Capítulo Único

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Ocean Eyes
Capítulo único

I've been watching you for some time
Can't stop staring at those ocean eyes
Burning cities and napalm skies
Fifteen flares inside those ocean eyes
Your ocean eyes

No fair
You really know how to make me cry
When you give me those ocean eyes
I'm scared
I've never fallen from quite this high
Falling into your ocean eyes
Those ocean eyes

(Billie Eilish- Ocean Eyes)

Ele percebia que eu só chorava quando chovia. Então ele fazia chover. E ele sabia que eu precisava desse momento, precisava me derreter, transbordar. Então ele me provia esse momento de paz com mais frequência do que a natureza por si só poderia. Ele cuidava pra que eu não percebesse que era ele quem fazia chover, mas nada passa imperceptível aos meus olhos capazes de queimar cidades.  E eram seus olhos de oceano que mandavam chuva pra lavar minha alma.
Quando entrei na Akatsuki em missão, nunca  imaginei que encontraria qualquer alento pra minha existência fadada à dor do auto sacrifício. Mas fui arrastado lentamente pela maré em ressaca intrínseca a seus olhos de oceano. Fui afundando, encontrando calmaria. Quando percebi estava totalmente imerso. E havia encontrado um ponto de paz, uma felicidade que achei impossível estar guardada pra mim .
Quando Konoha foi atacada por Orochimaru, soube que o terceiro havia morrido. Tudo em que conseguia pensar era meu irmão . Precisava de um pretexto pra ir até a folha ver como o Sasuke estava . E a única pessoa com quem  eu poderia contar pra ir comigo seria o Kisame.
Precisava conversar com ele. Precisávamos de um pretexto pra aparecer por lá. Estávamos a noite passando em um centro de uma vila qualquer, o céu estava estrelado, e o vento balançava nossas capas. Levantei meus olhos por baixo do costumeiro chapéu que escondia meu rosto para encarar sua pele azulada banhada pelo luar. Disse sem hesitar:

- Kisame, precisamos ir até à Folha. 

Ele demorou seu olhar em mim e respondeu com cuidado:

-Entendo. Soube das notícias. - Ele disse pensativo- O Jinchuuriki da folha pode ser um bom pretexto. Sei que ele é o 9, e deveria teoricamente ser o último na lista de caça. Porque é também o mais poderoso. Mas nada impede de irmos atrás dele agora afinal.s
Esbocei  meio sorriso. Eu não precisei dizer nada, mas ele entendeu. Nada mais específico precisou ser dito, pois seus olhos de oceano conseguem sondar meu âmago. E isso é um alívio.

Continuamos por mais um tempo em silêncio, depois de pensarmos sobre nossa rota para chegar à Folha pela manhã. Não estávamos tão longe então daria tempo para dormir um pouco. Essa vila em que estávamos, apesar de soturna e com um ar decadente, tinha alguns pontos coloridos à noite. Muitos provinham de letreiros de hotéis baratos.  Havia um que era em cima de um restaurante, e era perfeito. 
Estávamos com fome e decidimos jantar antes de subir pra dormir. Sentei-me em um dos bancos sempre coberto por meu chapéu. A luz artificial do lugar incomodava um pouco meus olhos. E era nítido que a nossa presença lá, assim como em qualquer lugar, era intimidadora.
Comemos nosso lámen em silêncio e eu saí para usar o banheiro. Quando voltei à mesa, o doce que eu gostava e que me lembrava do meu irmão estava me esperando no lugar onde eu estava sentado. Ele comprou pra mim, e o deixou lá de surpresa. Eu achava que meus olhos eram privilegiados, mas percebo que os dele também não deixam passar nada. Olhei pra ele e sorri. Ele deu de ombros e sorriu de volta.
Quando terminamos, subimos a escada ao lado do restaurante que dava acesso ao hotel. O lugar era simples, mas diferentemente da cidade decadente, parecia minimamente bem cuidado. Chegamos a recepção e percebemos como o homem por trás do balcão tremia à nossa presença. Apesar de provavelmente estar acostumado com gente perigosa, a akatsuki goza de uma grande reputação. Somos temidos onde quer que formos.

