfiarem onde os adultos já não cabem mais."

Gerard não disse mais nada, saiu dos braços dele e foi andando até chegar ao calçado, quase se bateu com um homem, que exclamou em irritação: "Vá passando com os olhos ao chão e perderá os dois!" Ele quis rir. Pôs as mãos no rosto e olhou para o homem com os lábios quase abertos. Aquela era uma pessoa do passado, de verdade. "É um maluco! Raios!"

Frank prostrou-se ao lado dele rapidamente e lançou-lhe um olhar. "Sem interações significativas." Ele fez um sinal com as mãos para que o homem fosse embora. O que ele fez, em meio à outros falados estranhos. "É Londres. Para a sua informação. Vamos dar uma passeada rápida por aí. Mas já te aviso, não há nada de especial. Os Beatles ainda não nasceram."

"Que realidade é essa? Digo, qual o número, a ordem, sei lá!"

"O ano é 1835. Não importa o número, tudo que acontece aqui aconteceu na sua realidade, no passado. E na minha também, no futuro. E em todas as outras."

Gerard arregalou um pouco os olhos e balançou a cabeça. "Okay. Então vamos dar uma olhada."

Haviam muitos ratos pela cidade. Não poderia descartar esse fato de sua mente. Algumas pessoas não cheiravam muito bem, o que não era uma surpresa. Pararam em frente à uma barbearia por alguns segundos. Olhou para Frank, que balançou a cabeça em negação antes mesmo que qualquer coisa fosse dita.

"Eu gosto do meu cabelo como está, você não?"

"Eu adoro o seu cabelo." Gerard respondeu, imediatamente.

"Eu quis dizer, você não gosta do seu?" Ele refez a pergunta, com um sorriso no canto dos lábios. "Mas obrigado, de qualquer forma."

Gerard revirou os olhos para si mesmo, tão estúpido, mas sorriu um pouco. Talvez a pressão daquela realidade já estivesse mexendo com seus neurônios, se tal coisa fosse possível. "Eu mesmo corto o meu cabelo, quando acho que preciso de um corte, o que não é o caso agora. Na verdade, não é o caso na maioria das vezes." Deixar o cabelo crescer era uma certa rebeldia adolescente que ele jamais havia deixado ir embora.

"Você está feliz?" Frank o perguntou de repente. "Visitando esse lugar."

Gerard refletiu sobre a pergunta dele.

As crianças trabalhavam como escravas - isso era um fato histórico - e as mulheres aparentavam estar cansadas, com marcas que pareciam erradas em seus rostos tão jovens. Sujeira rondava todos os cantos e poucas pessoas se destacavam, sempre as mais bem vestidas chamavam sua atenção. Pensou que haveriam mais assim, mulheres com vestidos exuberantes e penteados gigantes. Naquela hora do dia, no entanto, quando os trabalhadores estavam deixando seus postos de trabalho, a realidade era um tanto quanto diferente.

Endless † FrerardOnde histórias criam vida. Descubra agora