SHAWN

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Ah, natal. Eu, simplesmente, amo o natal.

Talvez tenha algo a ver com o fato de minha irmãzinha ter nascido um dia depois dele e ela ter sido o maior e melhor presente que meus pais já me deram nessa vida ou talvez seja apenas pelo clima familiar gostoso que norteia minha casa desde que eu me entendo por gente.

Aali está muito bem, eu acredito que ela já esteja até mesmo curada o que me alivia muito. Não consigo imaginar o que seria de mim sem minha irmãzinha.

Esse é o primeiro natal que eu passo namorando e confesso estar um pouco nervoso.

Comprar o presente de natal da Camila foi uma missão muitíssimo difícil. O que se da para a pessoa que ama? Roupas?! Clichê e sem graça. Sapatos? Camila deve ter uns 20 pares. Maquiagem? Seria mais fácil não dar nada a ela... pensei em trocar nossas alianças mas, não sei, talvez não fosse algo tão romântico e fofo.

Mamãe me deu a ideia de dar a ela uma viajem. Eu amei a ideia mas, em contrapartida, me sentia extremamente nervoso e ansioso.

A ideia era que nós viajassemos juntos, só não sei se ela gostaria de sair agora da cidade, mesmo que seja por apenas três dias, já que estamos há exatos dois dias de receber o diagnóstico de cura da minha irmãzinha.

Aali passou por todo o tratamento sorrindo, brincando, cantando e sendo a menina doce e alegre de sempre. Claro que com suas pequenas limitações mas nada que um ou dois dias de repouso não a fizessem voltar a ativa novamente.

Graças a Deus ela não precisou passar por cirurgia e permanece com seu, ainda pequeno e não completamente formado, útero. É muito estranho imaginar que Aali, com apenas oito anos de idade, teve problemas com seu útero. Quer dizer, ela nem se quer menstruou ainda. Às vezes eu não entendo as injustiças desse mundo.

Às vezes não, nunca!

•°•°•°dois dias depois°•°•°•

Era agora, mamãe estava prestes a chegar com Aali do que esperamos que seja sua última consulta com a oncologista.

Minhas mãos suavam contra a coxa trêmula de Camila que estava sentada no sofá ao meu lado. Aposto que se eu pudesse enxergar estaria rindo agora do fato de estarmos todos reunidos como uma típica cena de um filme dramático com um final super feliz.

Acontece que nós vivemos, realmente, um filme dramático com um final feliz (espero).

– A sua tenção me deixa nervosa. - ela tentava me passar calma, mas era impossível não perceber sua aflição e ansiedade.

– Me desculpe, eu não consigo me conter. Elas estão demorando demais.

– É, eu sei, mas desse jeito eu não estou sendo útil pra você parece até que eu estou mais nervosa que você, meu amor. - bufou.

– Você é útil só por estar aqui. Entenda, Camila... meu mundo é você e eu só me sinto bem e completo quando estou ao deu lado.

– Aff, não me faça chorar.

Soltei um leve riso e acariciei sua bochecha. A porta se abriu mas eu não ouvi nada além de passos se aproximando de nós.

– Meu Deus, Karen, não faça mais suspense, precisamos de uma resposta! - a voz aflita de Sinueh quebrou o silêncio que variava entre desconforto, ansiedade e desespero.

– Me desculpa, só estou tentando entender o porquê de vocês todos estarem com essas caras de preocupação... todos nós já sabíamos que nossa menina é guerreira e protegida por Deus, Aali está curada e não precisará de cirurgia.

Me permiti chorar e pude sentir os braços de Camila cercarem meu tronco.

– Ela está bem, amor. Nossa menininha está bem.

– Shawn?! - a voz doce de Aali chegou aos meus ouvidos – Porque você está triste? Mamãe disse que não tem mais bichos feios na minha barriga. Era pra você estar feliz! - ela estava indignada mas, mesmo assim, tentava ser o mais doce e carinhosa possível.

Minha irmãzinha era o serzinho mais adorável que já existiu nesse mundo.

– Eu não estou triste, Aali. Estou muito feliz! - dirigi minha mão direta na direção da sua voz e ela prontamente colocou minha palma em sua bochecha. Acariciei o local.

– Mas você está chorando. Eu só choro quando estou tristinha ou com muita dor. Você está com dor, maninho? - senti seu leve desespero e logo sorri.

– Não, meu amor. - me abaixei até sentir que estávamos na mesma altura. – As pessoas também choram de felicidade. Isso vem com o tempo, um dia, quando você for mais velha, tenho certeza que vai entender isso. Eu estou muito feliz que os bichos feios sumiram da sua barriguinha! Por isso eu me emocionei, não se preocupe, tá bom? - ela prontamente me abraçou e murmurou um "Uhum" antes de um suspiro aliviado.

– Eu não gosto de te ver chorar, irmão. Nem mesmo de felicidade, meu coraçãozinho dói. - senti seu abraço mais apertadinho e logo Camila se aproximou de nós.

– Ei, Aali, e o meu abraço? Estou muito feliz por você ter vencido todos os bichos maus que estavam aí. - Aali se soltou de mim rindo e o som da sua risada me fez sorrir mais uma vez.

– Eu acabei com eles, Mila! - ouvi o estalar das palmas se batendo quando elas fizeram o "toque especial de cunhadas".

– Aali, Aali, mamãe disse que você sarou, é verdade? - Sofi gritou não sei exatamente de que lugar da casa.

– Sofi, é sim. Eu acabei com os bichos feios que estavam na minha barriga.

– Agora podemos voltar a ir ao parque. Isso é muito legal!

°•°•°○°•°•°

O cheiro de carne vindo do quintal se apossou das minhas narinas e meu estômago roncou. Camila riu, aparentemente o barulho foi alto.

Fomos até o quintal onde as meninas brincavam e nossos pais faziam um churrasco em comemoração à cura da minha irmã.

Comemos e nos divertimos como se já fosse natal. O que, se formos olhar pelo lado cronológico, é quase verdade. Hoje é dia vinte e três, o que significa que amanhã é dia vinte e quatro e depois é, finalmente, o natal. A melhor parte disso tudo? Eu não precisei esperar até a meia noite da véspera de natal para ganhar meu presente da vez. O melhor presente que eu poderia ter ganho, diga-se de passagem.

Como de costume, fui por Aali para dormir essa noite e, após uma história e duas músicas calmas nos despedimos com um boa noite e um beijo na testa.

– Shawn! - sua voz sonolenta soou quando eu estava prestes a sair do seu quarto.

– Sim, Aali. - virei para ela novamente pronto para ir em sua direção ou gritar por ajuda se precisasse.

– Você vai chorar de felicidade o dia que me ver também?

•°•°•°●°•°•°•
Espero realmente que estejam gostando da história e, mais uma vez, peço desculpa pela demora, não desisti da história e jamais desistirei! estou naquele processo chato de bloqueio criativo. Sei o que quero escrever mas não consigo transferir em palavras... prometo que estou dando meu melhor e eu realmente fico muito feliz por todos os votos, comentários e adição a listas de leitura. Vocês são demais!!! Amo vocês ❤❤

Paixão às Cegas.Onde histórias criam vida. Descubra agora