- 2 quartos, senhores?  - Ele perguntou, quase reverentemente-
- Apenas 1- Ele respondeu prontamente.

O homem não perguntou.  Apenas entregou uma chave  com um chaveiro de número encardido pendurado. Os corredores e as portas eram de madeira, porém as portas pintadas de vermelho.

Chegamos ao número indicado no chaveiro. Tinha uma cama espaçosa apesar do quarto ser apertado, com lençóis azuis que pareciam limpos. O banheiro era bem próximo ao quarto apertado e para nossa surpresa tinha uma banheira antiga, branca, com pés bem detalhados em bronze descascado, porém limpa. Kisame sorriu assim que viu a banheira. Poderia ficar em baixo d'água por um tempo, onde se sentia confortável. 

- É um ótimo lugar para acomodar dois traidores - Ele disse com certo deboche.


 Kisame tentou arrancar algumas palavras de mim mas eu estava muito absorto em meus pensamentos essa noite. Apenas sorri e acenei positivamente
Eu tirei meu chapéu e sapatos e deitei na cama. A expectativa do dia seguinte me consumia de ansiedade. Entraria na folha, e talvez veria o Sasuke. Não tem como não estar com o psicológico totalmente abalado face á esse encontro. Fechei os olhos e soltei um suspiro.
Ouvi um barulho estridente vindo do banheiro, provavelmente o Kisame abrindo a torneira enferrujada. Em seguida ouvi barulho de água corrente e o ar do quarto começou a se encher do vapor vindo da água quente que caía na banheira velha. Fiquei ainda alguns minutos olhando pro teto , e me dei conta que ele havia entrado na banheira. Eu continuava deitado na cama, mas precisava de um momento de conforto pra aplacar minha preocupação. 
Decidi, depois de algum tempo,  entrar também. Na porta do banheiro, estava a Samehada junto com todo o equipamento ninja que ele carregava. Decidi fazer o mesmo e colocar junto á porta meus trajes e equipamentos. 
Entrei de mansinho no banheiro e para minha surpresa ele já  estava dormindo. Nem me preocupei pois ele não se afoga. E ele realmente fica confortável na água, tanto que até dormiu rapidamente.
Resolvi admirar um pouco como sua pele azulada brilhava na água. Dei um beijo em sua testa levemente salgada e fui dormir no quarto para não incomodar. 
Entretanto, dormir era um luxo privado à renegados como eu. Não pregava os olhos. As imagens do assassinato dos meus pais e do meu clã vinham assolar minha mente, cada grito,  cada gota de sangue. E o pior de tudo, o olhar do Sasuke quando viu tudo e ms encontrou. O pedido de ajuda dele. Levantei de um salto da cama, meu cabelo todo grudado em minhas costas de suor.
Precisei sair pra dar uma volta. Meu coração estava pesado demais, eu estava sufocado, a angústia era imensa. Me vesti pra sair do hotel e a madrugada estava impiedosamente gélida. Precisava chorar. Mas não poderia jamais ser visto assim chorando. 
Olhei pro céu, procurando alguma nuvem. Entretanto, o céu estava límpido e as únicas  nuvens presentes eram as vermelhas estampadas em minha roupa. Baixei minha cabeça presta a chorar quando senti algumas gotas caírem na minha nuca. Logo senti as gotas engrossando, um temporal caindo, lavando meus sentimentos e minhas lágrimas correram copiosas em uníssono. 
Levantei meus olhos para a janela do quarto e lá eles estavam me encarando com ternura e preocupação. Profundos, misteriosos, magnéticos. Os mesmos olhos de oceano.
Tudo que precisava agora era voltar ao quarto para fazer esses olhos refletirem a chama dos meus.

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⏰ Última atualização: Feb 15, 2021 ⏰

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