Prologo?

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   Eu estava com dor. Não uma do tipo normal onde você para e pensa: "nossa tá doendo né? Acho que vou me deitar." Eu simplesmente não conseguia me manter de pé. Eu estava prestes a desmaiar, podia sentir o que sentia toda vez que isso acontecia e não sabia o que fazer. O que não era muito raro.

  O pior na verdade, é que não faço mais a menor ideia do que estava fazendo, só que alguma coisa tinha acontecido. Algo que não era para acontecer hoje. Mas afinal, o que era para acontecer hoje mesmo? Não consigo me lembrar de nada, mesmo depois de sentir uma mão me confortando, irradiando calor pelas minhas costas.

  Então a tontura finalmente me abateu e eu caí.

...

  Tudo ainda estava muito confuso para mim. Mas de alguma forma eu tinha aparecido em minha própria cama, debaixo de um edredom enorme que me fazia querer morrer por causa do calor do verão. Ainda tentava entender o que estava acontecendo e como eu havia parado ali quando um barulho vindo provavelmente da minha cozinha me sobressalta e me faz sentar de uma vez. Queria muito não ter feito isso por que agora, além de sentir tontura e a boca seca como uma lixa, tenho que lidar com uma pontada na minha cabeça que não parece do tipo que vai embora facilmente, de modo que, lentamente e com cuidado, retiro o edredom de cima do meu corpo e me viro para o lado prestes a me levantar de vez da cama. Estava começando a calçar meus sapatos quando alguém apareceu segurando um líquido estranho num copo azul.

  Não alguém aleatório, (até porque seria estranho em um nível extremo) mas logo após dar uma boa olhada naqueles olhos cor de mel que me encaravam de volta, quase quis que um estranho qualquer estivesse ali, sem dúvida seria uma situação mais fácil de lidar (ou, digamos, de não ter que lidar). Mas lá estava ele vindo em minha direção como tantas vezes sonhei, tantos anos atrás. Só que dessa vez tenho certeza de que não é um sonho. Tudo está real demais, tangível demais, estou diferente demais do que costumava estar nestes sonhos, assim como ele, em quem começo a reparar enquanto seus passos vem em minha direção e ele me olha estendendo o copo como se ali estivesse a explicação para sua presença em minha casa.

  Ele estava definitivamente mais velho, mais sério e talvez até mais corpulento do que me lembrava, e aquilo no rosto dele era uma barba? Mas como seria possível que ele mudasse tanto quando eu ainda era praticamente a mesma? Para mim não fazia sentido. Nada estava fazendo sentido. E eu deveria estar em outro lugar, disso tenho certeza, e não só porque quero fugir dali, mesmo que eu quisesse isso de fato.

  Minha reunião! Eu tinha uma reunião hoje com um novo cliente. Uma espécie de promessa de quem meu chefe quis que eu fosse babá. Não gostava particularmente dessa parte do trabalho, mas era o que pagava minhas contas, não por muito tempo se eu perdesse a reunião.

  Quebro o contato visual por instinto e me viro para o relógio sobre minha cômoda, presente da minha irmã, já que segundo ela eu sou a única pessoa que: "tem a rara capacidade de se atrasar para todos os compromissos que marca." Talvez isso fosse uma alfinetada por ter perdido o aniversário do meu afilhado porque não consegui acordar a tempo, e provavelmente era mesmo, mas o que eu poderia fazer? Ela está certa. E é por isso que olho para ele, esperando que milagrosamente o ponteiro marque antes das oito e meia e que dê tempo de chegar ao trabalho.

  Nem todo otimismo iria me salvar de me atrasar aparentemente, já que marcava ali no visor esverdeado 12:00. OK. Hora de procurar outro emprego, penso pouco antes de me lembrar do intruso em meu quarto que agora estava sentado ao meu lado, ainda segurando o maldito copo. E, só por que eu sabia que era muito importante para ele, mesmo que ele não tivesse dito nada, eu bebi seu conteúdo o mais rápido que pude sem nem mesmo me atentar ao que era ou ao sabor que tinha.

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