Prejeto F.H.

Prólogo

 
 O silêncio da madrugada é quebrado pela corrida desenfreada e descompassada de Greg pelas ruas de sua vizinhança, se esgueirando pelos muros da esquina de sua casa ele se esconde por de trás de um latão de lixo para recuperar seu fôlego, sua respiração intensa causa fortes dores em seu peito, quase que queimando seus pulmões a cada inspiração.

 Escondido ele tenta se acalmar, sem tempo para pensamentos, apenas observando de canto de olho da direção de onde veio.

 Ao longe, pela rua, nada além da leve névoa da madrugada, as luzes dos postes sendo a única fonte de luz, Greg observando fixo para o fim da rua começa a sentir novamente aquela agonia que vem do centro de seu peito, como se algo estivesse o olhando, seu coração dispara novamente quando as sombras mais longínquas começam a se mexer.

 As pernas trêmulas e o frio no estômago o faz olhar para o chão onde ele se apoia fortemente com as duas mãos, tentando se manter calmo pois está escondido.

 Seus olhos se abrem lentamente ao máximo enquanto sua respiração trava com um nó em sua garganta assim que ele percebe que lentamente o latão de lixo é empurrado para frente, pelo campo de sua visão periférica ele nota a sombra por de baixo do latão sobressair em direção a ele.

 Com impulso de suas mãos e um lampejo de coragem ele sai em disparada a toda velocidade para sua casa.

 Em circunstâncias normais seria uma rápida trajetória, mas a cada passo parece que sua casa fica mais longe, no meio do jardim ele retira o mais rápido possível a sua chave do bolso, abrindo a porta o suficiente para que ele passe e logo fechando-a abruptamente quebrando a chave dentro da fechadura ao tentar tranca-la.

 Com o barulho, Nicolas, seu irmão, acorda assustado de seu sono no sofá, observando Greg subir a escadas quase como um animal de quatro patas desesperado.

 Trancado em seu quarto, Greg tenta se manter seguro, escondido entre seu armário e o canto da parede.

-Greg, o que houve

 Ele escuta seu irmão batendo na porta preocupado com ele, mais uma vez ocorre as batidas, Greg não responde, mas também não pode deixar seu irmão sozinho, na terceira vez batendo ele decide abrir a porta.

 Ao estender a mão para abrir a porta ele sente seu braço trêmulo e sem força, ele segura seu antebraço em uma tentativa de reduzir a sua tremedeira para enfim abrir a porta, ele escuta seu irmão por de trás da porta chamando por ele, ao abrir a porta nada entre seu quarto e a escadaria.

 Uma onda de escuridão toma o local deixando Greg atônito a circunstância, um calafrio percorre todo seu corpo, a luz da sala subindo a escada e se perdendo na escuridão é a única coisa perceptível, devagar ele caminha até o início da descida, a luz amarelada do abajur prestes a queimar se torna hipnotizante e até mesmo um ponto seguro, com a respiração ofegante ele começa a descer se apoiando na parede, degrau por degrau algumas vezes com o falhar das pernas ele chega até a sala.

 Olhando para cada parte do cômodo ele tenta achar seu irmão, e adentra um pouco mais na sala indo até o centro dela, ao lado do sofá finalmente ele acha seu irmão ao chão de bruços trêmulo, Greg tenta ajudar seu irmão que o toque dele tenta se desvencilhar e se afasta o máximo possível enquanto murmura algo incompreensível.

-Nico, o que houve?...Nicolas?...

  Vendo seu irmão tomando uma posição fetal e murmurando algo como um choro ele se aproxima e vira seu irmão para tentar ajuda-lo e o que ele vê o faz ir para trás, com os olhos em lágrimas Greg não acredita no que esta vendo, o rosto de seu irmão sem sua boca, como se nada tivesse ali desde seu nascimento.

 O murmúrio que ele ouvia era de seu irmão tentando falar, Nicolas estende sua mão e logo em seguida seus olhos estampam o medo ao perceber uma figura emergida das sombras se erguendo por de trás de Greg.

 Sentido inúmeros calafrios Greg se vira e fica face a face com a criatura horrenda.

 Em um movimento, apenas a escuridão!