CAPÍTULO 5

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Belisco minha barriga, arranho meu braço e dou um tapa no meu rosto, nada do que eu acabara de escutar fazia sentido, a única explicação é que eu continuava dormindo. 

Dou mais um tapa em meu rosto só para confirmar, pelo jeito eu estava mesmo acordada. Isso não tornava nada mais fácil ou compreensivo. 

Tudo, absolutamente tudo que eu acabara de ouvir era uma completa loucura, uma história sem pé nem cabeça, uma lorota, um absurdo. 

Reflito sobre aquilo, o que levará minha mãe, uma mulher que até então eu julgava ter sido sã, a gravar um vídeo como aquele? Ela estava tentando fazer uma brincadeira? O vídeo estava fora de contexto? Ela estava bêbada? 

Sem conseguir segurar a risada que já se formava no fundo da minha garganta, começo a gargalhar até minha barriga doer. 

Nada do que minha mãe tinha falado era coerente, um serial killer, doze espíritos e uma geração de mulheres atormentadas. Sinceramente, antes do sol nascer eu ia ficar maluca. 

Era melhor eu conversar com meu pai, ele com certeza teria uma explicação para tudo isso. 

Desbloqueio a tela do meu celular, são quatro e meia, meu pai acorda às seis, eu começo a me arrumar às cinco.

Se eu não falar com ele agora, passarei o dia inteiro remoendo essa história,  só de imaginar isso tenho arrepios.

Eu teria que acordá-lo, começo a suar frio, detesto ser mal educada, mas tenho que deixar tudo às claras.  

Bato na porta do seu quarto, sem resposta, empurro devagar enquanto cochicho: 

-Pai, posso entrar? Preciso falar com você, pai. 

Olho para dentro, ouço sua respiração pesada, me dirijo em passos lentos até a beirada de sua cama, toco seus braços de leve e volto a sussurrar:

-Pai, acorda, pai. 

Com a voz cansada meu pai murmura:

-Lena é você, o que aconteceu? - depois de esfregar as mãos no rosto e tirar a remela dos olhos, ele parece se dar conta que sou eu que o chamei - meu deus do céu - ele exclama sobressaltado - Helena é você! Minha filha está tudo bem? Você está machucada? 

Em um instante meu pai está sentado, acende a luz de cabeceira e me examina com os olhos rápidos e atentos, como se a procura de um problema. 

Entendo sua alteração, em sã consciência eu nunca o incomodaria no meio da madrugada, a menos que fosse urgente, mas aquilo era urgente. 

-Pai, a carta do vô Marcos - travo e considero o que deveria contar, talvez fosse uma tolice incomodar meu pai com meus problemas, sinto uma mão sobre a minha me encorajando a continuar. 

Conto a ele tudo que aconteceu, a carta do meu avô e o vídeo da minha mãe. Pergunto do que se tratava aquilo e peço por respostas. 

Monitoro sua expressão atentamente. Onde eu esperava ver confusão, encontro algo mais. Seu rosto estava tenso e ele aparentava lutar para controlar a raiva. 

-Aquele velho perdeu o resto do juízo que sobrava - ele diz entre dentes. Depois de alguns instantes de silêncio incômodo, meu pai volta a falar calmamente, como se escolhesse suas palavras a dedo - Helena, o que você se lembra sobre a doença da mamãe? 

-A mamãe teve câncer de mama que se espalhou para outros órgãos e o resto você já sabe. 

-Exatamente, como eu já te contei, o câncer de mama tem o maior índice de mortalidade por câncer na população feminina brasileira, sua mãe infelizmente foi um desses casos - sua voz se torna cada vez mais triste e baixa - mas além disso, o que talvez você não se lembre por ser muito pequena e eu nunca quis ficar tocando no assunto, é que sua mãe teve transtorno dissociativo de identidade ou como é mais conhecido: transtorno de múltipla personalidade.

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⏰ Última atualização: Feb 10, 2021 ⏰

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