Acordei em um quarto pequeno, talvez tenha passado mais de 1 dia. No local havia apenas a luz da fraca lâmpada do corredor passando por baixo da porta de metal. Olhei ao redor, não havia nada no quarto, o chão era duro e frio, parecia que eu estava em outra realidade, até o ar é pesado. A luz do corredor se apagou, chegando assim, a escuridão, só com ela que eu fui perceber que havia uma pequena janela no quarto. De alguma maneira, a luz externa do poste me transmitia calma, tranquilidade, fiquei admirando-a, seu facho amarelado, uma lembrança veio a minha mente, li em algum lugar que as cores tem poderes, talvez seja verdade.
Dormi de novo, pensei, a hipnotizante luz do poste me induziu ao sono, mas, para minha sorte já era dia. Me levantei e comecei a vasculhar o quarto, me lembrei dos meus últimos momentos antes de ser trancado aqui, o número 114 ainda estava na minha cabeça. Depois de vários pensamentos se misturando em minha cabeça, ouço chaves batendo na porta, ela abre, seu ranger é como música para os meus ouvidos.
-Vamos! -Falou o guarda.
Me levantei e saí do quarto, olhei rapidamente ao redor, eu estava no quarto 117. Onde você está? Pensei, andei pelo corredor, me deparei com ele, a porta 114. Não fazia ideia quem estaria atrás dela, pode ser ninguém. Talvez eu possa ter me contaminado com a loucura do suposto médico. Eu estava perdido, corredores e mais corredores, um local que eu nunca tinha vindo.
-Quem está nesse quarto? – Perguntei ao guarda com a esperança de pelo menos uma resposta. Os guardas se olharam.
-Não faço ideia – Disse um deles – Desde que eu trabalho aqui nunca vi ninguém entrar nem sair desse quarto.
-Apenas Joseph tem permissão para entrar aqui. – Concluiu o outro.
Continue andando ignorando a informação. Eu conseguirei mais informações, pensei. Talvez eu esteja me arriscando demais, mas, o que eu posso fazer aqui? Pelo menos uma diversão terei.
Entrei em meu quarto, esperei um pouco para ir atrás de Joseph. Andei por todo o quarto, olhando pela pequena janela esperando o sol bater por ela, aquele era o meu relógio, meu gnomo sem pontas, apenas com a luz, significava que estava perto do dia acabar. Saí do meu quarto e fui em busca da sala dele.
-Posso saber o que está fazendo por aqui? – Disse a irmã Verônica me barrando pelo corredor – Espero que não esteja procurando mais drogas.
-Tenho uma dúvida a ser tirada com o doutor, mas estou perdido – Falei.
-Eu irei acompanha-lo, para ter garantia de que não irá se perder do caminho.
-Se a senhora insiste – Estendi o braço para ela mostrar o caminho. Comecei a acompanha-la.
-Sabe, coisas estranhas acontecem aqui com os pacientes -Falou – Muitos não são dignos e reprovam nos testes de fé. Eu tenho uma pergunta a você – Ela parou e olhou fixamente para mim.
-Pode perguntar – Fiquei nervoso.
-No que você acredita?
-Acredito, que não basta ter fé, deve agir, e não rezar esperando o milagre chegar, pois um dia você irá notar o tempo que perdeu – Olhei fixamente para ela – E você? Irmã. Sua fé é tão forte o suficiente para aguentar as tentações do mundo? - Sorri para ela.
-Sim! Me orgulho disso, muitas desistem de se dedicarem a Deus, mas, só serve para me fortalecer, lutar para que continuemos intactos. - Ela finalizou e continuou andando, eu a acompanhei. Chegamos à porta do doutor.
-Uma última pergunta irmã.
-Sim?
-Você acredita que alguém esteja rezando por você? Te protegendo. Sabe... O trabalho aqui é perigoso, nunca se sabe quando um louco está diante dos seus olhos.
-A minha fé é tão grande, que se o mal tentar me atacar, ele irá ferir apenas a si mesmo. – Olhou enfurecida para mim. – E você? Acha que alguém te espera fora dessas paredes?
-Não, mas eu sei que dentro dessas paredes alguém espera você. – Joguei minha carta cedo demais, mas tenho que correr riscos. Entrei na sala e esqueci de sua existência.
-Bata na próxima vez! – Disse Joseph – Isso é falta de educação!
-Porque eu bateria? Talvez você estaria se drogando? Sabemos que o trabalho aqui é estressante, digo, ter que cuidar de tantos malucos. -Olhei para ele e vi o medo em sua face.
-O que você quer? – Foi direto ao ponto – Drogas? Comida? O que?
-Apenas que me responda algumas perguntas.
-Seja rápido.
-Quem está no quarto 114? - Olhei fixamente para ele, esperando a tão esperada resposta
-Como você sabe desse quarto? -Ficou surpreso.
-Bom. Digamos que segui pistas. Agora, que tal me dizer nomes? Informações?
-O nome dela é Ashley, uma paciente perigosa, isso é tudo que você precisa saber.
-Não... O que eu preciso saber é porque ela era tão importante para Josh. Ele se matou logo depois de escrever o número do quarto nas paredes.
-Ela é a filha dele. – Um silêncio pairou no quarto.
-Como? -Fiquei confuso -Ele não assassinou toda a família?
-Quase toda, o amor, algo inexplicável, ele acabou se apaixonando por outra pessoa, teve uma filha, a mulher queria divórcio, mas ele insistia no perdão dela, ela fez um acordo que se a filha ficasse o mais distante possível da família dele, ela esqueceria de tudo. - Ele fez uma pausa – Assim que a amante teve o bebê, ele foi a minha procura, me ofereceu 100 mil reais em troca deu colocar a menina aqui dentro e nunca mais tira-la daqui.
-Seu monstro! -Interrompi ele
-Sabe, pessoas não nascem loucas, nos às tornamos. Para manter a menina aqui criei várias fichas falsas informando que ela é altamente perigosa, uma pessoa totalmente louca, com múltiplas personalidades, com o passar do tempo, ela foi adquirindo essa personalidade. Agora que ele morreu eu poderia solta-la, mas, ela está totalmente sem juízo.
-Doutor, eu estou começando a ter uma nova percepção deste mundo. Um jogo de tabuleiro, em que cada um é meu peão, estou começando a pensar qual a próxima jogada do meu adversário? -Parei, fiquei olhando fixamente nos olhos dele, poderia até sentir o sabor da vitória em minha boca. – Então doutor, qual será sua próxima jogada?
-Bom, ou você fica calado e não conta nada para ninguém, ou irá passar sua vida na solitária.
-Se acontecer algo comigo, todos os segredos desse lugar irão aparecer nos jornais. -Estava sem ideia, tudo que eu poderia fazer era mentir – Eu fiz muitas amizades aqui, sabia disso?
-Não, na verdade, mal vejo você pelos corredores
-Eu confiei os segredos daqui para eles, então, se eu sumir, ou acontecer algo comigo, você e esse lugar vai cair – Comecei a pensar em tudo que aconteceu, agora tudo faz sentido, pensei- Não pense que eu esqueci das doses de diazepam. Eu sei que foi você! – Ele olhou surpreso, foi um tiro no escuro, mas eu acertei.
-Já pode se retirar, por favor.
Então, saí de lá, mais confiante do que nunca. Talvez eu fiz errado revelar tudo agora, mas eu tinha que fazer isso, mostrar que eu tenho todos em minha mão, pelo menos, dele e da irmã Veronica. Voltei para o meu quarto, não fazia ideia da hora, talvez seja 18h, talvez 19h. No meio do corredor, próximo ao meu quarto fui barrado por duas pessoas, não fazia ideia de quem eram.
-Quer dizer que o novato está se achando o maioral? – Falou um cara alto, parecia ter entre 45 a 60 anos. Ele era calvo, tinha uma barba escura, que aos poucos seus fios iam se apagando pelo branco da velhice chegando.
-Do que você tá falando? – Perguntei
-Vimos que você foi para a solitária, mas saiu de lá rapidinho- O outro disse. Ele era novo, em torno dos 25. Menor que seu companheiro.
-O tempo mínimo que vi alguém sair de lá foi de uma semana – Continuou – Os espiões nos contaram! Você é um dos agentes deles, mas não vamos deixar que se safe! – Falou aos berros.
-O que? – Ótimo, agora vou ter que lidar com loucos, pensei – Ah, bom, eu não sou do time deles! Estou infiltrado tentando derrubar a organização! -Estava pensando em algo para que eles fossem embora.
-Sério? Mas não recebemos essa mensagem. Espere! -O outro gritou. Colocou o dedo no ouvido e fez um estranho som com a boca, parecendo um zunido – Aqui quem fala é o agente S-12, recebi um aliado aqui, qual o protocolo? Okay... Certo! -Ele olhou para mim e ficou me encarando. -Boa sorte na sua missão! Não se esqueça de informar que nós te ajudamos. - Eles saíram do caminho e consegui passar.
-Pode deixar comigo! -Foi mais fácil do que pensei, um alívio veio ao meu corpo. Continuei caminhando e cheguei ao quarto. Não fiz nada além de me deitar e ir dormir, esse lugar tirava minhas forças.
-Vamos nos atrasar para a festa! – Disse a voz de uma mulher
-Já vou! Estou há meia hora tentando arrumar essa maldita gravata – Falei enquanto lutava para acertar - Consegui! – Saí andando, e, quando abri a porta que antes dava no corredor em direção à sala, surgiu um hospital.
-Vamos! -Disse a voz desconhecida que me guiava
-A ceia já irá começar.
Segui a voz, cheguei em uma grande sala cirúrgica, não acreditava no seu tamanho. No meio dela, havia uma enorme mesa, e em cima continha candelabros e castiçais que iluminavam todo o local e enormes bandejas e tampas arredondadas de alumínio. O teto era mesclado entre vidraçaria e azulejos, desenhando enormes formas míticas. Me sente na única cadeira disponível, ao meu lado só havia apenas faces obscuras, evitei olhar para elas, eu era induzido no seu olhar, que era algo estranho, pois não havia olhos em sua cara.
-Obrigado por comparecerem aqui para o nosso banquete! Espero que seja do agrado de vocês! -Outra voz misteriosa, dessa vez de um homem.
Misteriosamente as tampas estavam sendo retiradas das bandejas, revelando em seu interior uma grande fumaça com um aroma incrível. Tudo ficou embaçado, de repente, em meu prato havia a comida. Mas era algo que não me agradou, parecia pedaços de pessoas, orelhas, dedos e uma parte de um braço. Olhei ao redor e vi todos se alimentando daquilo, seus corpos cobertos de sangue. Senti algo quente em minhas mãos, olhe para elas e estavam cheias de sangue, de cor escura, quase que preto, eu não sabia o que tinha acontecido, me levantei e comecei a correr, tentando fugir. Mas, sem sucesso.
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Manicômio (versão original)
Tajemnica / ThrillerLivro original de Manicômio. Uma adaptação já está disponível. Stuart perdeu a memória, tudo que lhe resta agora são flashbacks de sua antiga vida. Ele está em um manicômio e não sabe o que fez para ter ido parar nesse lugar. Determinado a fugir, St...