6. A casa de praia de Busan.

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29.12.2017

Quando abro os olhos, noto a claridade do quarto. Os raios solares atravessam a penumbra do dia nublado e param exatamente no meu rosto, deixando a pele quase morna. Aos poucos, tento recobrar a consciência e noto que essa não é minha cama, quase me assusto, mas me lembro do que aconteceu.

Pensamentos de arrependimento me tomam, me sinto culpada, como se tivesse cometido um crime. Me arrependo das palavras sujas que proferi ontem de noite e me arrependo de até onde minhas mãos conseguiram chegar. Minhas lembranças me cegam, uma cena que acabou com Jungkook passando shampoo pelo meu cabelo enquanto sorria. Bom, talvez não me arrependa tanto assim.

O apartamento está afundado no silêncio, me levanto da cama bagunçada e me olho no espelho que tinha ali. A blusa de Jungkook está claramente maior do que o suposto, me deixa
parecendo uma menininha. A porta do quarto está aberta e me apoio na soleira enquanto tento esticar meus braços e procurar algum sinal de vida. Fox se encontra ali, em cima do balcão negro da cozinha, exatamente onde eu lembro de tê-lo visto pela última vez.

Chego perto do mesmo, mas evito tocá-lo, não sou muito boa com animais. Ao seu lado um papel balança com o vento, preso ao mármore somente por um copo de vidro. Pego-o e vejo Fox se aproximar como se quisesse saber o que tinha ali também, faço um carinho na sua cabeça e ele me olha com aqueles olhos negros gigantes e profundos.

"Tive que sair, tem comida na geladeira. Talvez eu demore pra voltar, me liga.
                              — Romeu."

Sorrio pelo apelido enquanto tento procurar o meu celular por cima dos móveis, com os olhos. Me dirijo ao quarto onde faço a mesma coisa, o ambiente é monocromático, todo branco e quase rústico, se eu pudesse imaginar como seria o quarto de Jungkook, ele não seria assim, com certeza. Seria mais a cara dele um lugar escuro e sombrio com cheiro de hortelã e cigarro, mas aqui realmente me sinto segura.

Voltando à saga de achar o celular, o procuro na mesa de cabeceira mas só encontro anéis, colares e balas de cereja. Finalmente encontro-o no bolso do sobretudo, pondero a opção de fingir que não vi o bilhete e simplesmente ir embora. Sinceramente, não sei como vou olhar ou falar com ele agora, me sinto um pouco envergonhada em ouvir a voz dele e até de sequer fazê-lo ouvir a minha.

Ligo o celular e na barra de notificações vejo uma mensagem com o remetente de nome Romeu, ele pede para que o ligue assim que acordar, não daria para simplesmente fingir que não vi todos seus sinais, desisto e aperto no símbolo de telefone para iniciar a chamada. Quando ele atende, espero que diga alguma coisa só para não ser a primeira a falar.

— Acordou? - escuto a voz baixa do outro lado da linha depois de uns segundos. Para a sua pergunta eu diria que há uma resposta óbvia.

— Sim. - sou atenta às minhas palavras para não parecer rude, não haveria motivo para isso, afinal.

— Tem comida na geladeira, se tiver fome. - eu já sei disso, batuco os dedos na parede fazendo alguma coisa só para despistar a ansiedade e vergonha.

— O que você queria falar? - pergunto depois de um longo tempo medindo o que iria dizer.

— Ah sim! Eu saí para resolver umas coisas do ano novo. - ele faz uma pausa e responde algo para outra pessoa e depois volta a falar. — Os meninos conseguiram uma casa em Busan para o ano novo, tava pensando se você não queria ir, vai ser legal. - ele completa e mordo a pele da bochecha.

Eu diria um não facilmente, só para não ter que olhar para ele e lembrar das coisas que aconteceram, tentar manter o resto de dignidade que existe em mim e evitar de ficar ruborizada quando ele me abraçar ou me beijar, mas a verdade é que quero ver ele de novo.

SAY YES TO HEAVEN || 🄹🄹🄺Onde histórias criam vida. Descubra agora