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Sabina Hidalgo's Pov.

Any continua tagarelando sobre como está animada para essa noite por mais ou menos uma hora e meia. Eu me permito apenas em concordar e fingir animação para a grande noite dela.

Agora, nós acabamos de chegar em sua casa e eu amo estar aqui. Amo a família da Any, os tenho como minha própria família.

— Sabina! Que saudades que eu estava de você. — Belinha, irmã da Any diz vindo até mim e me dando um abraço.

— Eu também estava morrendo de saudades, Belinha. — Retribuo o abraço, de bom gosto. — Oi tia, tudo bem? — Pergunto a mãe da Any, que estava na cozinha provavelmente preparando o jantar.

— Sabina! Nem vi você chegar. — Ela exclama, limpando as mãos em um pano e vindo até mim, também me abraçando. Eu amo brasileiros, sempre tão calorosos. — Como está? Senti sua falta esse verão.

Penso um pouco antes de responder.

Eu estou bem? não. Vou falar isso? não também.

Amo a mãe da Any, e confio muito nela. Mas não acho que esse seja o momento de ser sincera agora, talvez outro dia.

— Estou bem, tia. Senti sua falta também. — Me separo do seu abraço, sorrindo.

Ela me encara por alguns segundos. Ela sabe que não está tudo bem, obviamente não está tudo bem, ninguém fica bem tão rapidamente sabendo que seu pai se matou a menos de 6 meses atrás. Mas, para a minha grande sorte, ela escolhe não me questionar.

— Apareça mais! Adoro ter você por aqui, nós adoramos, não é Belinha? — Belinha rapidamente se vira para nós.

— Sim, eu adoro você por aqui, você é muito melhor que a Any! — Ela diz, e vejo pelo canto do olho Any fazer uma cara de ofendida. — Como foi seu verão? Foi legal?

Merda. Merda. Merda. Merda. Merda.

Mil vezes merda.

Tudo o que eu venho evitando nesses últimos tempos é essa pergunta. E estava indo bem, ninguém tinha me perguntado isso até então.

Mas claro, não é culpa da Belinha. Ela tem nove anos, é uma criança e provavelmente ninguém a contou sobre o que aconteceu com o meu pai. E eu entendo, nenhuma criança merece saber de uma coisa dessas, se eu pudesse também teria poupado Luna de saber.

Respiro fundo, olhando para Any e a Tia Priscila que tem caras aterrorizadas.

Vamos lá Sabina, mostre a eles que você é forte. Ou pelo menos, finja ser apenas para convencer os outros.

— Foi... Bom. E o seu? — Pergunto, tentando parecer o mais natural possível e vejo as expressões de Any e Priscila se suavizarem um pouco. Fingiu lindamente Sabina, você está de parabéns.

— Ah, foi muito legal! Brinquei um monte com os meus primos, não queria ter voltado. Você tem que ir com a gente na próxima vez, Sabina! — Ela exclama, animada e a tia concorda alegremente.

Como dizer não para elas?

— Claro! Só me chamar que eu vou! — Digo e Belinha comemora de uma forma idiota, me fazendo rir.

— Ok, agora chega! Eu e Sabina temos que nos arrumar e não vamos conseguir nunca se vocês ficarem tentando rouba-la de mim. — Any diz, fingindo estar brava e me puxando para um abraço.

Dou risada pelo seu drama e passo meus braços pela lateral do seu corpo a abraçando de volta. Encosto minha cabeça no seu ombro por dois míseros segundos que são o bastante para eu sentir o cheiro de baunilha que irradiava seus cabelos.

Eu poderia ficar assim por horas. Sem brincadeira.

— Ok vocês duas! Vão logo se arrumar. — Tia Priscila revira os olhos e Any me solta dando risada, juro que já sinto falta do seu abraço. — Aliás, onde vocês vão mesmo?

— Não sabemos ainda, talvez comer em algum lugar, noite das meninas sabe? Queremos fazer algo diferente para comemorar o início do ano letivo. — Any fala naturalmente, até eu quase acreditei.

— Tudo bem, então vão logo! Me deixem terminar minha janta. — Ela nos expulsa da cozinha e eu e Any subimos dando risada para o seu quarto.

Já falei que amo a família de Any? Tudo com eles é tão leve. Eles se dão tão bem, sempre estão rindo de algo, sempre fazendo brincadeiras.

Sempre felizes.

Teve uma época que era assim lá em casa. Meu pai fazia ser assim. Ele e mamãe eram felizes, viviam brincando comigo e com Luna, nós éramos muito unidos.

Tinha o dia que toda a família cozinhava junta, normalmente nas quartas. O dia do filme que acontecia nas sextas. E, o meu favorito, o programa em família que acontecia nos finais de semana! Sempre variava, algumas vezes era idas à praia, as vezes nós íamos à praça e tomávamos sorvete ou íamos ao campo jogar futebol. Eu amava aquilo.

Meu pai e eu tínhamos um amor por futebol em comum, sempre que podíamos íamos ver o jogo do nosso time no estádio, e se não íamos para o estado colocávamos na TV mesmo e assistíamos com nossas camisetas.

E de um dia para a noite tudo mudou.

Papai ficou distante, não conversava, não brincava. Ele chegava do trabalho e ia deitar no quarto. As brigas entre ele e a mamãe surgiram e ficavam cada vez piores.

Não tinha mais o dia da família cozinhar. Não tinha mais dia dos filmes. Não tinha mais programas de família nos finais de semana. Não tinha jogos de futebol e muito menos idas ao estádio. Não tinha mais nada.

A casa vivia silenciosa, sem alegria, sem ser o que era.

Até que um dia, meu pai deixou de existir também.

Doeu e dói muito. Não consigo entender o porquê ele fez isso e confesso que já senti raiva muitas vezes dele. Ele não tinha o direito de me deixar assim.

Se antes de ele ir já estava uma merda, piorou completamente. Minha mãe não fala, não interagi, não se importa, não faz nada. Só existe. Chega do trabalho e fica em silêncio.

Sei que Luna está sofrendo muito com a perda do papai e a meia perda da mamãe, por isso eu tento me manter por ela. Ela não merece sofrer tanto e se eu puder tirar pelo menos um pouco do sofrimento dela eu vou fazer isso. Nem que isso em destrua por dentro.

— Sabina? Sabina! Hey! Sabina! Acorda. — Pisco algumas vezes, e noto lágrimas acumuladas nos meus olhos que eu trato logo de enxugar. — Tudo bem? Estou te chamando faz uns vinte minutos.

— Tudo, tudo sim. Só me distrai, pensando em algumas coisas. — É uma meia verdade, vai.

— Ah, tudo bem então. Vou tomar banho, aí depois você vai, ok! — Ela diz já entrando no banheiro e eu balanço a cabeça, mesmo que ela não possa ver.

Me lembro que tenho que mandar mensagem para o Noah e rapidamente pego meu celular, graças a Deus tenho o número dele salvo. Tomara que ele aceite, se ele não aceitar eu estou completamente fodida.

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⏰ Última atualização: May 31, 2021 ⏰

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