SEGURANDO A DESCONFIANÇA PELAS MÃOS

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Kate encarou a avó por alguns instantes antes que a mulher a envolvesse com os braços. Emma ria e balançava a neta de um lado para o outro. Emma se afastou, segurou o rosto da neta com as mãos e a encarou no fundo dos olhos. Os olhos da mais velha pareciam querer se encher de lágrimas e Kate se assustou com aquela visão.

-Oh, querida, temos tanto que conversar!

***

Quando Kate era pequena, seus pais a colocaram sob cuidado dos avós.

-Você vai ficar melhor na fazenda, em Riverson.

-Mas eu não quero ir, quero ficar com você e papai, em casa!

A memória daquela tarde era muito clara, muito provavelmente devido a impressão que ficara de que a menina era um fardo gigantesco. Ela tinha apenas quatro anos, mas Katherine se sentiu culpada pela aflição dos pais e zangada por ser deixada de lado. Desde pequena, não fazer parte das decisões que eram tomadas pela família lhe parecia um absurdo. Além disso, a perda da casa em que morava, com seu quarto, seus amiguinhos e as visitas ao parque que não aconteceriam mais lhe deixaram desamparada.

Assim, a notícia de que a casa em que crescera havia sido abandonada lhe causou um aperto no peito gigantesco, como se fosse aquela criança de novo. Ela pensou no avô, que odiava mudanças bruscas, e nos animais, em Lee, os dois sozinhos enquanto Emma estava em Hogwarts. Céus, como tudo havia mudado em tão pouco tempo?

-Vovó, não estou entendendo nada! A mudança, você em Hogwarts...eu nem sabia que a senhora era professora!

-Ora, Katie, eu lhe dei aulas a vida inteira!

-Mas isso é diferente!

A mais velha suspirou e concordou com a cabeça.

-Foi necessário, querida, para nos manter seguros. –Emma encarou a neta por uns instantes antes de prosseguir- Uma das propriedades da família foi invadida, em North Yorkshire.

-Cerys Manor? Por que?

Emma abraçou o próprio corpo e começou a caminhar enquanto falava.

-Alguns dias depois da sua viagem, Sir Potter nos visitou e deu a notícia de que a residência de sua bisavó foi invadida e revirada. No entanto, não levaram nada além de uma pintura do brasão da casa Waters que ficava no antigo escritório do pai de Rudolf. Eu não sei bem o porquê, Kate, mas aquilo acendeu algum alerta na cabeça do seu avô que fez com que ele e Sir Potter sumissem por dois dias. Eu quase morri de preocupação. Foi aí que entrei em contato com Professor Dumbledore.

-Dumbledore, por que ele?

Emma a encarou e agitou as mãos no ar, dispensando aquela pergunta como irrelevante. Katherine se irritou com aquilo.

- No fim daquele dia, seu avô apareceu ao lado de Dumbledore e Sir Potter, dizendo que deixaríamos a fazenda.

-Mas o que aconteceu, de verdade?

-Eu não sei bem querida, seu avô não me contou. No entanto, quando Professor Dumbledore expôs o fato de que houve um problema na contratação do novo professor de DCAT e me convidou para lecionar, Rudolf fez questão que eu aceitasse. Só concordei alguns dias atrás, não estava segura sobre deixar seu avô para trás.

Kate cruzou os braços, analisando a avó. Emma parecia esconder alguma coisa.

-E o que mudou? O que não está me contando, avó?

A expressão de Emma mudou no mesmo instante ao ser confrontada. A mulher engoliu em seco e se afastou da neta, desviando o olhar dela.

-Seu avô recuperou o brasão dos Waters e, havia algo preso nele quando Rudolf o encontrou.

UNDER BLACK WATERSOnde histórias criam vida. Descubra agora