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Tintas estavam sendo seladas, pincéis amarrados, telas empacotadas e a parte de escambo para a compra da mula havia sido finalizada.

A primavera estava chegando ao seu ápice. Em quatro dias haveria o equinócio, e não podia deixar essa oportunidade passar.

-- Encre, seu safado! -- veio uma voz feminina que conhecia bem até demais, enquanto terminava de pôr os arreios no animal -- Achou que eu ia te deixar ir sem uma despedida?

Dando um rápido carinho à nova companheira, o jovem esqueleto aproximou do cercado, onde a mulher o esperava.

Se algo fazia jus ao nome de Eterna, era qualquer coisa que lhe fosse atribuída. Eterna energia, eterna determinação, uma amizade que pareceu existir desde a eternidade. Bom, tudo, exceto a paciência.

-- Pelo que sei, despedidas são para quando está havendo a saída.

-- É válida igual, baixinho. -- a ruiva jogou de volta, no usual tom excessivamente alto -- Não é sempre que alguém desses lados fica fora por dias só porque pode.

-- Não é "só porque eu posso". -- foi a resposta do pintor, voltando a colocar os mantimentos na mula de um modo que não causasse desconforto ao animal -- Você sabe como ficar sempre em um lugar só é fatal para inspiração...

-- Estou careca de saber.

-- ... e fazer pinturas puramente por ser minha ocupação é fatal para minha paixão, e isso não é algo que eu posso deixar acontecer.

-- Mesmo sob os riscos?

Embora a face permanecesse neutra, seus olhos mudaram de cor, o fazendo ter que usar ajustar a bagagem como pretexto para olhar para baixo.

O lugar onde pretendia ficar era um tanto longe. Mesmo com um equino, só chegaria quando não fosse mais dia, mesmo que fosse manhãzinha.

-- Eu vou levar meu mosquete comigo, e procurar uma estalagem quando estiver entardecendo.

Eram apenas palavras, mas pareceu acalmar o espírito da mulher.

Eterna, desde criança, possuía uma certa fixação com criaturas sobrenaturais, ao nível de, enquanto a quase uma década Encre já havia se dado conta que a maioria das histórias eram para assustar criancinhas para obedecerem, a manter - não que fosse diferente de no mínimo três quartos do burgo, com o último quarto seguindo o fluxo para evitar rejeição - e mesmo se unir ao grupo de caçadores - cujas histórias podiam perfeitamente ser invenções ou hipérboles, mas não diria isso em voz alta, não na frente da amiga.

Finalizado o trabalho, foi sua vez de subir no lombo da mula, se ajustando na sela antes de dar ao animal comando para andar.

-- Até mais, baixinho.

-- Até mais, Eterna.

...

Cumprindo a conversão da frase em uma mentira branca, só procurou uma estalagem ao chegar.

O lugar era um vilarejo diferente do burgo que estava acostumado. Em vez de contornado pela floresta, era como se fizesse parte dela, as estradas, casas e comércio serpenteando por entre flora local, apenas a ausência de entrada para estrada entregando onde o vilarejo acabava e a floresta realmente se tornava pura.
Os únicos edifícios que possuíam múltiplos andares eram as estalagens e o escritório do médico local, além da igreja, porém o último estava constantemente com as portas fechadas, mesmo o sino negligenciado, e sabia muito bem o porquê.

Querendo ou não, o vilarejo fazia parte do reino, então precisavam de ao menos uma construção para dizerem que seguiam a religião oficial. Uma fachada. E exatamente por isso havia a buscado em específico.

Vampire Verse - Sun and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora