capitulo nove, Lua.

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“No mesmo instante em que recebemos pedras em nosso
caminho, flores estão sendo plantadas mais longe. Quem
desiste não as vê.”
William Shakespeare.

Nunca pensei muito no dia que voltaria a falar com alguém, muito menos nas circunstâncias, ainda
consigo sentir cada molécula do meu ser parando de funcionar, ainda estou tremendo de frio não sei o que fiz para vim parar nas mãos desse homem, não sei por que meu pai não vem atrás de mim e me leva embora me sinto perdida e desolada sem
ele.

Queria entender por que me fez aquilo e depois cuidou de mim me aqueceu e me deu uma de suas
roupas, não sou nada nem ao menos mereço, não fiz nada para receber seus cuidados tudo o que fiz foi matar um de seus homens e lhe recusar minha fala, meu pai sempre me disse que eu não sou digna de nada bom, e que sempre teria que ser uma boa menina, que teria que merecer qualquer migalha boa vindo dele o que quase nunca acontecia nem
quando eu fazia de tudo para agrada-lo nem quando suportava o pior, nem quando não chorava,
sempre dizia que meu esforço era pouco.

Me sinto fraca cansada, sinto que meu tempo está acabando passei anos achando que um dia iria acordar e que estaria em um lugar tranquilo que estaria em paz, e que tudo que vivi esses anos todos simplesmente foi um tipo de pesadelo, mas a cada
dia em que acordo meus dias pioram e a convicção de que não terei paz nessa vida fica cada vez mais
presente e verdadeira, olho para a comida intocada que vieram deixar aqui, acho que enquanto eu dormia, e vejo varias formiguinhas tentando levar farelos de comida maiores que elas, tentam e caem junto a migalha, levantam e tentam de novo e de
novo mas sempre caem, será quanto tempo demora até que percebam que o fardo que querem carregar é maior que elas?

Será o instinto de sobrevivência dizendo que se elas não levarem irão
morrer de fome? Será quanto tempo leva até estarem tão cansadas em um nível elevado de exaustão que finalmente param de tentar, e como
essas formiguinhas eu também estou exausta de carregar o meu fardo, estou no limite do cansaço simplesmente não aguento mais nada disso, nem as torturas nem o frio nem a fome nem a negligência e nem a convivência com esses monstros.

Olho para o animal, Thanos é o nome dele ao que parece, desde que cheguei aqui ele tem sido meu único amigo, ele parece perceber e entender o que
se passa em minha mente pois me olha com pesar e grunhi baixinho para mim.

Uma lagrima solitária escapa dos meus olhos, eu não sou fraca, não sou mas como as formiguinhas já
cansei de tentar, já desisti e não tem mais volta para mim não vejo saída, nem mesmo um fleche de luz para iluminar, tudo o que sinto é dor e uma grande vontade de acabar com ela, visto que o meu plano falhou e só me levou a mais sofrimento, fica
para mim a tarefa de acabar com a minha dor incessável.

Levanto devagar ainda com o corpo cheio de tremores tiro o terno dele o dobro e coloco em um cantinho, o frio ainda está aqui se recusando a me
deixar, olho ao redor da sala a procura de algo que me sirva e encontro bem no canto um caco de vidro da caixa que quebrei, minha mente está dizendo que a luz e a paz que eu tanto quero está aqui nesse
caco de vidro basta que eu o use, e eu quero, quero com tudo que ainda resta de mim.

Me abaixo e pego e volto a me sentar e com toda a coragem que reúno corto um de meus pulsos e sinto um grande ardor seguido de sangue e dormência, meus olhos turvam de lágrimas e passo o caco de vidro no outro dessa vez na horizontal, um corte grande e fundo que me deixa ainda mais
dormente, não dói pelo menos, não mais que a dor da minha alma, mais lagrimas escapam, dessa vez lagrimas de libertação, não existe mais culpa por ser eu mesma, não existe nada nem mesmo dor, sinto a escuridão chegando me sinto cada vez mais fraca, sou totalmente levada para a escuridão onde vou permanecer para sempre, vejo um menininho ele
esta andando em minha direção, ele para em uma certa distância ele está todo sujo e tem sangue por todo o seu corpo ele me olha com tristeza.
— Me desculpa anjo.

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