Cap. 18 - Às claras

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"Mas vaidade, não amor, tem sido minha loucura. Satisfeito com a preferência de um e ofendido com a negligência do outro, desde o início de nosso conhecimento, cortei a presunção e a ignorância, e afastei a razão, no que se referia a qualquer um deles. Até este momento eu nunca me conheci. " (Capítulo 36) (Jane Austen - Orgulho e Preconceito)

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Meredith PoV

Eu corri.

Corri como o covarde que teme as consequências de seus atos, como a criança que foge do castigo da mãe. Como o condenado que sabe que errou, mas prefere a solução mais fácil. Eu senti meu coração apertar, um desespero me bateu e meu primeiro impulso era correr, correr, correr do mundo, correr de Andrew e correr de mim mesma. Eu não estava preparada para encontrá-lo, pelo menos não agora.

Apressadamente, desci dois lances grandes de escadas e fui para o jardim achando que ali seria o refúgio ideal. Porém, pouco depois, escutei uma voz familiar me chamar, fazendo meu corpo inteiro tremer:

- Meredith!

Rendida, eu fechei os olhos e suspirei. Eu estava de costas, mas não era preciso olhar para saber quem estava me chamando. O meu coração parecia estar batendo na garganta.

Sem saída, eu me voltei lentamente para ele. Ele estava lindo. Como o tempo estava frio, ele estava vestindo um sobretudo leve, escuro, os cabelos levemente despenteados, uma camisa semiaberta por baixo. E aqueles olhos verdes, me olhando na mesma intensidade familiar que um dia eu já experimentara. Apenas  havia neles algo que eu ainda não conseguia decifrar ou entender.

- Andrew...oi - eu disse em um fio de voz, esfregando as mãos nervosamente.

Elas estavam geladas.

- Eu não esperava você por aqui - disse Andrew com a voz baixa e trêmula.

Eu o olhei. Sim, realmente ele não esperava que eu aparecesse mais.

- Sim, eu...eu precisei vir. - eu disse meio indecisa.

- Precisou?

- É....precisei.

As palavras pareciam não sair, havia dúvida sobre o que dizer e eu percebi que era uma dúvida em comum; ela duelava em nós dois.

- É lindo aqui...estou encantada com o jardim - eu disse tentando sorrir timidamente.

Andrew se esforçou em esboçar um sorriso:

- Obrigado. Lembra muito o jardim da casa onde morei quando criança, na Itália.

Eu me esforcei para sorrir mais. Nossos olhos não se deixavam em nenhum instante.

- Me desculpe, eu não quis invadir sua privacidade. Eu achei que...que você nem estivesse aqui. Eu só ouvi o som do piano, achei muito bonito e...entrei. - eu disse tentando me desculpar. 

Andrew sorriu:

- Eu precisei vir para cuidar dos negócios. 

Silêncio.

- Por que veio para cá, Meredith? - Andrew perguntou direto.

Eu olhei nos olhos dele. O que dizer? Mentir? Eu não podia. Era necessário deixar as coisas definitivamente às claras, de agora em diante. Porém, isso não significava que tudo se tornaria mais fácil.

QUANDO FALA O CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora