Uma luz forte cegava meus olhos enquanto uma voz ao longe chamava meu nome.
Tentei me concentrar na voz, mas a luz estava se dissipando e seu calor se tornava aconchegante, como um dia de primavera depois de um inverno congelante.
Conforme o brilho diminuía, restando apenas um filtro luminoso, e minha visão se ajustava, olhei ao redor e levei apenas um segundo para reconhecer onde estava.
Há algum tempo atrás construí ali um balanço no céu para uma garota bonita.
— Miran!
Mais uma vez a voz, e mais uma vez longe demais. Mas agora eu a reconheci.
Reyyan.
Olhei ao redor mais uma vez, procurando, mas nada. Eu estava sozinho. Foi quando meus olhos captaram uma movimentação no alto da colina e pude ver o movimento do balanço para frente e para trás. Sorri
É claro!
Subi a colina em passos rápidos, já podia ver seus cabelos balançando ao vento. Mas conforme me aproximava, notei que sua figura não aumentava de tamanho enquanto a distância diminuía, franzi o cenho, e desacelerei os passos.
Seus cabelos soltos, encaracolados e castanhos, balançavam ao vento enquanto seu minúsculo corpo, trajando o vestido mais branco que eu já vira, era jogado pra frente e para trás conforme suas perninhas se dobravam e se esticam dando impulso ao seu balanço.
Olhei para os lados confuso. Quem deixaria uma criança sozinha naquele lugar? Me aproximei dela cuidadosamente para não assustá-la.
Uma emoção estranha tomando conta de todo o meu ser.
— Canım? — Chamei-a delicadamente.
— Mais forte, papai! — Pediu a criança numa voz infantil que mais parecia uma canção.
Meu coração falhou.
Papai?
Fiquei petrificado encarando suas costas enquanto a pequena criança ria e voava cada vez mais alto.
— Papai? — Chamou novamente, dessa vez sua voz soava impaciente.
Eu ainda não encontrava minha voz, e não conseguia responder ao seu chamado.
Papai? Papai, eu?
A pequena interrompeu seu balanço e ficou sentada, olhando para frente. Até que ela se levantou, virou seu corpinho para trás, olhou diretamente em meus olhos e sorriu.
Eu me vi em seus olhos, os meus olhos.
E então eu soube, não porque seus olhos eram exatamente como os meus, ou porque ela tinha o cabelo de sua mãe, nem mesmo porque ela me disse papai.
Eu soube, enquanto o sol iluminava sua face e tocava seus cabelos deixando reflexos mais claros na superfície onde beijava e sua boca se curvava no sorriso mais lindo que eu já vira.
Ela era minha.
Eu soube porque eu a amava.
Atravessei o curto espaço entre nós lentamente, temendo que até o mínimo movimento meu pudesse causar danos, e envolvi o anjo em meus braços cuidadosamente, com medo que ela desaparecesse, que sumisse no ar.
Estreitei os braços ao seu redor delicadamente quando ela própria me envolveu com seus bracinhos minúsculos.
Ela era preciosa demais, querida demais, frágil demais, pequena demais.
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Volte, papai
Short StoryMinha versão do sonho de Miran com Güneş! Todos sabem do meu imenso amor pela criança e como odiei ver ela sendo representada como um anjo da morte! Espero que gostem!!