Capítulo 53 - Anahí's POV

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Ouvi quando ele bateu a porta, e depois disso o único ruído naquele apartamento era o de meus soluços. Soluços tão intensos que chegavam a ser gemidos. Doía tanto assimilar tudo o que acontecera, que posso dizer, com certeza, que mais que algo psicológico, aquela dor se tornava física. Faltava-me o ar e meu peito latejava. Meus olhos ardiam de tantas lágrimas que por ali passavam. 
Eu queria gritar, queria atirar todos os vasos daquela casa contra a parede, mas a única coisa que eu conseguia fazer era ficar encolhida, sentada no chão entre a cama e a parede do meu quarto, abraçando meus próprios joelhos e desejando que aquilo fosse apenas um sonho ruim. 
Fiquei horas ali, me afundando cada vez mais na minha solidão, desfrutando de como era cruel você se sentir tão dependente de uma pessoa.

Acordei no dia seguinte com o despertador tocando insistentemente. Uma dor terrível nas costas me assolava. Quando abri os olhos entendi o porquê. Dormira no chão. Exatamente onde eu chorara incansavelmente na noite passada, e pior, na mesma posição. O que me fez perceber que não só minhas costas doíam, mas meu pescoço e minhas pernas.
Mas o pior de tudo aquilo é que eu teria de ir para o trabalho, e teria que encarar Alfonso e sua esposa grávida. E pior ainda era admitir a mim mesma que eu, naquele momento, não sentia raiva dele. No fim, ele havia sido sincero. O que não diminuiu em nada a dor que eu sentia, e menos ainda aquela depressão que se instaurara.

Eu não podia exigir que ele se divorciasse agora, havia uma criança. Era o fim. O fim das ilusões e daquela história que mal havia começado, ainda que, para mim, aquele amor fosse tão intenso que parecia existir durante toda uma vida. 
Por segundos de insanidade cheguei a praguejar a tal Zuria, odiando-a por ela existir, por estar no meu caminho e da minha felicidade. Deus, onde eu estava com a cabeça? Eu era a outra, ou melhor, eu fora a outra. A única pessoa que estava certa em toda aquela situação, no final, era apenas ela. 

Quando encarei minha imagem no espelho naquela manhã, tive pena de mim mesma. Meus olhos ainda estavam vermelhos e inchados. Estava pálida e as olheiras fundas mostravam o quanto aquela noite havia sido difícil. Um banho gelado e quilos de maquiagem depois eu estava um pouco mais apresentável. 

Dulce: Bom dia, Any! – Cumprimentou-me com aquele bom humor tão típico dela. Eu tratei de abrir o meu melhor sorriso, ainda que aquilo fosse extremamente difícil – Como foi a viagem?

Anahí: Deu para descansar. Trouxe umas coisinhas para vocês! – Coisinhas bobas, devo dizer. Mas muito, muito saborosas.

Dulce: Chocolate! – Adiantou-se, quando eu tirei a caixa recheada de trufas caseiras da sacola que eu carregava.

Maite: Eu ouvi alguém dizer chocolate? – Maite apareceu na porta de sua sala.

E logo estavam todas lá, Dulce, Maite e Angelique, desfrutando dos prazeres que só um bom chocolate pode proporcionar. Nenhuma delas pareceu perceber que eu estava abatida. O que me fez pensar que eu era uma baita de uma atriz. Bom, se eu não desse certo como decoradora, ao menos, não morreria de fome. Só não sabia se a minha capacidade de atuação era tão boa a ponto de superar Alfonso e Zuria entrando por aquela porta. 

Zuria: Bom dia meninas! 

– Bom dia – As três responderam.

Alfonso: Bom dia. – Disse o mais frio e rápido que pode, e a passos largos saiu da recepção, tomando o rumo de sua sala.

Dulce: Any, tudo bem? – Cutucou-me. Pois é, a minha capacidade de atuação não era tão boa assim. No momento em que vira Zuria e Poncho juntos eu estaquei. Não me movia, não dizia nada. E o mais lamentável, meus olhos estavam marejados. 

Zuria: O que ela tem?

Dulce: Any? – Chamou-me mais uma vez, e meus olhos sem foco procuraram ater-se à ruiva que falava comigo. Deus, o que estava acontecendo? Num segundo tudo girou, minha visão ficou turva e eu só senti uma mão firme segurando a minha cintura. Depois disso não houve mais nada.

Palavras, apenas palavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora