𝟏𝟐 𝐝𝐞 𝐣𝐮𝐥𝐡𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟎𝟑𝟑

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Hongseok podia jurar que tudo daria certo. Havia pensado com carinho sobre o lugar para que houvesse qualquer rota de fuga, antes mesmo de Shinwon o contar qual o grande plano de Hwitaek, mas no fundo não queria seguir por esse caminho e manteve o plano original. Havia bloqueado a avenida com um van caindo aos pedaços que era usada no bar, furou os quatro pneus dela e espalhou combustível em volta. O fogo durou tempo o suficiente para fazer os primeiros carros pararem e os seguintes baterem e se engavetarem, aumentando ainda mais o bloqueio.

Morria de medo de entrar no centro de reabilitação, pelo simples motivo de que não sabia o que o aguardava lá dentro ou quanto tempo ficaria naquela prisão. Era um tiro no escuro e todos os que ele teve a coragem de dar, saíram pela culatra.

Foi assim com o curso de engenharia química na faculdade, onde investiu tudo o que tinha para se mudar para capital depois que conseguiu a bolsa de estudos. Já era para ele estar formado, mas assim que os cortes começaram as bolsas foram as primeiras a cair e todo o esforço de Hongseok nos últimos dois anos foi ralo abaixo. Na mesma noite que recebeu a notícia, entrou cabisbaixo em um bar qualquer para torrar o pouco de dinheiro que havia sobrado, foi quando conheceu Yuto e Changgu e os dois o acolheram naquele mesmo dia e assim começou a trabalhar com eles. Seus conhecimentos de química foram muito úteis quando as coisas contra o exército se tornaram mais sérias.

Agora que sabia que todos estavam lá por um motivo maior, se sentia culpado de dizer que sentia falta deles, mesmo que não seja tão próximo. Sua amizade mais próxima era com o artista que ele mesmo contratara. Shinwon se tornou um amigo próximo rápido demais e até hoje não sabe como. Então quando estava escondido no meio da confusão de carros mexendo em sua mochila para deixar seus molotovs prontos — Era um antigo passatempo desde que descobriu como eles eram mais úteis que armas para assustar uma multidão. — Viu a luz avermelhada vindo do começo da avenida, não pensou duas vezes ao correr até lá. Um isqueiro em um bolso e uma garrafa com álcool suficiente para causar um estrago em mãos.

— Aguenta firme, Shinwon.

Os motoristas se assustavam ao ver o rapaz com uma jaqueta de couro passar correndo por entre os carros parados, alguns buzinam, outros estavam distraídos demais com o sinalizador para se importar com Hongseok, que já estava com os pés doendo quando conseguiu avistar seu amigo no teto de um carro. Ele quase parou de correr ao ver que estava tudo bem, mas em questão de segundos Shinwon foi derrubado e rolou até cair no chão. Seu corpo não respondeu, ficou estatelado vendo seu amigo ser algemado, teve forças para se abaixar atrás de um carro. E ficou ali mesmo, com a respiração descompassada e o coração acelerado.

Os militares conversam, decidindo se era melhor verificar o perímetro ou não e perguntando a um Shinwon muito calado sobre quem havia o ajudado. Ele nem ousa abrir a boca, com a única certeza de que Hongseok estava escondido em algum lugar. Um tapa estalado no rosto foi tudo o que ganhou por sua falta de resposta.

Hongseok se sentou no chão sem saber o que fazer, dividido entre ir até lá e tentar ajudar de alguma forma ou fugir enquanto tem chance. Sua cabeça dizia para sair correndo o mais rápido que pudesse e traçando os desenhos no rótulo da garrafa em sua mão respirou fundo, precisava se acalmar.

— Onde quer que estejam, eles não vão estar muito longe. — O homem que havia derrubado Shinwon diz, era alto e forte com os cabelos em um tom claro de loiro e a pele cor de caramelo. — Vocês dois cuidam do bloqueio e olhem esse vagabundo.

Foi tudo o que disse antes de puxar o outro oficial para ir com ele e os dois passaram direto do carro em que Hongseok estava apoiado e sumiram de vista para o final da avenida.

Um suspiro aliviado escapou dos lábios do rapaz e segurando a garrafa com força ele torna a pensar em alguma maneira de ajudar Shinwon. Devagar ele caminha de volta ao bloqueio, os seguindo abaixado e em silencio, na esperança de conseguir fazer qualquer coisa. Já não estava pensando direito quando arrumou o trapo na boca da garrafa e pegou o isqueiro do bolso. Ele saiu do esconderijo, os faróis dos carros deixando sua silhueta em foco quando ele parou bem ao lado da van e antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, as buzinas o entregaram e os três olharam na direção do rapaz que ameaçava acender um molotov.

— Soltem ele! — O isqueiro estava perto o suficiente do pano no bico da garrafa para ter armas apontadas na direção dele.

— Você não está em posição de fazer exigências aqui. — A mulher diz, destravando a pistola e se colocando afrente de Shinwon.

— Tem certeza? Eu tomei cuidado o suficiente para que o fogo não encoste na van, acha que isso foi por acaso? — Ele sorriu com o blefe, apontando para o capô da van que estava ao seu lado. — Acho que seria uma explosão grande o suficiente para pegar uns dois ou três carros.

Ele acendeu o molotov, o fogo começou a consumir o pano devagar, ameaçou solta-lo ainda olhando como o fogo crescia, mas a voz de Shinwon o impediu de fazer qualquer coisa.

— Hongseok. — O mais novo nega com a cabeça, tentando o lembrar do porquê estavam ali em primeiro lugar. — Não vale a pena.

— É melhor escutar seu amigo, garoto. — Hongseok só ouviu a trava da arma em suas costas e a voz do mesmo oficial loiro de antes, sabia que já não havia mais volta a partir dali. — Agora, eu espero que você descarte seu brinquedinho antes que eu atire.

Contrariado ele fez o que foi ordenado, jogando a garrafa para o espaço vazio, longe o suficiente para que os cacos de vidro e o fogo não acertem ninguém e assim como Shinwon, eles o renderam, tiraram sua mochila e o algemaram para o colocar ao lado de seu amigo, deixando um oficial para tomar conta deles e ir procurar por outros possíveis revolucionários, preocupados demais com o bloqueio para notar o rosto de Effie Kanope estampado bem no alto da estação de televisão. Os dois trocam um olhar cúmplice, agradecendo a qualquer divindade que os escute, pois ficariam muito tempo ali.

Tempo o suficiente para que um helicóptero saia da cidade, o helicóptero de Julie Harper, cheio de suprimentos que serão levados para o centro de reabilitação.

Hongseok não pôde evitar o sorriso mínimo, porque depois de tanto negar, estaria seguindo o plano maluco de Hwitaek.


✗✗

“O quão importante são as pessoas para você?

Vivo me fazendo essa pergunta e a única resposta que consigo chegar é em como cada um dos que estão ao meu lado são importantes, mesmo que eles não tenham ideia do que está acontecendo.

Quando acho que vou desabar, recebo um sorriso de Aya e tudo parece dar certo, quando penso em desistir, tenho amigos para me dizer que não estou sozinha na minha luta.

Penso todos os dias sobre o que vai acontecer com eles depois... Depois de assinarmos a independência.

Não sou nada sozinha e só tive coragem de chegar aonde cheguei por causa de todo o apoio que me deram. Espero que todos vivam uma vida longa e estejam preparados para o que está por vir. É engraçado como eu sempre acabo falando de guerra e conflitos, como se fosse lutar amanhã ao primeiro raio de sol, mas a verdade é que esta batalha é fria, travada por indiretas e jogadas muito bem calculadas por aqueles que se escondem atrás de seguranças e ternos caros.

E o único jeito de fazer eles ouvirem, é causando um choque grande o suficiente.”


             — 𝑫𝒐𝒔 𝒂𝒓𝒒𝒖𝒊𝒗𝒐𝒔 𝒑𝒆𝒔𝒔𝒐𝒂𝒊𝒔 𝒅𝒆 𝑬𝒇𝒇𝒊𝒆 𝑲𝒂𝒏𝒐𝒑𝒆

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