Tudo começou muito bem entre a gente, como sempre tem que começar, você sabe, olhares tímidos e mãos trêmulas, lembro que sempre que eu te via era como se o sol tivesse se escondido e só você brilhava, só você.
Era Março e a primavera não costumava ser meu clima do ano favorito, eu gostava mesmo era do outono, tudo parece mais poético, não que as outras estações do ano não sejam, cada uma tem seu charme, mas o outono me deixa deslumbrada, assim como quando te vi naquela manhã de primavera.
Você usava um vestido florido, talvez porque pensasse que faria sentido e usava meias de ovo frito, sim meias de ovos de galinha, eu mal pude acreditar quando as vi. Seu vestido rosa estava recheado de morangos e mesmo assim você se atreveu a usar meias tão diferentes, aquilo me seduziu no mesmo instante, não as meias, não que elas não fossem bonitas, eram adoráveis, mas eu digo que sua confiança me conquistou naquele dia.
Seu cabelo escuro dançava com o vento na medida que você andava em minha direção, lembro que mal pude respirar quando seu perfume invadiu o ar, era doce e ao mesmo tempo nada doce, uma fragrância tão misteriosa quanto você e seus olhos castanhos. Aquilo estava me levando ao delírio, eu não sabia te definir, seria possível?
Você não me disse "oi" e muito menos sorriu pra mim naquele dia, você só continuou observando as flores, as árvores e tudo ao redor, talvez você se quer tenha me notado ali parada te admirando.
Na segunda vez que te vi, caramba, você usava meias de abelha e uma camisa com um grande pote de mel estampado, eu fiquei sem reação porque você sorriu enquanto passava por mim e eu só sorri de volta, mas o que diabos eu podia fazer?
Lembro de quão maluco tudo aquilo parecia e só consegui sorrir antes de dormir lembrando da sinceridade do seu sorriso e da gentileza dos seus olhos quando me fitaram, e aquilo acabou se formando numa rotina, ir dormir pensando em você, suspirar ao te vez desfilar pelo tapete de flores da faculdade.
Eu não esperava que você viesse falar comigo naquela sexta-feira cinzenta, você parecia um pouco gripada e eu senti a preocupação bater na porta, te imaginar doente cortava o coração, me fazia suar frio, mas você disse que estava tudo bem e apenas perguntou onde ficava a farmácia mais próxima, eu expliquei e até me ofereci pra ir junto e você gentilmente aceitou e me agradeceu.
Eu não sabia, mas seria naquele dia que eu não teria mais o controle do meu coração e nem de nada do que eu sentia, eu só seria um fantoche que faria qualquer coisa que você quisesse ou mandasse, mas você nunca queria nada, você nunca quis nada mesmo que eu quisesse te dar tudo, e isso era o melhor sobre você, você só queria a minha companhia, não havia segundas intenções na vontade de estar comigo.
Talvez o meu pior erro foi não ter percebido que você era livre demais pra mim e que eu era pouco demais pra você, como quando te beijei na saída do cinema, você ficou algum tempo encarando seus tênis surrados e ficou em silêncio, pensei em me desculpar, em te pedir mil e uma desculpas, mas você retribuiu por algum tempo e me disse que não deveria criar expectativas, que éramos bons como éramos e eu acreditei, afinal, éramos mesmo.
Tudo parecia mais intenso na medida que os dias se passavam, eu fui até sua casa e até conheci seus pais, eles me adoraram segundo você. Te levei pra conhecer meu pai e meu irmão e você teve um papo super animado com eles sobre alguma coisa de futebol, eu não fazia ideia, mas te olhar falando sobre o que gostava te fazia brilhar tanto que eu nunca me senti tão grata em toda minha vida, aos poucos parecia que tudo estava onde deveria estar.
As coisas começaram a desandar no final de outubro, você dizia que eu estava te sufocando e que eu devia parar de te ligar, sendo que tudo que eu queria era te ajudar a sair do buraco em que você mesma estava se enfiando, eu só queria te estender a mão e você recusou da pior forma possível. Não respondia minhas mensagens e ignorava quando eu tentava falar, arrumou novos amigos e até um novo namorado, se desfez do passado, se desfez de mim.
Agora é Março, é inverno e faz frio, assim como a indiferença em seu olhar quando anda pelos tapete de gelo, você abandonou as meias animadas e alegres e não usa mais vestidos coloridos, seu olhar agora é baixo, você mudou.
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MARÇO
PoetryEra início da primavera quando te conheci, quando te contei meus sonhos e segredos e foi no início do inverno que você destruiu meu coração como se fosse um pedaço de gelo.