Cherry

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Jimin sempre teve dificuldades para lidar com os próprios sentimentos, para lidar com tudo que sentia e para entender o que se passava na sua cabeça. Por conselho da terapeuta ele começou a escrever seus sentimentos em um caderno. Cada vez que ele escrevia era como tirar pequenos cacos de vidro do próprio corpo, doía, ele sangrava e parecia que nunca ia passar. Mas passava, sempre passava.

Em uma vontade de ser lido, e que com certeza iria contra as orientações da sua terapeuta, ele começou a publicar seus textos num blog particular. Não compartilhou o link, mas o endereço estava público e ele assinava os posts com P. J.

Foi assim que ele publicou o que para ele era um desabafo para o ex-namorado, uma carta que ele nunca entregaria, mas que precisava tirar de dentro dele. Ele precisava por pra fora tudo que estava doendo, toda lembrança que às vezes vinha de um jeito pesado e parecia que ia afogá-lo. Não queria morrer engasgado com as palavras que nunca disse, mas que também não tinha coragem nenhuma de dizer. Para isso ele tinha o blog, para contar pra todo mundo como ele se sentia sem necessariamente contar pra alguém. Era como ser um fantasma falando dos sentimentos de outra pessoa, ou então uma baleia ressoando no mar infinito para quem quer que pudesse ouvir.

Eu ouvi uma música que me lembrou você

As coisas entre a gente acabaram de um jeito estranho, né? Ninguém soube dizer exatamente o porquê, nem você e nem eu. Será que o amor acabou? É estranho pensar assim. Poxa, a gente parecia que se amava tanto e tinha tanto sentimento guardado junto que achei que duraria para sempre, bom, todo mundo achou. Engraçado como as coisas são, né? Uma hora parecia que nós seríamos eternos e na outra a gente mal podia conviver sem dar um sorriso triste.

Gosto de pensar que talvez a gente tenha sido eterno durante aqueles 5 anos que ficamos juntos, nos conhecendo no dia a dia. Durante aqueles anos em que você era o maior motivo das minhas risadas e dizia o tempo todo que eu te achava bobo. Eu nunca te achei bobo, mas me achava um pouco por rir de todas as coisas que você dizia, por me encantar com todas as graças que você fazia e por de ser tão apaixonado por você.

Com você sempre foi tudo tão fácil e a gente se conheceu de um jeito muito natural, não foi? Apesar de que eu acho que no fundo era tudo um plano seu, você começou a conversar com os meus amigos como se fossem seus, foi chegando devagar e quando eu percebi não conseguia mais ver a minha rotina sem encontrar você antes da aula. Eu lembro de como você sorria quando me olhava e eu tentava sorrir de volta, mas estava com vergonha demais. Você lembra que nosso primeiro beijo foi naquele role esquisito que estava um frio do inferno e o pessoal ficou horas para acender a fogueira? Eu só fui porque me disseram que você ia. Inclusive foi bem ruim, né? Tinha o quê? Umas 9 pessoas, nenhuma música e as bebidas eram horríveis, de quem foi a ideia de misturar chá quente com vodka? Acho que aquela era a primeira vez que eu fui num role daqueles, em que a gente só fica bebendo, conversando e fazendo umas piadas tontas. Eu sou muito mais das festas, do som alto e da pista de dança, você sabe. Nós fomos muitas vezes em roles como aquele em que a gente deu o primeiro beijo e acho que nunca fui em um sem você.

Naquele dia eu pensei seriamente em te chamar pra minha casa, acho que já te contei isso. Mas alguém que estava lá, hoje eu não consigo lembrar quem era, me convenceu a não falar nada, disse pra deixar no ar, fazer um mistério. Nada a ver, né? Eu não sou um mistério, nunca fui, você me lia com muita facilidade.

Você sempre sabia como eu estava, eu nem precisava te dizer nada. Você dizia que eu tinha todos os sentimentos nos olhos, por isso era tão fácil entender os meus humores. Acho que era por isso que você ganhava as nossas brigas, porque estava tudo estampado na minha cara e eu tinha que ficar decifrando o que as suas palavras queriam dizer. Eu sei que nunca foi sobre ganhar ou perder, mas não consigo evitar pensar que eu estava sempre perdendo, que eu continuo perdendo.

Eu ouvi uma música que me lembrou você - JinminOnde histórias criam vida. Descubra agora