A Memória de Gabriel

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Gabriel levou Matsaniel até as portas trancadas no andar mais profundo da montanha. Ele pegou uma chave no bolso e destrancou aquela sala, revelando uma grande oficina.

O lugar estava repleto de máquinas extraordinárias, estantes com caixas de ferramentas e projetos preenchendo as paredes. Matsaniel estava maravilhado com tudo aquilo.

— Essa oficina era do meu pai — Disse Gabriel — Era aqui em que ele inventava todo o tipo de coisas para ajudar nos trabalhos da montanha e nas nossas missões. Eu sou terrível com qualquer tipo de tecnologia, então tudo isso é meio que um desperdício para mim. Você pode ficar com o espaço, se quiser...

— Eu? — Perguntou Matsaniel incrédulo

— Sim. Eu vi que você fez várias anotações nos seus livros de física e química e também encontrei vários manuais de instruções na sua cômoda, então acho que você deve gostar desse tipo de coisa

— Sim, eu gosto muito. Esse é um presente incrível, muito obrigado

— E... talvez você possa me ajudar também...

— Ajudar como?

— Bom... você saberia identificar as causas de uma morte?

— Eu tenho catorze anos, como vou saber uma coisa dessas?

— É mesmo, tem razão. Desculpe por pedir algo assim...

Então ele suspirou, claramente frustrado.

— Eu só queria saber o que realmente aconteceu naquela noite — Murmurou ele

— Está falando do que aconteceu com os seus parentes, estou certo? — Perguntou Matsaniel

— Está sim

— O que aconteceu para você não saber?

— Eu não sei. Eu acordei e... eles tinham morrido...

— Você acordou como sempre?

— Não. Naquele dia eu acordei aqui na oficina. Eu também devia ter chorado, porque meus olhos estavam vermelhos

— Então você sabe o que aconteceu, só não deve se lembrar. Eu posso dar um jeito nisso

— Um jeito? Como?

— Veja bem, o cérebro é como um computador. Quando o equipamento sofre alguma avaria, a memória pode ficar corrompida, deixando alguns arquivos inacessíveis, mas não significa que não possam ser recuperados

— Pode usar uma metáfora que não seja sobre tecnologia?

— Quando você sofre um trauma o cérebro pode reprimir as memórias

— Agora eu entendi, bom, quase... como você vai me ajudar? Por acaso você não é um "TI de pessoas", é?

— Não, não um TI. Talvez mais um hacker

— Um... hacker?

— Bom... digamos que agora é você quem vai precisar confiar em mim. Eu sou capaz de ler mentes

Eles ficaram se encarando por alguns instantes em silêncio, até que Gabriel disse:

— Então... então... eu não te disse mesmo o meu nome...

— Er... não — Admitiu Matsaniel — Você acreditou bem rápido também

— Olha, eu não sei como você conseguiu esse poder, mas eu já vi muitas coisas estranhas na vida. Também acho que você não brincaria com algo assim nesse momento. Desde quando você consegue fazer isso?

Wild Kondo - A Garrafa dos DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora