CAPÍTULO 19. WOMAN

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Ao final do sétimo episódio da primeira temporada, Gabriela já dormia. De bruços, apoiava o braço direito embaixo do travesseiro e o esquerdo sobre as coxas da Camila, que espiava a cena em silêncio. Camila sentia o toque de Gabriela em sua perna direita, quase na altura da virilha, e não conseguia afastá-la.

Percebeu que, talvez, aquele momento fosse perfeito para uma análise, afinal, ela estava acordada, enquanto Gabriela dormia, indefesa, e não poderia vê-la. Camila enxergou uma oportunidade de poder olhar seu rosto sem sentir vergonha, sem que fosse encarada com olhares enigmáticos, sem provocações e timidez dos dois lados. Ficou ali, parada, quieta, apenas observando. Gabriela vestia uma camiseta gola V branca e uma samba-canção, que valorizava o bumbum e coxas. Camila memorizou as curvas do rosto, o desenho da boca, suas costas e pernas, o braço e tatuagens visíveis.

Aos poucos, sentiu uma vontade tímida de tocar, que cresceu, até ficar incontrolável. Levou as mãos com todo cuidado até o ombro esquerdo de Gabriela e o tocou gentilmente com o dedo do meio, correndo os dedos de modo suave. Sentia que desbravava uma terra desconhecida. Rezava com todas as forças para que não a despertasse com o toque, mas não tentava se conter. Retirou gentilmente os fios de cabelo que caíam sobre a testa de Gabriela, quase pedindo licença. Alisou sua bochecha com a ponta dos dedos. Naquele momento, desejou lembrar de Gabriela e da vida que tinham juntas. Queria não se sentir tão confusa perto dela. Era um rosto que lhe causava uma sensação boa, de conforto, mas ainda era desconhecido; como se a conhecesse de outro lugar, ou talvez de outra vida. Quis lembrar de como era tratada, de como era cuidada, e de como viviam. Quis entender como aquela garota havia despertado tanto interesse e ambições impensáveis, como casamento e filhos. Alisou seus cabelos por alguns segundos, mas algo inconsciente a movia sempre para mais; gentilmente, retirou a mão de Gabriela de suas pernas e deitou ao lado a lado, deixando os corpos frente a frente, e repousou a mão em seu peito. Sentia calafrios em pensar que poderia ser flagrada naquela cena, mas atendeu à própria vontade, que era quase um desejo - já não tão secreto. Ali ficaram, em silêncio. Camila torceu para não estar abusando da vulnerabilidade de Gabriela naquele momento, por estar dormindo, mas seguiu aos instintos; por mais que tivesse vontades que quimavan dentro dela, conflitavam com sua timidez.

Sentia o cheiro da pele de Gabriela e alisava seu braço de modo suave. Olhava sua boca e lhe parecia cada vez mais atraente. Tentou imaginar as coisas que Gabriela fazia com ela, sexualmente. Pensou em como seria o sexo com Gabriela e constatou que, se haviam chegado até ali, deveria ser bom. Constatou que tesão não era perigoso, curiosidade não era perigoso, mas as duas coisas juntas, na mesma hora, era uma bomba atômica prestes a explodir.

"Caralho, que loucura é essa!?" Pensava sozinha, sem se afastar.

Pouco tempo depois, Gabriela se moveu e despertou, percebendo que estavam perigosamente perto. Respirou fundo e fez uma menção a se afastar, se culpando pela posição em que estavam.

- Desculpa... me desculpa. - Gabriela disse, com a voz rouca.

- Não! Só... Fica assim. Não se mexe... - Camila sussurrou, segurando o rosto de Gabriela com delicadeza e impedindo que os corpos se distanciassem. - Me promete que não vai se mover.

- Eu...

- Só promete. - Olhavam-se no fundo dos olhos. Gabriela ainda não entendia direito, ou talvez só não quisesse se iludir.

- Tá bem.

Camila aproximou o seu rosto lentamente. Seus dedos alisavam os cabelos curtos da nuca de Gabriela, e acariciar aquela parte do seu corpo era espantosamente agradável. Gabriela observava, imóvel, e ouvia a respiração ofegante que vinha dos lábios entreabertos de Camila. Viu os olhos fixarem em sua boca, e sabia bem o que aquilo significava, mas pretendia cumprir a promessa de não se mover.

Você, de verdade (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora