Único; Porto seguro.

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Os pesadelos começaram dois dias depois que ela e Norman descobriram o segredo da casa em que viviam.

Esqueça toda aquela história de famílias amorosas que vinham adotar crianças para levá-las para um lar amoroso. Gracefield era uma fazenda. Eles eram gados. Alimentos para demônios. Mama era uma inimiga. E Conny estava...

Oh céus, só havia um jeito de sobreviver: Eles teriam que fugir.

Geralmente os pesadelos de Emma eram os mesmos. Figuras turvas, rostos de demônios por toda a parte, o corpo morto de Conny em um looping que parecia infinito, seus outros irmãos pedindo por ajuda.

Ela sempre acordava no meio da madrugada, tremendo. O tic-tac do relógio acompanhava sua respiração descompassada.

Aquilo se repetiu por mais três noites. Os mesmos sonhos, os mesmos rostos, os mesmos corpos caídos no chão.

Até que em uma noite, tudo mudou. Um gatilho foi, de alguma forma, puxado.

Quando o sonho começou não havia rostos de demônios, nem sombras turvas, muito menos os gritos de socorro de seus irmãos.

Mas ali, bem no centro, havia uma figura de cabelos brancos que sorria para ela.

- Norman! - Emma gritou, disparando em direção ao garoto. Ela não reprimiu o suspiro de alívio quando enterrou a cabeça no ombro do amigo, apertando o garoto em um abraço que foi prontamente correspondido. Será que ela finalmente teria um sonho bom depois de tanto tempo?

Emma descobriu a resposta assim que levantou a cabeça, encarando os olhos agora sem vida de Norman. Ela ofegou, dando um pulo para trás, enquanto via uma flor fincada no peito do albino. Aos poucos ela foi florescendo e suas pétalas estavam pintadas de vermelho.

O corpo de Norman caiu no chão em um baque suave, e Emma gritou.

Ela acordou tremendo e sufocando um grito de angústia. Se sentando na cama, ela abraçou seus joelhos e só percebeu que chorava quando sentiu as lágrimas molhando a blusa do pijama.

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Na noite seguinte, Emma não queria dormir. Ela não compartilhou com ninguém o sonho perturbador que teve na noite passada, embora ela tenha reparado os olhares intrigados de Ray e Norman.

Já era a quarta vez que ela mudava de posição na cama, mas nada. Ela simplesmente estava sem sono. Ou melhor, o medo de sonhar com a morte de Norman era maior que seu sono.

Está tudo bem, Emma, sua mente tentou acalmá-la. Norman está bem, ele está no quarto dormindo. Nenhum demônio vai atacá-lo. Ele está bem, não está? Ele está bem. Ele está bem.

Não deu certo.

Ela hesitou por um momento, mas só teve consciência de suas ações quando se viu em frente a porta do quarto dos meninos, sua mão já na maçaneta.

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Norman teve pesadelos nas duas primeiras noites. Após chegar do portão com Emma, ele tentou dormir, mas seu sono foi pertubado pelas figuras dos demônios que levaram Conny, a cena que a pouco havia acontecido se repetindo infinitamente. Na noite seguinte foi a mesma coisa.

Até que simplesmente parou, e agora Norman não tinha dificuldades ao dormir. Mas os pesadelos lhe trouxeram algo: o sono leve. Ele era capaz de acordar com qualquer barulhinho num raio de um quilômetro.

Então não foi uma surpresa quando o garoto acordou após ouvir um clique vindo da porta. Seu corpo ficou tenso de repente e ele tentou ao máximo controlar sua respiração.

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